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São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2003

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RAINHAS DOS GIBIS

HQs japonesas desbancam as super-heroínas ocidentais na preferência das garotas

Manga Rosa

Tuca Vieira/Folha Imagem
Anita Cavaleiro de Macedo, 15, que tem mais de cem exemplares de histórias em quadrinhos


ADRIANA FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Se depender das garotas, as heroínas de quadrinhos que se apertam em roupinhas minúsculas, entre elas, bonitonas clássicas como a Mulher-Maravilha e Vampirella ou mesmo a anti-heroína Elektra, estão com os dias contados.
Isso não quer dizer que as moças não se interessem por HQs, muito pelo contrário. É que, dos anos 90 para cá, meninas de todas as idades correram para as bancas encantadas pelos olhos grandes e aflitas para descobrir qual a nova aventura de seu personagem favorito de mangá.
Desde que começaram a ser editados no país, os quadrinhos japoneses conquistaram milhares de fãs e estouraram entre as meninas, principalmente porque são como novelinhas, com começo, meio e fim, e têm histórias muito próximas às de seu dia-a-dia.
As personagens dos mangás "Sakura Card Captors" (JBC Editora) e "Fushigi Yûgi" (Conrad), por exemplo, são as preferidas de Juliana Fernandes, 15. "São meninas mais ou menos da minha idade e com problemas parecidos", conta ela.
E que tretas são essas que acontecem com garotas do outro lado do mundo e com as daqui? "A Sakura tem dificuldade em aprender matemática, como eu, mas no final ela acaba passando de ano. Eu também", explica Juliana.
Antes de conhecer os mangás, a maioria era fã de personagens da Turma da Mônica. Marcela S. Peris, 15, tinha uma coleção "gigantesca" dos personagens de Maurício de Souza, mas acabou trocando Mônica, Magali e companhia pelos esquisitos Pokémons, quando o "anime" (desenhos animados japoneses) estreou na TV.
Compartilhar o gosto pelos quadrinhos pode ser um problema. "Os outros zoam muito, acham que gostar de animação é a mesma coisa que gostar de Pikachu", reclama Marcela que, além de sua melhor amiga, Sara, conversa sobre as HQs com os colegas que fez participando de fóruns na internet.
Além da rede, são em encontros como o "Animecom" que as garotas têm a chance de cruzar com outras que, como elas, empenham parte da mesada em HQs. Esperados o ano inteiro, os festivais são ocasiões especiais. É a hora de tirar do armário a peça preparada para o "Cos Play" (do inglês "costume play"), ou seja, a fantasia que vai deixá-la igual ao personagem predileto.
Desde janeiro, Lilian Stocco prepara sua roupa de Sakura e a de outros sete amigos, para o evento de 2003. "É a melhor sensação do mundo, as pessoas lhe idolatram quando você chega ao festival", conta Lilian. Ela compra de dez a 15 HQs por mês e, de sua coleção com mais de 800 revistas, 250 são mangás.
Lilian também tem CDs com as trilhas sonoras dos "animes", assiste a alguns desenhos animados falados em japonês e já sabe algumas frases no idioma. "É como o inglês, com o tempo você se acostuma", afirma.
Poucas são as que como Anita Cavaleiro de Macedo, 15, gostam de quadrinhos da velha-guarda. No caso dela, os escolhidos são os da Marvel, como Homem-Aranha e os X-Men. Anita lê HQs desde os dez anos e chega a gastar 60% de sua mesada comprando de quatro a cinco revistas por mês. "Tenho cento e poucos quadrinhos e gosto muito dos personagens do Neil Gaiman (autor do clássico "Sandman")", conta.
Mesmo ela não resistiu aos mangás e "animes". Seus preferidos são os que tratam de histórias de vampiros como "Vampires Princess Miyu", "Vampire Hunter T" e "Blood -The Last Vampire".
Anita também desenha e já criou seu próprio personagem, um vampiro que se alimenta de energia.
Além do universo mangá, uma nova febre entre as garotas é a revista "Witch" (publicada pela Abril), que traz a história de cinco bruxinhas. Quando "não tem nada para fazer", Luiza Nestlehoner, 12, acompanha as peripécias das cinco meninas. "Antes não ligava muito, mas agora já tenho mais de cem gibis", diz Luiza.


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