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COMPORTAMENTO
Black music volta a invadir pistas de dança, moda e atitude de jovens
Novos sintomas de uma febre antiga
Jefferson Coppola/Folha Imagem
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O estudante Pedro Spessoto, 18, que deixa o cabelo black power desde que tinha 13 anos |
ANA PAULA DE OLIVEIRA
LEANDRO FORTINO
DA REPORTAGEM LOCAL
O
estudante Pedro Spessoto, 18, descobriu que deixar o cabelo crescer,
ao estilo black power, seria um dos
passos para escapar do modelo adolescente-padrão. Desde os 13 anos, ele passa longe do cabeleireiro, o que lhe rendeu madeixas de mais de dez centímetros -orgulhosamente ostentados-, crescidos para
cima com a ajuda de um pente tipo garfo.
Porém o que o deixava se sentir diferente, hoje, voltou a ser moda. Nova febre da
noite paulista, a black music americana
tem feito mais que a cabeça de boa parte
dos jovens de todos os tipos.
Influenciados pelos clipes de gente como
50 Cent, Eminem, Beyonce e Stacey Ferguson, vocalista do Black Eyed Peas, eles passaram a adotar o estilo desses artistas.
"Meu pai não gosta, fala que pareço um
mendigo. Até me gozaram, dizendo que tinha um capacete na cabeça, mas não ligo",
conta Pedro, confessando que a cabeleira é
seu diferencial para atrair garotas, "afinal,
o mercado está muito competitivo".
Apesar de não se considerar um "neoblack", entre suas influências musicais estão Marcelo D2, 50 Cent e Black Eyed Peas.
"Os clipes influenciam muito o visual,
principalmente o das mulheres. Vejo gente vestida de Beyonce e de Stacey Ferguson, do Black Eyed Peas. No final, todas se
vestem igual. A galera está assumindo o
black power, está tendo orgulho do cabelo.
É muito bom", diz o DJ Puff, 28, um dos
mais requisitados da balada paulistana.
Hoje, qualquer casa noturna que queira
a pista cheia tem de dedicar pelo menos
uma noite ao estilo black pop, de artistas
que superam a marca de 5 milhões de discos vendidos, como é o caso do cantor de
rhythm'n'blues Usher.
"Aumentou muito a procura pelo meu
trabalho, classes de alto poder aquisitivo
estão procurando a black music, que deu
um grande salto e está vendendo muito. Essas pessoas viajam muito e consomem esse
tipo de música no exterior. Querem consumir aqui também", conta Puff.
Apelidado de D2 (em alusão à cabeleira
do rapper carioca), Leonardo Lovato, 15,
sempre achou "da hora" o estilo black power. Deixou o cabelo crescer, mas o pai o
obrigou a cortar. Não desistiu, deixou crescer novamente, mas, à cada "transgressão"
cometida, seu black power é ameaçado. Assim como Pedro, seu cabelo é o grande
trunfo entre as meninas: "Teve até uma que
pediu para passar a mão nele. Muitas gostam, consideram bonito, mas já teve uma
que achou nojento", conta.
O movimento black entrou na vida de
Aliane Fátima Silva, 19, por "osmose". Ela,
que é branca com cabelos lisos, nunca foi
"com a cara" das músicas do gênero, até
que começou, há cinco anos, a namorar um
menino negro. "Antes odiava o som, mas,
de tanto ouvir o que ele ouvia, gostei." Ele
passou a levá-la a lugares em que só rolava
música black, e ela sentiu certo preconceito
de ser branca no local. "As pessoas se perguntavam "o que essa branquela está fazendo aqui?". Há gente que acha que é um som
só para negros, mas é para todos."
Alguns não vêem com bons olhos a elitização. "Virou moda. Um boy vai na balada
black por causa das meninas, e não pelo
som. É ruim porque só escutam o que a indústria fonográfica empurra goela abaixo",
diz o DJ Marquinhos da Pesada, também
vendedor de uma loja de discos black.
Entretanto, se não fosse a explosão da
black music nas paradas, muita gente nem
saberia que o movimento existe. "Sei que é
moda, mas, graças a ela, conheci o estilo e
sei que vou gostar para sempre", conta a estudante Luciana Vitale, 16, que, quando vai
a baladas black, inspira-se em Jennifer Lopez e Beyonce para compor seu visual, com
direito a calças de cintura baixa, regatas e
casaquinhos.
O DJ Jason Salles, 25, acha que a moda
veio abrir a cabeça das pessoas e concorda
que o que mais agrada ao público são as
músicas americanas. "O rap nacional ainda
é muito ligado à música de protesto. Nos
EUA, os rappers falam de dinheiro, jóias e
champanhe. Por enquanto, a gente copia
roupas e tendências, mas acho que a música vai ficar mais pop", defende Jason.
"Antes, a noite era dominada pela dance
music, mas os clubes tiveram que incluir a
black music porque o público pedia", afirma o DJ Milk, 31, produtor de um dos poucos hits nacionais, a música "Vem Dançar".
Para o antropólogo Hermano Vianna, a
mania não é de hoje nem brasileira. "O
mundo inteiro é assim. Somos todos escravos do ritmo africano. A África venceu nesse território. Os africanos foram escravizados e agora escravizam o mundo com sua
poliritmia. Devem ter descoberto uma carência fundamental da natureza humana.
Não conseguiremos parar de dançar."
Hermano vê um fenômeno que ultrapassa o território nacional. "Há música influenciada por ritmos negros, como hip
hop, drum'n'bass e house, dominando as
trilhas de filmes indianos, há meninas japonesas que se tostam em máquinas de bronzeamento artificial só para ficarem parecidas com jamaicanas, e, no Brasil, símbolos
nacionais, como samba, mulata e também
nosso estilo de futebol, são produtos da cultura negra. Não é de espantar que o black
vire moda. Sempre foi meio assim."
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