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São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 2003

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ESTANTE

Uma história banal que espelha a banalidade de nossas próprias vidas

LUÍS AUGUSTO FISCHER
COLUNISTA DA FOLHA

"Os Ratos"
Autor: Dyonélio Machado
Editora: Ática
Contato: 0/xx/11/3346-3000
Quanto: R$ 14,50

Quem consegue explicar o destino dos livros que se tornam clássicos? Cada um deles guarda um mistério próprio, que confere a cada um sua aura. Olha só "Os Ratos", escrito por Dyonélio Machado (1895-1985) em 1934.
Um sujeito chamado Naziazeno (atenção: tem uma "azia" aí no meio) deve uma grana para o leiteiro -na época em que se entregavam esses produtos de casa em casa. O fornecimento do precioso líquido está por ser cortado, e Naziazeno tem de tomar providências. Mas ele é um cara sem iniciativa, e seu trabalho, uma irrelevância.
Ele resolve pedir emprestado; recebe um tanto e arrisca numa roleta. Joga e não consegue parar. No fim, volta para casa, dorme e sonha que ratos estão roendo o dinheiro que ele conseguiu. O desfecho é uma surpresa.
É uma história que nos faz perceber a banalidade do banal Naziazeno, uma nulidade que nos irrita por sua inação. Que nos irrita porque ele é, no fim das contas, muito parecido com qualquer um de nós, que suportamos a rotina da vida e corremos para saldar as dívidas com os leiteiros de hoje, que às vezes têm nomes pomposos como Fundo Monetário Internacional e que, pensando bem, nem leite nos fornecem.

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