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"Sentia que todo mundo estava me observando"
DA REDAÇÃO
Leia abaixo o depoimento de um jovem
de 17 anos que teve diagnosticada a
síndrome do pânico.
"Não importava onde eu estivesse. Se o
medo chegava, a minha pressão baixava,
eu começava a suar frio, meu coração
disparava e eu tinha de sair dali. O medo
era de sofrer alguma violência e, muitas
vezes, de ser violentado. Tinha também
uma espécie de síndrome de perseguição.
Não sabia quem estava me perseguindo,
mas tinha certeza de que havia alguém
atrás de mim. Às vezes era um carro na
rua, às vezes uma pessoa e em outras vezes não havia ninguém, só a sensação de
estar sendo perseguido.
Minha primeira crise aconteceu numa
viagem para a praia. Eu estava com dois
amigos em Ilhabela. Comecei a ter medo
dos caiçaras. Era até um medo justificável, pois eu não era daquele lugar e eles
mexem com a gente mesmo, procurando
briga. Mas eu sentia que as pessoas todas
estavam me olhando, que todo mundo
estava me observando, que eu seria um
alvo fácil.
Eu tinha bebido o dia todo e fumado
maconha também. Estava ficando com
uma menina na praia e, de repente, bateu o medo. Não consegui me controlar e
saí correndo. Disse para ela que estava
passando mal e fugi. Depois disso, comecei a ter pânico de multidão, não conseguia mais olhar as pessoas nos olhos.
Achava que todo mundo estava me perseguindo para fazer algum mal.
Alguns meses depois, fui estudar em
Boston, nos EUA. Estava em um país diferente, convivendo com uma cultura diferente, e, apesar de Boston ser uma cidade bem mais sossegada do que São Paulo,
eu comecei a ter muito medo. Voltar para casa depois da aula era difícil. Eu entrava no metrô e achava que estavam me
encarando. Um olhar que dizia que eu
era um latino-americano que não deveria estar ali. Uma vez, o pânico foi tanto
que desci do trem e voltei a pé para casa.
Nem me importei de andar vários quarteirões com um frio de -6 C.
Estava fazendo terapia, tinha parado
de fumar maconha e o problema foi
amenizando. Voltei a fumar e o medo
também voltou. Sei que não é a maconha
que me deixa assim, mas acho que as
duas coisas estão ligadas. A droga parece
que detona o processo.
É interessante dizer que essas crises vieram com outros questionamentos, com
uma crise de identidade mesmo. Mesmo
assim, quando estou na rua, no metrô ou
em multidões, ainda sinto o medo chegar. Nessa hora, tento respirar fundo e
continuar o que estou fazendo. Fico pensando que sou uma pessoa da paz, que
não gero violência e que não há razão
para alguém ser violento comigo.
Duas coisas me ajudaram a contornar
esse problema. Contei à minha mãe o
que estava acontecendo e comecei o processo de terapia. Além disso, tenho uma
amiga que sofre de síndrome do pânico
num grau muito mais forte, que toma remédios e tudo. A gente conversa muito e
um ajuda o outro."
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