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São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 2003

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02 NEURÔNIO

Problemas de língua

JÔ HALLACK
NINA LEMOS
RAQ AFFONSO

COLUNISTAS DA FOLHA

Depois de uma pesquisa informal entre nossos amigos (principalmente as amigas), chegamos à conclusão que as pessoas, em geral, têm problemas em lidar com as PALAVRAS que se referem a relacionamentos amorosos.
Os psicanalistas teriam muito a dizer sobre isso. Mas, como não somos psicanalistas -só meras charlatãs-, resolvemos apenas expor o resultado de nossas pesquisas.
Mulheres que ficam muito tempo solteiras têm dificuldade, quando começam a namorar, de chamar o rapaz de "meu namorado" (sim, fizemos uma coluna recentemente sobre o tema, mas a verdade é que também temos problemas com o termo). Depois do advento da maravilhosa gíria "pretê" -patenteada pelo 02 Neurônio Império das Comunicações LTDA- , conseguimos chamar um namorado de "o meu pretê" por muito tempo. Até que somos repreendidas e assumimos que ele é "o namorado".
Já os homens, depois de uma semana de namoro, começam a chamar suas namoradas de "minha mulher". A namorada do amigo é a "sua mulher", e eles adoram falar no plural, tipo "as nossas mulheres".
Mas, quando eles vão se referir ao namorado de uma amiga, preferem dizer "o namorado da fulana". Nunca dizem "o homem da fulana". E, cá entre nós, achamos o pronome possessivo "minha" associado ao substantivo "mulher" uma coisa meio machista. Apesar de gostarmos de sermos chamadas de "minha mulher" quando estamos realmente apaixonadas.
Se nós, mulheres problemáticas, temos dificuldade de chamar alguém de namorado, quando a coisa se transforma em casamento, fica ainda mais grave. Mulheres podem passar anos chamando seus maridos e esposos de "o meu namorado". Conhecemos uma que ficou casada seis anos e nunca chamou o cônjuge de marido! Achamos muito anos 70, sei lá!
Algumas, no entanto, aprenderam que as palavrinhas "o meu marido" podem ser de grande utilidade. Para fugir de operadores de telemarketing. "Tenho de falar com meu marido" é uma desculpa que convence qualquer ser humano. (Pessoas legais estão excluídas de serem consideradas seres humanos, neste caso.)
Mulheres não gostam de falar que têm marido. Mas amam falar que têm "ex-maridos". É algo muito bacana, que dá status, você passa por experiente e não por uma solteira perdida na vida.
Noivo. Ih!!!!!!!! Temos uma espécie de implicância profunda por pessoas que se referem a namorados como "meu noivo". Temos praticamente alergia a essa denominação. Temos também alergia a pessoas que falam "enxoval". Sim, somos preconceituosas. Mas, pelo menos, fazemos análise.
Agora, uma coisa que gostaríamos muito de falar (apesar de ser um pouco mórbido) é que somos viúvas! Não agora, claro, porque seria um pouco trágico demais. Viúva é uma coisa, assim, chique. Tá, a gente surtou. Mas será que um dia ainda vamos poder falar: "Eu sou viúva"?!



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