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DROGAS
Médicos dizem que nem sempre internação é o melhor
Cresce a procura por tratamento
DA REPORTAGEM LOCAL
Com a discussão sobre dependência química levantada pela falecida novela "O Clone", de Glória
Perez, vista por até 36 milhões de
pessoas ao mesmo tempo, os principais serviços de informação sobre
drogas tiveram um salto de procura por parte de pais que pediam
orientação e de jovens que buscavam indicações de clínicas de tratamento para o problema.
Só na Senad (Secretaria Nacional
Antidrogas) a média mensal de ligações passou de 750 para mais de
4.500 nos últimos dois meses. O
Conselho Estadual de Entorpecentes de São Paulo apontou também
um aumento de mais de 100% na
procura do serviço, especialmente
por jovens.
"A novela serviu de campanha, o
que dificilmente conseguiríamos
realizar", admite Paulo Roberto
Uchôa, 61, secretário nacional antidrogas, que divulgou na semana
passada o primeiro levantamento
domiciliar sobre o uso de drogas
psicotrópicas, feito pelo Cebrid
(Centro Brasileiro de Informações
sobre Drogas).
No despertar para o tratamento
da dependência, é preciso cuidado
na hora de eleger uma clínica ou
um profissional.
"Há estabelecimentos bem-intencionados mas, como em quase
tudo, há também os mal-intencionados", alerta Arthur Guerra, 48,
do Grea (grupo de estudos de drogas do Hospital das Clínicas).
Segundo Ronaldo Laranjeira, psiquiatra da Universidade Federal de
São Paulo e coordenador da Rede
Estadual de Apoio a Médicos Dependentes Químicos, nos últimos
dez anos houve uma explosão no
consumo de drogas e na busca de
ajuda. "Ainda há profissionais pouco aparelhados para lidar com o
problema", diz.
"Muitas clínicas se baseiam na internação do paciente. O dependente mal bate na porta e já é internado, e a maioria dos usuários não
necessita disso. Os casos de internação são a exceção da exceção. O
tratamento ambulatorial é o mais
indicado", esclarece.
Laranjeira, que integra uma comissão da Senad que pretende estabelecer os critérios de qualidade
dos centros de tratamento, também chama a atenção para as clínicas que baseiam seu tratamento em
ex-usuários. "Eles têm conhecimento limitado do problema e podem ser bons só em alguns casos."
Sua dica é que um familiar ou o
próprio dependente pergunte ao
profissional que o trata que tipo de
especialização ele tem em dependência química. Há ainda os serviços telefônicos da Senad (0800-61
43 21) e dos Conselhos Estaduais
Antidrogas, que podem indicar clínicas e ambulatórios de tratamento, assim como serviços públicos,
como o do Hospital das Clínicas e o
da Escola Paulista de Medicina.
Caminho das pedras
Segundo dados da pesquisa do
Cebrid, realizada nas 107 maiores
cidades do país, mais de 1,2 milhão
de jovens entre 12 e 24 anos já experimentaram maconha no Brasil.
Entre eles, cerca de 280 mil são considerados dependentes.
Se a novela fosse como a vida real,
quase todos eles passariam da maconha para a cocaína e daí para o
crime. Jogo pesado.
"Pode não acontecer nada. Mas
nem todos têm essa sorte", diz Raul
Pinto, diretor-executivo da Associação Parceria Contra as Drogas.
Segundo Laranjeira, a polêmica
história de que a maconha é a porta
de entrada para outras drogas não
se deve a "uma reação farmacológica", mas a uma "influência social".
"Quem nunca experimentou maconha tem menos chances de experimentar outras drogas do que
quem a consome", explica. E o estudante Hideki Katsumata, 18, sabe
disso muito bem.
Aos 13 anos, experimentou maconha com os novos amigos de um
condomínio no Rio de Janeiro, onde morava. Dois anos depois, no interior de São Paulo, foi apresentado
à cocaína, e passou a usá-la diariamente. Aos 17, depois de muitas
confusões e de dois anos perdidos
na escola, foi internado pela família
em uma clínica. "A crise de abstinência é muito forte. Quebrei toda
uma clínica e fui levado à força para
outra. Não achava aquilo justo."
Depois de oito meses de tratamento, Hideki diz que entrou no
mundo "mais velho". "Criei o Provim, Projeto Vida Melhor (tel. 0/
xx/11/4427-3169), no qual dou palestras. Minha história serve para
ajudar outras pessoas", diz.
"Comecei a usar drogas na alta
sociedade carioca e terminei nas
ruas do centro de São Paulo. Ainda
tenho sequelas, surtos de perseguição e coisas assim. Só não consigo é
ficar de braços cruzados diante desse problema."
(FERNANDA MENA)
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