São Paulo, segunda-feira, 25 de julho de 2005

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MÚSICA

O Folhateen subiu a serra e foi ver como são os dias e os ensaios dos jovens músicos que ganharam bolsa para participar do Festival de Inverno de Campos do Jordão

A montanha mágica

Leonardo Wen/Folha Imagem
Jessica Takamoto Apolinário, 13, segura trompa em concerto durante festival


LUCRECIA ZAPPI
DA REPORTAGEM LOCAL

Haja fôlego. Depois de testes disputadíssimos em abril, a turma subiu a serra. O 36º Festival de Inverno de Campos do Jordão, que vai até o próximo domingo, é uma festa para um monte de jovens músicos -são 182 ao todo, entre 12 e 32 anos- que receberam bolsa de estudos para freqüentar o festival de música clássica mais famoso do Brasil.
O espírito competitivo está em todos os cantos do Preventório, onde ocorrem as aulas. Todas as tardes, no prédio que já serviu de sanatório para tuberculosos, músicos disputam um cantinho para estudar. Vale até um banheiro ou uma escadaria.
O aquecimento começa de manhã. No ensaio da Orquestra Acadêmica, alunos e professores dividem a mesma partitura, empacotados em gorros e cachecóis.
O silêncio no auditório Cláudio Santoro se quebra com o som do trompete de Renato Martins Longo, 18. São as primeiras notas de "Quadros de uma Exposição", de Mussorgsky. "Na hora de fazer o solo, eu não fico nervoso. Estudei bastante, e a orquestra passa confiança para mim", conta Renato.
O ensaio da orquestra, que dura cerca de três horas por dia, muitas vezes é acompanhada pelo técnico de gravação alemão Jakob Händel, que veio especialmente para gravar o CD do festival, como fez no ano passado.
A parafernália acústica também serve para alunos que aprendem técnica de gravação, o curso-novidade desse ano, organizado por ele, Jakob: "Para 90% das pessoas, essa é a primeira gravação de suas vidas. Quando o Roberto diz "gravação", sente-se uma certa pressão no ar, mas uma das melhores coisas é que os músicos podem ouvir a si mesmos depois".
Aqui, ter frio na barriga é normal. Tocar pela primeira vez numa orquestra de alto nível, regida por Roberto Minczuk, que acaba de ser nomeado regente da Orquestra Sinfônica Brasileira, ou por Kurt Masur, diretor musical da Orquestra Nacional da França e regente titular da Filarmônica de Londres, é, para a grande maioria dos músicos jovens, "o" desafio.
Assim como Renato, que diz só tirar o trompete da boca às dez da noite, Jéssica Takimoto Appolinário, 13, se esforça bastante. "Minha boca já está machucada porque a gente toca o dia inteiro." Ela conta que fez amigos no evento e que gosta da trompa pela sua sonoridade. "O som é grande", diz a menina que, segundo ela, "ouve de tudo", de MPB a rock.
O mascote da orquestra, o violinista Victor Gonzalez Bigai, 12, participa pela primeira vez. E não se intimida. Disputa com os mais velhos as escadarias do Preventório para estudar, enquanto não entra em classe, e diz que o festival vale a pena porque, então, faz o que gosta, tocar violino.
Mesmo com apenas cinco anos de estudo do instrumento, Victor dá dica de veterano para enfrentar o "susto" de tocar para grandes regentes: "Quando eu fico nervoso é só comer uma bananinha. Daí passa a tremedeira", diz Victor.


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