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ESTANTE
Uma história banal que espelha a banalidade de nossas próprias vidas
LUÍS AUGUSTO FISCHER
COLUNISTA DA FOLHA
"Os Ratos"
Autor: Dyonélio Machado
Editora: Ática
Contato: 0/xx/11/3346-3000
Quanto: R$ 14,50
Quem consegue explicar o destino dos
livros que se tornam clássicos? Cada
um deles guarda um mistério próprio,
que confere a cada um sua aura. Olha
só "Os Ratos", escrito por Dyonélio
Machado (1895-1985) em 1934.
Um sujeito chamado Naziazeno
(atenção: tem uma "azia" aí no meio)
deve uma grana para o leiteiro -na
época em que se entregavam esses produtos de casa em casa. O fornecimento
do precioso líquido está por ser cortado, e Naziazeno tem de tomar providências. Mas ele é um cara sem iniciativa, e seu trabalho, uma irrelevância.
Ele resolve pedir emprestado; recebe
um tanto e arrisca numa roleta. Joga e
não consegue parar. No fim, volta para
casa, dorme e sonha que ratos estão
roendo o dinheiro que ele conseguiu. O
desfecho é uma surpresa.
É uma história que nos faz perceber a
banalidade do banal Naziazeno, uma
nulidade que nos irrita por sua inação.
Que nos irrita porque ele é, no fim das
contas, muito parecido com qualquer
um de nós, que suportamos a rotina da
vida e corremos para saldar as dívidas
com os leiteiros de hoje, que às vezes
têm nomes pomposos como Fundo
Monetário Internacional e que, pensando bem, nem leite nos fornecem.
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