São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 2005

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MODA

Conheça as tendências, os cuidados e a opinião de quem já fez tatuagem e gostou e também a de quem se arrependeu

Fora do gueto

LUCIANA PAREJA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No início dos anos 80, tatuagem no Brasil era coisa reduzida às zonas portuárias. Vinda de navio, em 1974, com o dinamarquês Luke, essa arte corporal abriu espaço entre a galera mais ousada, virou moda entre os descolados e hoje se popularizou de tal maneira que, se bobear, até seus pais já têm uma.
O público jovem, de até 25 anos, é maioria entre os que se tatuam. Quem vai se tatuar pela primeira vez, no entanto, precisa estar atento a uma série de fatores.
Há vários estilos. "Tem o tribal, o oriental, a new school, a old school, trabalho realista, barroco, uma infinidade", diz Sérgio Maciel, 43 anos, mais conhecido como Led's. Nos últimos tempos, a procura maior tem sido por kanjis (ideogramas japoneses), estrelas e borboletas para as meninas, sol para os meninos e escrita para ambos. "As estrelas começaram com a Mel Lisboa em "Presença de Anita'", concorda a tatuadora Fernanda Lourençon, 24.
Mas tatuagem não é brincadeira. É para o resto da vida, e as técnicas de remoção não conseguem resultado perfeito. É preciso ter muita certeza do desenho, da parte do corpo escolhida e ir a um bom profissional, que respeite os procedimentos de higiene. "Muitas vezes o jovem não pensa que ele não está cortando o cabelo, que cresce depois. Não é fácil cobrir, não é fácil tirar", diz Led's.
Que o diga Alessandro Tavares, 20 anos e nove tatuagens. Ele quer tirar a primeira, um código de barras no pulso. Alessandro fez essa tattoo escondido dos pais, aos 13. Menor de idade só se tatua com a autorização dos pais, acima dos 16 anos. No Estado de São Paulo, nem com autorização pode, tem que ser maior mesmo. "Fui inconseqüente. É ruim você fazer sem autorização, geralmente fica uma porcaria, e essa fase do adolescente é de se descobrir, então, de repente, ele está numa tribo, mas depois vê que aquilo não é o que ele quer."
O estúdio de tatuagem deve ser como uma clínica: além de instalações limpas, deve ter uma estufa para a esterilização da pistola, as agulhas devem ser descartáveis, e o tatuador deve usar luvas de látex e fazer a higienização da parte do corpo em que a tatuagem será feita. Tudo para evitar reações alérgicas e contaminação por doenças transmitidas pelo sangue, inclusive a Aids.
O jeito, então, é esperar a idade chegar. "Meus clientes são quase todos de 18, 19 anos. Tem gente que vai se tatuar no dia do aniversário, quando completa 18", conta a tatuadora da Galeria do Rock (SP) Patrícia Mantoan, 32. Ela tem um monte de tatuagens: fadinhas em estilo mangá (quadrinhos japoneses), desenhos meigos com estrelinhas, um sorvete gigante, um Keroopi (o sapinho amigo da Hello Kitty).
Outro ponto a se considerar é que tipo de profissão você vai seguir. Apesar de o preconceito ter diminuído, não dá pra fechar o braço com tatuagem se você for trabalhar em uma área como advocacia ou medicina.
Há um padrão de comportamento entre a galera que faz mais de uma tatuagem, conta Led's: "Quando você vai fazer a primeira, você quer uma coisa pequena para testar a reação das pessoas, vai quebrar um tabu, vai assumir um compromisso, encarar a família, as pessoas e aquela coisa de "será que vou conseguir enfrentar a dor?". [Da segunda vez] vem "agora eu quero fazer maior, é tranqüilo, o pessoal curtiu". Você vai cada vez mais curtindo a tatuagem".
Portanto, não é preciso ter pressa para se tatuar. Seus pais não deixaram? Você mora em São Paulo? Não tem certeza do desenho? Aproveite enquanto ainda não completou 18 anos pra pensar se a vontade é forte mesmo ou se não passa de empolgação de momento, para escolher o desenho que tem mais a ver com você e para juntar uma grana razoável e ir a um bom profissional. Afinal, é uma obra de arte pra vida toda, e a tela, no caso, é você.


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