Faça as contas. Quantos de seus amigos já tentaram transar com uma torta de maçã? E quantos já passaram a tarde inteira no tédio, sem ter nada para fazer? Ganha o segundo grupo, certo?
Pois é sobre esse segundo grupo e para ele que três filmes diferentes foram lançados e estão fazendo certo barulho nos EUA. Diferentes porque produzidos pela mesma Hollywood que faz porcarias como "American Pie 2", "Legalmente Loira" e "O Retorno da Múmia", para ficar só em títulos deste ano dirigidos a adolescentes.
São "Gostosa Loucura", "Ghost World" ("Mundo Fantasma", em inglês) e "Bully" ("Valentão"), de três diretores que não têm nada a ver um com os outros e cada um interessante à sua maneira. O que têm em comum, no entanto, é que tratam de gente como a gente. Mesmo que a gente nem sempre apareça bem na foto.
"Bully" conta sem maquiagem nem frescura uma história real de um grupo de adolescentes da Flórida que se une para matar o mais valentão da turma. O crime aconteceu em 1993 e os envolvidos estão presos até hoje.
Já "Gostosa Loucura" é a inspirada trip da adolescente problemática Nicole (Kirsten Dunst), que tem todo o dinheiro do mundo, mas não consegue se relacionar com o pai, superar o suicídio da mãe e ganhar a atenção do garoto pobre por quem se apaixona.
Por fim, "Ghost World", o mais de humor negro dos três, traz Thora Birch, que foi a filha de Kevin Spacey em "Beleza Americana", como a versão em carne e osso da personagem de HQ Enid, talvez a teen mais sarcástica e irônica já desenhada por alguém.
O.k., o cenário não é tão animador assim. Juntando a bilheteria dos três filmes até agora, dá pouco mais de US$ 20 milhões, o que é menos da metade do que uma desgraça como "American Pie 2", por exemplo, conseguiu só no final de semana de estréia nos EUA.
Além disso, apenas "Gostosa Loucura" tem previsão de estréia no Brasil (programada para 21/9). "Bully" tem exibição prevista na Mostra de Cinema de São Paulo, em outubro. Para "Ghost World", ainda vale reza brava. Aliás, que tal mandar um e-mail sugerindo os dois títulos para a Mostra de São Paulo (info@mostra.org) e para o Festival do Rio (info@festivaldoriobr.com.br)?
Filmes como esses e, em menor medida, "Baby Boy", o novo de John Singleton, e "Velozes e Furiosos" denotam uma mudança de mentalidade de pelo menos parte de Hollywood. É a parte pensante, que está parando de tratar o espectador adulto como adolescente e o adolescente como criança.



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