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Bandos em Belém já provocaram 16 mortes neste ano
MAURÍCIO SIMIONATO
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
N o último dia 3, o adolescente Francisco André dos Reis, 17, da gangue Barulho, voltava para a casa sozinho durante a madrugada depois de uma festa, em
Belém (PA), quando se defrontou com
membros de uma gangue rival, a Patifes
da Noite. Ele foi espancado, ferido com
golpes de gargalo de garrafa e encontrado pela polícia agonizando na rua, vestindo apenas uma cueca.
Reis, que chegou morto ao hospital, é o
16º adolescente morto só neste ano em
conflitos entre grupos rivais, em um tipo
de rixa que envolve comunicação por códigos secretos e tem se intensificado nos
últimos meses na região metropolitana
de Belém.
"Ou você briga ou corre. Mas, se correr
uma vez, terá de correr sempre. Não tem
como escapar", disse o adolescente R.J.F,
17, integrante de uma gangue com cerca
de 30 membros no bairro da Sacramenta, periferia de Belém.
"Quem entra na gangue passa a ser
considerado na área. Quando a gente vai
brigar, todos têm de ir também", explica
M.D., 15.
P.J.R., 14, conta que entrou para a gangue Vira-latas do Inferno depois de ter
apanhado de outro bando na rua. "Se
não tivesse entrado, já podia ter morrido
ou ter sido roubado várias vezes. É um
meio de me proteger. Depois que entrei
para a gangue, todo mundo passou a me
respeitar no bairro."
Ações
"A onda é "escalar" (subir em prédio ou
muro para pichar) na área da outra galera, jogar na "tela" (muro) e detonar com a
festa deles", diz R.O., 16. "A gente usa arma para se defender. Quem não estiver
armado corre risco de morrer. Na maioria das vezes, as brigas acontecem quando uma gangue invade o território da outra para pichar ou fazer uma "onda'", disse A.G.,16, que entrou para um bando há
três anos.
"Onda", na gíria das gangues, pode ser
a invasão de uma festa de outra rival ou
simplesmente pichar uma "tela" no território adversário.
"Se um deles fugir de uma briga, será
penalizado por toda a galera, termo que
eles usam para designar a gangue", explica Mário Brasil, antropólogo da UEPA
(Universidade Estadual do Pará), que estuda a organização e ação das gangues há
dez anos. A pena pode ser uma grande
surra ou a humilhação diante dos demais
integrantes.
"O adolescente entra para a gangue
com o objetivo de se tornar respeitado,
ser visualizado, ter um sentimento de poder e ser "considerado" pela galera, além
de buscar proteção. Em geral, as gangues
são formadas rapidamente e não duram
mais do que três anos cada uma", esclarece o antropólogo, que passou seis meses
acompanhando um grupo chamada Demônios Alados.
Controle
Preocupada com o acirramento entre as gangues, a Polícia Civil do Pará criou há três meses
um departamento para mapear
as cerca de 140 grupos existentes na região metropolitana.
O novo departamento, ainda
sem nome, fornecerá o catálogo das gangues para apoiar investigações policiais e fará um
trabalho preventivo com as famílias dos adolescentes identificados.
Dados preliminares da polícia indicam que pelo menos
80% dos bandos são formadas por adolescentes, cada
uma tem de 20 a 30 integrantes, a maioria dos membros
é do sexo masculino e as armas brancas, como facas ou
punhais, são as mais usadas
nas brigas.
Só no mês de março deste ano, por exemplo, o Comando do Policiamento
Metropolitano de Belém,
registrou 44 ocorrências
envolvendo gangues. Em
janeiro deste ano, foram
17 ocorrências e, em fevereiro, 23 casos.
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