São Paulo, Segunda-feira, 26 de Abril de 1999
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Blondie volta e ressuscita anos 80

ANDRÉ BARCINSKI
especial para a Folha, de Nova York

Alegria, alegria: o Blondie está de volta, e em boa forma. Dezessete anos depois de uma separação que até hoje ninguém explicou muito bem, no auge da fama, a banda mais famosa da new wave está de volta com um novo álbum, ""No Exit", e com a promessa de uma turnê mundial que deve passar, finalmente, pelo Brasil.
A formação ressuscitada do Blondie inclui todos os membros originais da banda: Debbie Harry (vocais), Chris Stein (guitarra), Clem Burke (bateria) e Jimmy Destri (teclados).
Eles garantem que não se trata de mais um desses projetos musicais nostálgicos, armados com o único objetivo de faturar um trocado. ""Estamos de volta para valer", diz Clem Burke. As brigas de 1982, quando resolveram se separar por causa de problemas de saúde de Chris Stein, então namorado de Debbie Harry, estão superadas.
Em Nova York, os quatro receberam a imprensa para uma entrevista em que falaram da carreira do Blondie, do novo disco, e dos planos para o futuro.

Folha - O que vocês estão achando da repercussão do novo álbum?
Clem Burke -
Estou muito contente. O álbum tem recebido críticas muito positivas e está vendendo muito bem.
Chris Stein - Para falar a verdade, estou surpreso, especialmente com a repercussão na Europa. Os europeus parecem realmente felizes por nos ver de volta à ativa. Acho que estamos sendo mais apreciados pelo público europeu do que pelos americanos, o que é curioso.
Folha - Por que você acha que isso está acontecendo?
Stein -
Não sei. Acho que os europeus são menos cínicos e têm mais gosto do que os americanos.
Jimmy Destri - Isso é verdade. Existem muitos casos de artistas fabulosos que fizeram muito sucesso na Europa, mas que demoraram para ser aceitos nos EUA, como David Bowie, T-Rex, Roxy Music, a lista é imensa.
Folha - Vocês mencionaram o cinismo do público americano. Vocês acham que a volta do Blondie pode ser interpretada como uma manobra puramente comercial?
Burke -
Nós estávamos bastante preocupados com isso. Não queríamos que as pessoas achassem que nós estávamos voltando apenas por dinheiro. O que todo mundo tem de entender é que somos todos músicos profissionais, trabalhamos há mais de 20 anos com música, nos damos bem um com o outro e é natural que tenhamos curiosidade e vontade de trabalhar juntos de novo. Fazer um disco dá um trabalhão, e acho que nós fizemos um disco excelente.
Debbie Harry- O que conta, no fim da história, é se as pessoas gostam ou não do disco, e parece que elas estão gostando.
Folha - De todos os grupos de punk e new wave que surgiram na mesma época que o Blondie, como Ramones, Talking Heads e Television, vocês são disparado os mais populares. A que atribuem esse sucesso?
Stein -
Acho que a principal qualidade do Blondie foi a de nunca ter se prendido a um único estilo. Nossa música era uma mistura de tudo o que estávamos ouvindo no rádio durante os anos 70, e naquela época o rádio tocava de tudo.
Burke - Não dá para esquecer também que nós tínhamos a Debbie, que é uma presença formidável.
Destri - Isso é verdade. Acho que a gente nunca chegaria a lugar algum sem a Debbie. Ela virou um símbolo da banda.
Debbie - Nós nunca quisemos ficar presos ao punk rock. Éramos todos pessoas curiosas, com interesse em vários gêneros musicais, era natural que tentássemos explorar isso em nosso trabalho.
Folha - Vocês não sofreram preconceito dos punks quando começaram a experimentar com discoteca, como em ""Heart of Glass""?
Debbie -
Não, de jeito nenhum. A cabeça das pessoas era bem aberta naquela época. Nós estávamos ouvindo muito a trilha sonora de ""Os Embalos de Sábado à Noite", queríamos fazer algo naquela linha.
Burke - Também estávamos muito influenciados por Kraftwerk (banda alemã pioneira da música eletrônica).
Stein - Para você ver como música não deveria ter fronteiras ou limites: alguém acreditaria, em 1974, que uns alemães branquelos como o Kraftwerk pudessem vir a ter tanta influência no rap, por exemplo? Mas é a pura verdade!
Folha - Qual a principal contribuição do Blondie para a música pop?
Burke -
Sem brincadeira? A principal contribuição do Blondie é a Debbie. Ela mudou muita coisa na indústria da música.
Stein - É verdade. Assim como Madonna, Debbie serviu como exemplo para um monte de mulheres e abriu a porta para muita gente.
Folha - A pergunta inevitável: quando é que o Blondie vai tocar no Brasil?
Burke - Vamos dessa vez, com certeza. Nós já tocamos em tantos lugares, mas nunca estivemos no Brasil, o que é uma vergonha.
Destri - Todo mundo que toca no Brasil adora o lugar. E a música brasileira está se tornando cada vez mais popular por aqui.
Debbie - Eu quero passar o Ano Novo no Brasil. Um amigo me contou que, na noite de réveillon, na Bahia, as pessoas se vestem de branco e jogam flores no mar. Isso me parece maravilhoso. Quero ir para lá de qualquer jeito este ano. Também me falaram que a festa dura a noite inteira e que a empolgação do pessoal é impressionante. É disso mesmo que eu preciso.


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