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São Paulo, segunda-feira, 27 de janeiro de 2003

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NEGÓCIOS DA CHINA

Jovens orientais e latino-americanos disputam seu espaço no apertado mercado de trabalho brasileiro

Mercado persa

Tuca Vieira/Folha Imagem
O chileno Miguel Reyes, 23, que vive no Brasil há cinco anos e trabalha para uma seguradora


RICARDO LISBÔA
DA REPORTAGEM LOCAL

Vinte e poucos anos, em busca de novas oportunidades, de repente, vem a idéia de ir trabalhar em um outro país. Mas qual? Fácil: o Brasil.
Após esse susto que você tomou, é bom saber que há outros povos que vêem no Brasil um negócio da China. Como os chineses, por exemplo.
Quem leu algum jornal nos últimos cinco anos deve saber que a China está em ascensão no mercado internacional, após abrir suas fronteiras para o comércio mundial. Então, qual o motivo de eles estarem vindo para cá? Wing Zhun, 25, diz que é porque no Brasil se gasta menos dinheiro. "Lá só se ganha o de comer", completa. Vivendo no Brasil há dois anos, ele trabalha no comércio de relógios em uma das centenas de barracas da r. 25 de Março, no centro de São Paulo.
Da mesma opinião é a chinesa Kim ("só Kim mesmo"), 23, que está aqui há seis anos. "Os brasileiros são meio preguiçosos, não querem trabalhar aos domingos", reclama Kim, trocando os erres pelos eles. Ela é balconista em um pequeno estande, como a maioria dos novos imigrantes chineses que estão no Brasil.
Segundo o presidente da Câmara de Comércio Brasil-China, Charles Andrew Tang, o governo chinês desenvolve a política de encorajar o empreendedorismo de seus jovens em terras estrangeiras.
Só que eles nunca vêm sozinhos. Os imigrantes do Oriente só aparecem por aqui depois que alguém da família já abriu o terreno. E, de forma geral, vivem isolados em suas comunidades.
A língua é o principal obstáculo, o qual eles quase sempre não conseguem vencer. A maioria só aprende o mínimo de português para usar no comércio. Essa dificuldade tornou comum a utilização de pequenos dicionários, que servem como guias, onde se encontra o nome das mercadorias em português e em chinês e o valor correspondente. Outra situação curiosa pela qual passam os jovens imigrantes chineses é o rebatismo. Como seus nomes são de difícil entendimento para os brasileiros, eles escolhem nomes "populares" na nova terra.
"Alex" Chang, 21, por exemplo, foi rebatizado bem na frente da reportagem do Folhateen. Ganhou seu novo nome de uma colega de trabalho numa lojinha de equipamentos fotográficos.

Vizinhos
Além dos músicos de países andinos que se apaixonaram pelas praças de grandes cidades de todo o Brasil, alguns de nossos vizinhos latino-americanos se encantaram com o modo de viver dos brasileiros e decidiram tentar a vida por aqui. É o caso do chileno Miguel Reyes, 23, que vive no Brasil há cinco anos e que trabalha na área técnica de uma seguradora. Ele afirma que desde pequeno se fascinou com a língua portuguesa e que no Brasil se sente mais à vontade que no Chile.
"Há coisas na mentalidade chilena que me chateiam. Eu percebi que minha personalidade não batia com a dos chilenos", afirma Reyes. E comprova, já que foi no Brasil onde ele encontrou sua mulher. Hoje, sobre o Chile, ele diz: "Só penso em ir para lá fazer passeios".
O chileno foi um dos muitos imigrantes a se beneficiar da anistia concedida, em 1998, pelo governo federal às pessoas que estavam clandestinas no país. "Fiquei ilegal só por uma semana", lembra.
Outro que também gostou de cara do que encontrou aqui foi o colombiano Diego Rios, 24, que chegou ao Brasil há um ano e meio. Ele veio trabalhar em um projeto de sua faculdade de economia em parceria com a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
"Achei muito interessante como o Brasil funciona", afirma. O que mais chamou sua atenção foi a empatia imediata com as pessoas. "Elas me trataram muito bem. Acho até que consegui coisas de modo mais fácil por ser estrangeiro." Ele lembra que, quando chegou, não falava nada de português, e os brasileiros sempre davam um jeitinho para ajudá-lo. Agora, é Rios quem dá aulas, de espanhol, enquanto acaba a faculdade de economia. Mas pensa em retornar à Colômbia. "Pretendo aprender mais aqui, ganhar experiência e depois voltar para lá."

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