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MÚSICA
O Folhateen subiu a serra e foi ver como são os dias e os
ensaios dos jovens músicos que ganharam bolsa para
participar do Festival de Inverno de Campos do Jordão
A montanha mágica
Leonardo Wen/Folha Imagem
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Jessica Takamoto Apolinário, 13, segura trompa em concerto durante festival |
LUCRECIA ZAPPI
DA REPORTAGEM LOCAL
Haja fôlego. Depois de testes disputadíssimos em abril, a turma subiu a
serra. O 36º Festival de Inverno de
Campos do Jordão, que vai até o próximo
domingo, é uma festa para um monte de jovens músicos -são 182 ao todo, entre 12 e
32 anos- que receberam bolsa de estudos
para freqüentar o festival de música clássica
mais famoso do Brasil.
O espírito competitivo está em todos os
cantos do Preventório, onde ocorrem as
aulas. Todas as tardes, no prédio que já serviu de sanatório para tuberculosos, músicos disputam um cantinho para estudar.
Vale até um banheiro ou uma escadaria.
O aquecimento começa de manhã. No ensaio da Orquestra
Acadêmica, alunos e professores
dividem a mesma partitura, empacotados em gorros e cachecóis.
O silêncio no auditório Cláudio
Santoro se quebra com o som do
trompete de Renato Martins
Longo, 18. São as primeiras notas
de "Quadros de uma Exposição",
de Mussorgsky. "Na hora de fazer o solo, eu não fico nervoso. Estudei
bastante, e a orquestra passa confiança
para mim", conta Renato.
O ensaio da orquestra, que dura cerca
de três horas por dia, muitas vezes é
acompanhada pelo técnico de gravação
alemão Jakob Händel, que veio especialmente para gravar o CD do festival, como fez no ano passado.
A parafernália acústica também serve
para alunos que aprendem técnica de gravação, o curso-novidade desse ano, organizado por ele, Jakob: "Para 90% das pessoas,
essa é a primeira gravação de suas vidas.
Quando o Roberto diz "gravação", sente-se
uma certa pressão no ar, mas uma das melhores coisas é que os músicos podem ouvir
a si mesmos depois".
Aqui, ter frio na barriga é normal. Tocar
pela primeira vez numa orquestra de alto
nível, regida por Roberto Minczuk, que
acaba de ser nomeado regente da Orquestra Sinfônica Brasileira, ou por Kurt Masur,
diretor musical da Orquestra Nacional da
França e regente titular da Filarmônica de
Londres, é, para a grande maioria dos músicos jovens, "o" desafio.
Assim como Renato, que diz só tirar o
trompete da boca às dez da noite, Jéssica
Takimoto Appolinário, 13, se esforça bastante. "Minha boca já está machucada porque a gente toca o dia inteiro." Ela conta
que fez amigos no evento e que gosta da
trompa pela sua sonoridade. "O som é
grande", diz a menina que, segundo ela,
"ouve de tudo", de MPB a rock.
O mascote da orquestra, o violinista Victor Gonzalez Bigai, 12, participa pela primeira vez. E não se intimida. Disputa com
os mais velhos as escadarias do Preventório
para estudar, enquanto não entra em classe,
e diz que o festival vale a pena porque, então, faz o que gosta, tocar violino.
Mesmo com apenas cinco anos de estudo
do instrumento, Victor dá dica de veterano
para enfrentar o "susto" de tocar para grandes regentes: "Quando eu fico nervoso é só
comer uma bananinha. Daí passa a tremedeira", diz Victor.
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