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Banda "cult" fica próxima e deixa de ser "cult"
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
Esta semana, por curiosidade, dei uma olhada nos shows que estão rolando na tranquila San Diego, extremo sul da Califórnia.
Nada muito sensacional, mas um deles chamou a atenção: o da banda nova-iorquina Interpol, dia 20 passado, no Canes Bar & Grill.
Entrei no site do tal clube (www.canesba
randgrill.com) e deu para ver que é um lugar
daqueles bem normais, de beira de praia, onde de vez em quando rolam shows ao vivo.
Mas acho que essa "normalidade" tem muito a ver com o modo como os fãs de música se
relacionam com a dita cuja (a música).
Ou seja, se o Interpol ou qualquer outro
grupo se apresenta em um lugar bacana, mas
que é pouco mais do
que o bar da esquina, então é muito
pouco provável que
esse grupo se transforme em objeto de
admiração "cult", só
para iniciados. Pelo simples fato de eles estarem ali ao lado, ao alcance de qualquer um
que os conheça (ou seja, que tenha lido sobre
eles numa revista que custa US$ 4, no máximo) e que tenha os US$ 8 ou US$ 10 do preço
do ingresso (que é o quanto custam normalmente shows independentes).
De vez em quando dou uma olhada em
blogs, esses diários on-line tão na moda, e
sempre acho o de algum brasileiro que mora
no exterior . Mais de uma vez encontrei descrições de shows a que os brazucas tinham assistido e me diverti com a "floreada" que o
pessoal dá na história.
Tipo assim: "Era uma luz fraca no fim de
um beco imundo. Movendo-se em meio ao
esgoto e às ratazanas enfurecidas, eu e meus
amigos, cada um com uma lata de cerveja da
Eslovênia nas mãos, chegamos ao local do
show. No clube, fétido, tivemos minutos de
epifania ao ver, se esgoelando no palco, a banda que vai mudar o mundo: The Stovenchosky Hellmakers".
Claro que o parágrafo acima é fictício, nunca li nada exatamente assim. Mas que já vi
muita coisa parecida, isso eu já vi.
Na verdade, todo esse clima de aventura é
exagero puro. Toda cidade importante dos
EUA tem quatro ou cinco clubes, geralmente
em localização central. E a lista de shows está
disponível em jornais semanais que são distribuídos grátis em máquinas de rua. Quer dizer: mais fácil, impossível.
Lembro de quando os Strokes estavam começando, já eram muito falados nos círculos
"indie" e foram tocar em San Francisco, onde
eu morava. Paguei US$ 8 pelo ingresso (mixaria para os padrões locais), e não tinha nem fila
na entrada. A capacidade do clube era de menos de 300 pessoas. Moleza, não é?
Por causa de viagem com previsão de 29 horas
de trabalho diárias que farei na semana que
vem, estarei ausente deste espaço na próxima
segunda. Se tudo der certo (toc-toc-toc) , daqui a 15 dias, "Escuta
Aqui" volta com força total, contando as
novidades da costa
esquerda dos EUA.
Alalaô!
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