São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CAPA

Veteranos revelam história do funk carioca

Os precursores Gerson King Combo e DJ Marlboro falam o que mudou no movimento

DA REPORTAGEM LOCAL

O funk de hoje guarda pouca semelhança com o ritmo que tomou conta do Rio de Janeiro na década de 70. E num país que sofre de amnésia, nem todos os funkeiros de agora sabem que um dos grandes nomes que sustentaram o início do funk no país foi Gerson King Combo, chamado de "James Brown brasileiro".
De lá para cá, o ritmo ganhou uma nova roupagem, batidas eletrônicas e letras que divergem do movimento Black Rio dos anos de ouro do funk. É outra música que ganhou força nos bailes da periferia carioca.
Os bailes funk no estilo atual surgiram no início dos anos 80, com a explosão do Miami Bass no Brasil. "Esse som fez sucesso aqui antes de estourar nos Estados Unidos", diz o DJ Marlboro, um dos principais nomes do ritmo e autor do livro "Funk no Brasil".
Ele explica que o Miami Bass tem entre 127 e 132 bpm (batidas por minuto) e uma sonoridade grave (daí o "bass", grave em inglês). "O funk tocado no Brasil é esse, diferente daquele que era feito por James Brown e outros artistas nos anos 60. É totalmente eletrônico, com bateria eletrônica e sampler de vozes."
Até 1989, diz Marlboro, as músicas dos bailes, que rolavam principalmente na periferia do Rio, eram todas internacionais. Nesse ano, o DJ lançou vários artistas na coletânea "Funk Brasil Volume 1", com faixas como "Melô da Mulher Feia" e "Melô do Bêbado".
"Lancei o disco porque precisávamos de ídolos para representar a música na TV e nas rádios. Queria ampliar o alcance do funk para outras faixas etárias, não apenas adolescentes, e classes sociais", coloca o DJ. No início dos anos 90, a produtora e gravadora Furacão 2000 começou a lançar CDs também.
Antes do Miami Bass, esses bailes já rolavam no Rio. Segundo o DJ Marlboro, tudo começou nos anos 60 com os primeiros bailes com som mecânico do Brasil, que aconteciam no Canecão, sob o comando de Big Boy e Ademir Lemos. O som era rock e soul.
Depois, vários produtores começaram a levar os bailes para o subúrbio e, então, houve a separação entre os bailes de rock (conhecido como baile das cocotas) e de soul (baile black). "Nos bailes black surgiu o movimento Black Rio, com nomes como Tony Tornado e Gerson King Combo", explica Marlboro.
Aos 56 anos, Gerson King Combo é um dos precursores do funk e do rap nacional devido a suas falas improvisadas sobre uma base dançante nos anos 70. Ele é reverenciado por ter cantado temas sociais de afirmação da cultura negra brasileira em plena ditadura militar.
Mas o que será que o funk de hoje guarda do soul de Gerson King Combo? "Nada. Nosso trabalho era apurado, sofisticado, social. O funk atual não tem compromisso com nada", explica. Mas ele aproveita e pega carona no sucesso do funk e prepara uma volta glamourosa aos palcos depois do lançamento de um novo CD.
(AUGUSTO PINHEIRO E FERNANDA MENA)



Texto Anterior: Proibidão: Funk com cérebro
Próximo Texto: Cartas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.