São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2005

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MÚSICA

Gêmeos do Rock

MEDULLA

LEANDRO FORTINO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Raony,17, olha para a cara de Keoops, 17, e já sabe o que o irmão está pensando. "Dividimos tudo desde que nascemos. O cara vai ficar velho junto comigo e deverá ter quase o mesmo tempo de vida que eu. É uma pessoa que vai testemunhar tudo aquilo que acontecer", afirma Keoops, que também compartilha agora o lançamento de "O Fim da Trégua", álbum de estréia do Medulla, banda que os gêmeos pernambucanos lideram desde 2003.
"Imagina que nasceu um cara no mesmo dia em que você e que vai passar todos os dias com você. O pensamento é automático. Olho para a cara dele e sei o que ele está pensando", diz Raony. "Isso ajuda totalmente na hora de escrever. Quando a gente está cantando, a gente pensa quase junto", conclui Keoops sobre as letras política e socialmente engajadas na mistura de rock com hip hop que o Medulla faz.
"Música gera conceito. Se você fala: "Vamos mexer a bundinha", as pessoas mexem a bundinha. Há coisas mais importantes que isso. Falamos de política, de religião e de problemas sociais porque são coisas que a gente sente. Tudo que é verdadeiro e que tem sentimento é natural. A gente nunca teve uma vida fácil", conta Raony, que deixou Recife com o irmão e a família aos três anos, passou um tempo em São Paulo e acabou no bairro da Tijuca, no Rio.
"Sempre tentaram nos convencer a fazer um outro tipo de letra, para atingirmos o que era fácil. Aprendemos a dizer não. Já falaram que fazer música com conceito não vai mudar o mundo, mas, se uma pessoa escuta o que estou falando, já é o suficiente. Estou fazendo a minha parte", diz Keoops.
"Calibre no berço/Cobre com manto preto o menino que não tem medo de careta/A cara amarrada se esconde atrás da camisa amarrada na cara/E agora é brincadeira de criança/Matar por vingança", cantam em "Munição na Mamadeira", uma amostra das letras espertas dos irmãos, que misturam referências da infância, como palhaços e canções de ninar, para criticar injustiças.
"Não tem uma coisa de infantilizar a parada. É mais uma expressão poética. Principalmente depois que começamos a ouvir Chico Buarque, vimos que tem esse lance de dizer as coisas de uma maneira intrínseca, de dizer uma coisa, escrever e parar para pensar por que escrevemos. É um amadurecimento. Aprendemos como vamos falar e a buscar a melhor forma", diz Raony.
O álbum termina com uma versão de "O Velho", letra de Chico Buarque. "A gente só ouviu a original na semana passada. Só tínhamos a letra. Mesmo assim, cantamos a música sem nunca ter ouvido. A métrica era a mesma", se impressiona Keoops.
Só sendo gêmeo para entender.


O jornalista Leandro Fortino viajou ao Rio a convite da gravadora Sony-BMG.

GOOD CHARLOTTE

DA REPORTAGEM LOCAL

Os gêmeos Joel e Benji Madden, 26, líderes da banda norte-americana Good Charlotte, têm um jeito próprio de se comunicar um com o outro.
"É um pouco diferente das outras pessoas. A gente se conhece tão bem que consegue completar a frase do outro antes que um termine. Isso ajuda muito na hora de compor. Tenho certeza de que isso acontece por falarmos a mesma língua e por estarmos juntos desde sempre", explica Joel.
O vocalista conversou com o Folhateen para anunciar os dois shows que farão no Rio e em São Paulo, dentro do festival É Claro que É Rock, que também trará ao Brasil, nos dias 19 e 20 de novembro, as banda americanas Nine Inch Nails, Suicidal Tendencies, Iggy Pop and the Stooges, Sonic Youth e Flaming Lips.
"O primeiro show que fomos na vida foi o da turnê "Ill Communication", dos Beastie Boys. Mas não foi tão inspirador quanto ver ao vivo Green Day, Rancid, MXPX, Goldfinger... Pensamos: "Uau, temos que montar uma banda punk!".
Desse jeito, há dez anos, nascia o Good Charlotte, que ficou na batalha durante metade desse tempo, fazendo o circuito rock de Washington DC, ao lado do Estado de Maryland, onde nasceram os gêmeos.
"Morávamos em uma cidadezinha de Maryland. Nossa mãe nos criou sozinha, trabalhadora, com quatro crianças, em uma casa pequena... nunca tivemos uma vida com muito dinheiro. Não era ruim, mas vivíamos de maneira muito simples."
Aos 18 anos eles deixaram a casa da mãe e se mudaram para a capital dos EUA. "As pessoas começaram a ouvir o nome Good Charlotte, nosso CD demo foi circulando, vendemos muitas cópias dele depois e até ganhamos um dinheiro. O boca a boca nos levou às rádios. Isso fez com que algumas gravadoras viessem nos procurar."
Joel não acha que o fato de o Good Charlotte ser um grupo de gêmeos tenha ajudado na promoção da banda. Mas o programa de clipes de rock que os dois apresentaram durante um ano na MTV americana foi decisivo no sucesso da banda.
"A MTV nos ofereceu um programa antes de lançarmos nosso segundo álbum. Acharam que a gente era engraçado e contrataram a gente por um ano. No final, a gente fazia um monte de piadas e só falava sobre o Good Charlotte durante o programa inteiro. Era legal, porque escolhíamos os vídeos de rock que quiséssemos e promovíamos nossa banda. Foi excelente."
"The Young and the Hopeless" acabou sendo o disco mais vendido do Good Charlotte -vendeu dez vezes mais que o álbum de estréia. "Foi assim que ficamos conhecidos", conta Joel. "Foi uma bênção, porque o terceiro está vendendo muito bem."
Os shows no Brasil darão ao Good Charlotte duas oportunidades únicas, segundo Joel: "A experiência de tocar no Brasil e no mesmo palco com Nine Inch Nails e Suicidal Tendencies será incrível", diz. (LF)


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