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Blondie volta e ressuscita anos 80
ANDRÉ BARCINSKI
especial para a Folha, de Nova York
Alegria, alegria: o Blondie está de
volta, e em boa forma. Dezessete
anos depois de uma separação que
até hoje ninguém explicou muito
bem, no auge da fama, a banda
mais famosa da new wave está de
volta com um novo álbum, ""No
Exit", e com a promessa de uma
turnê mundial que deve passar, finalmente, pelo Brasil.
A formação ressuscitada do
Blondie inclui todos os membros
originais da banda: Debbie Harry
(vocais), Chris Stein (guitarra),
Clem Burke (bateria) e Jimmy Destri (teclados).
Eles garantem que não se trata de
mais um desses projetos musicais
nostálgicos, armados com o único
objetivo de faturar um trocado.
""Estamos de volta para valer", diz
Clem Burke. As brigas de 1982,
quando resolveram se separar por
causa de problemas de saúde de
Chris Stein, então namorado de
Debbie Harry, estão superadas.
Em Nova York, os quatro receberam a imprensa para uma entrevista em que falaram da carreira do
Blondie, do novo disco, e dos planos para o futuro.
Folha - O que vocês estão achando da repercussão do novo álbum?
Clem Burke - Estou muito contente. O álbum tem recebido críticas muito positivas e está vendendo muito bem.
Chris Stein - Para falar a verdade,
estou surpreso, especialmente
com a repercussão na Europa. Os
europeus parecem realmente felizes por nos ver de volta à ativa.
Acho que estamos sendo mais
apreciados pelo público europeu
do que pelos americanos, o que é
curioso.
Folha - Por que você acha que isso está acontecendo?
Stein - Não sei. Acho que os europeus são menos cínicos e têm mais
gosto do que os americanos.
Jimmy Destri - Isso é verdade.
Existem muitos casos de artistas
fabulosos que fizeram muito sucesso na Europa, mas que demoraram para ser aceitos nos EUA, como David Bowie, T-Rex, Roxy Music, a lista é imensa.
Folha - Vocês mencionaram o cinismo do público americano. Vocês acham que a volta do Blondie
pode ser interpretada como uma
manobra puramente comercial?
Burke - Nós estávamos bastante
preocupados com isso. Não queríamos que as pessoas achassem
que nós estávamos voltando apenas por dinheiro. O que todo mundo tem de entender é que somos
todos músicos profissionais, trabalhamos há mais de 20 anos com
música, nos damos bem um com o
outro e é natural que tenhamos curiosidade e vontade de trabalhar
juntos de novo. Fazer um disco dá
um trabalhão, e acho que nós fizemos um disco excelente.
Debbie Harry- O que conta, no
fim da história, é se as pessoas gostam ou não do disco, e parece que
elas estão gostando.
Folha - De todos os grupos de
punk e new wave que surgiram na
mesma época que o Blondie, como
Ramones, Talking Heads e Television, vocês são disparado os mais
populares. A que atribuem esse sucesso?
Stein - Acho que a principal qualidade do Blondie foi a de nunca ter
se prendido a um único estilo.
Nossa música era uma mistura de
tudo o que estávamos ouvindo no
rádio durante os anos 70, e naquela
época o rádio tocava de tudo.
Burke - Não dá para esquecer
também que nós tínhamos a Debbie, que é uma presença formidável.
Destri - Isso é verdade. Acho que
a gente nunca chegaria a lugar algum sem a Debbie. Ela virou um
símbolo da banda.
Debbie - Nós nunca quisemos ficar presos ao punk rock. Éramos
todos pessoas curiosas, com interesse em vários gêneros musicais,
era natural que tentássemos explorar isso em nosso trabalho.
Folha - Vocês não sofreram preconceito dos punks quando começaram a experimentar com discoteca, como em ""Heart of Glass""?
Debbie - Não, de jeito nenhum. A
cabeça das pessoas era bem aberta
naquela época. Nós estávamos ouvindo muito a trilha sonora de ""Os
Embalos de Sábado à Noite", queríamos fazer algo naquela linha.
Burke - Também estávamos muito influenciados por Kraftwerk
(banda alemã pioneira da música
eletrônica).
Stein - Para você ver como música não deveria ter fronteiras ou limites: alguém acreditaria, em
1974, que uns alemães branquelos
como o Kraftwerk pudessem vir a
ter tanta influência no rap, por
exemplo? Mas é a pura verdade!
Folha - Qual a principal contribuição do Blondie para a música pop?
Burke - Sem brincadeira? A principal contribuição do Blondie é a
Debbie. Ela mudou muita coisa na
indústria da música.
Stein - É verdade. Assim como
Madonna, Debbie serviu como
exemplo para um monte de mulheres e abriu a porta para muita
gente.
Folha - A pergunta inevitável:
quando é que o Blondie vai tocar
no Brasil?
Burke - Vamos dessa vez, com
certeza. Nós já tocamos em tantos
lugares, mas nunca estivemos no
Brasil, o que é uma vergonha.
Destri - Todo mundo que toca no
Brasil adora o lugar. E a música
brasileira está se tornando cada
vez mais popular por aqui.
Debbie - Eu quero passar o Ano
Novo no Brasil. Um amigo me
contou que, na noite de réveillon,
na Bahia, as pessoas se vestem de
branco e jogam flores no mar. Isso
me parece maravilhoso. Quero ir
para lá de qualquer jeito este ano.
Também me falaram que a festa
dura a noite inteira e que a empolgação do pessoal é impressionante.
É disso mesmo que eu preciso.
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