São Paulo, Segunda-feira, 26 de Abril de 1999
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eles tecem o futuro
"Conversa e diálogo ainda é o que falta para os jovens hoje" Cidadania, jovens e mercado de trabalho ocupam o dia-a-dia de Daniel Cara, 21, que também trabalha com deficientes. Leia sua história na série de reportagens sobre jovens com experiências solidárias

QUEM É ELE?
Nome: Daniel Tojeira Cara Idade: 21 anos Nível de escolaridade: 4º ano de ciências sociais na USP Profissão: técnico em informática Atividades: é sócio-fundador do Napes (Núcleo de Ação e Pesquisa em Economia de Solidariedade); dá aulas para deficientes; é presidente do centro acadêmico da faculdade de ciências sociais; é coordenador da ComissãoPró-Fórum Nacional de Juventude, integra o Fórum de Organizações Juvenis da Cidade de São Paulo e a Rede Jovem da Reportagem Local

Estudar ciências sociais, trabalhar como técnico de informática, dar palestras sobre mercado de trabalho e juventude, aulas de futebol e cidadania para deficientes, participar de fóruns juvenis, da Rede Jovem, tudo isso está no sangue de Daniel Tojeira Cara, 21.
Ele conta que integrou a tradição familiar de contestação -"do lado do meu pai era mais discussão, e da minha mãe, ação"- desde cedo. Aos 11 anos, trabalhou com os pais na campanha presidencial de Mário Covas e, no segundo turno, de Luiz Inácio Lula da Silva. "Na época, o que importava era a democracia, e o Fernando Collor de Mello era o mais próximo da ditadura."
Com a família em dificuldade, aos 14 anos foi estudar informática na Escola Técnica Estadual de São Paulo, para ajudar o pai nos negócios. "Foi muito importante, porque eu pude ter a experiência do cotidiano do trabalhador", afirma.
Com isso e os dois primeiros anos de ciências sociais, "um tempo para reflexão", encontrou seu caminho ao fundar o Napes (Núcleo de Ação e Pesquisa em Economia de Solidariedade), ONG que visa implantar e estudar alternativas solidárias à crise do emprego.
Em março de 97, com nove colegas da região noroeste de São Paulo, ele começou a oferecer capacitação jurídica, administrativa e empresarial a associações comunitárias, cooperativas e empresas autogeridas da Freguesia do Ó, Brasilândia, Vila Nova Cachoeirinha, do Jaraguá, de Pirituba, Anhanguera e Perus, por meio do Napes.
"Já existiam várias iniciativas desse tipo rolando. No final do ano, organizamos duas feiras para mostrar o trabalho das cooperativas populares para a comunidade." Para viabilizar o trabalho, cada membro do Napes contribuía com R$ 10 por mês.
Mas Daniel ainda sentia falta de trabalhar com jovens. Então, em agosto de 98, participou da fundação do Fórum de Organizações Juvenis da Cidade de São Paulo, que hoje conta com sete grupos, de hip hop e anarcopunk a organizações informais, "para pressionar os governos a criarem leis e programas formulados por jovens e orientados para jovens".
Com tantas atividades e estudos, Daniel acabou se especializando em participação política, mercado de trabalho e juventude, e tem sido requisitado para dar palestras sobre o tema. "Há espaços abertos para serem ocupados com propostas criativas de entrada do jovem no mercado de trabalho", afirma.
Por isso, aliou-se à Rede Jovem (redejovem@egroups.com ou rede jovem@zipmail.com.br). "Como jovens, o que ainda nos falta é conversa e diálogo, unir e canalizar nossa agitação e riqueza de diferenças em torno de objetivos concretos, e a rede permite esse contato", diz. Daniel vai colocar os trabalhos e talentos do pessoal da rede em contato com as escolas nas quais faz suas palestras.
Mas confessa que "sentia que ainda faltava alguma coisa nova para fazer". Esse vácuo foi preenchido com as aulas de esporte para crianças com síndrome de Down na Associação Carpe Diem.
"É o que me motiva, eles são menos hipócritas, têm mais vontade de vencer os desafios do que as pessoas que não têm essas limitações", confessa. O trabalho deu tão certo que ele foi contratado para, além de esportes, ensinar cidadania para seus alunos. (FÁTIMA GIGLIOTTI)


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