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POLÊMICA
Usuários são tratados como criminosos ou dependentes
Soninha acende discussão sobre maconha
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
O último relatório da ONU informou que hoje existem 144 milhões de usuários de maconha no
mundo, 2,4% da população mundial (cerca de 6 bilhões de pessoas).
Entre eles, Soninha, 34, ex-apresentadora do programa "RG", alvo de
uma polêmica demissão da TV Cultura após ter declarado à revista
"Época" que fumava maconha.
Apesar dos debates já feitos para a
desmitificação do consumo de maconha (veja quadro nesta página),
o estigma de seus usuários gira em
torno de duas esferas: a da dependência e a da criminalidade.
A teoria da dependência é tão
aceita que foi criado o Ambulatório
da Maconha, na Unifesp, onde 54%
dos casos atendidos são de jovens
entre 16 e 25 anos com problemas
de consumo crônico da droga.
Uma pesquisa do Ibope realizada
em 1999 com jovens de cinco capitais brasileiras concluiu que 92%
deles concordam que as drogas pioram o rendimento escolar.
"Hoje, os adolescentes estão consumindo maconha precocemente,
tornando-se usuários regulares
com repercussões em termos de
memória, de concentração e de motivação", afirma Ronaldo Laranjeira, coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad) e
do Ambulatório da Maconha. Um
dos sintomas mais preocupantes do
consumo crônico da maconha é a
chamada síndrome antimotivacional, em que a pessoa se torne apática e tem dificuldades em persistir
em alguma tarefa.
Dependência
"Há dez anos, a dependência de
maconha era questionada. Hoje, sabe-se que a droga causa dependência, mesmo física, e uma série de
complicações. Mas a percepção de
risco das pessoas é a mesma de dez
anos atrás", explica Laranjeira.
Já para Jair Mari, professor do Departamento de Psiquiatria da Escola
Paulista de Medicina, "é possível
aprender a usar maconha sem que
ela se torne necessariamente um
problema". Mas, segundo ele, não
pode haver ingenuidade nessa relação. "Cerca de 10% dos adolescentes
que se iniciam precocemente no uso
da droga terão problemas depois."
E os 90% restantes? "No Brasil,
não se levam em consideração as
pessoas que fumam e não são dependentes, não têm prejuízo de suas
atividades profissionais nem danos
sérios à saúde", defende Soninha.
"Sou a favor da descriminalização."
Na Holanda, na Bélgica e na Alemanha, o chamado consumo recreativo da maconha -aquele em
que o usuário consome a droga como quem toma cerveja às vezes- é
tolerado. Já no Canadá e em nove
Estados norte-americanos o uso
medicinal da erva é permitido. A
maconha é hoje utilizada no combate ao enjôo provocado pela quimioterapia, no tratamento terapêutico
do glaucoma e no combate à asma, à
epilepsia e ao estresse.
Lei Antitóxicos
Para quem não sabe, o consumo
de drogas no Brasil já foi permitido.
Até 1968, quando o decreto lei 6.385
instituiu a aplicação da punição do
traficante também ao usuário, o
porte de drogas para consumo não
era considerado criminoso.
"A atual lei de drogas, de 1976, estabelece condutas diferenciadas para o traficante e para o usuário. Raramente o usuário autuado em flagrante vai para a cadeia", explica o
criminalista Alberto Toron, 42. Hoje, o usuário paga uma fiança e é liberado. O crime de tráfico é inafiançável. Mas, como quem decide se o
caso se encaixa no artigo 12 (tráfico,
pena de três a 15 anos) ou no 16
(porte, pena de seis meses a dois
anos) é o delegado de polícia, existe
uma variável subjetiva que pode
eventualmente levar um usuário a
ser preso por tráfico. "É raro, mas há
casos em que pessoas são presas por
porte de drogas", afirma Toron.
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