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Aventuras de um gonzo no Rio
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
"Comparadas ao Rio,
as outras cidades
[da América do
Sul] por que passei
parecem depósitos
de lixo." "O Brasil é [um país] ótimo e
é um alívio estar aqui." "Acabo de fazer uma viagem por Uruguai, Argentina e Paraguai e estou convencido de
que o Brasil é a única esperança [para
a América do Sul]." Quem terá dito
essas palavras? Um nacionalista fanático? Um carioca que acha o Rio perfeito, lindo, insuperável? Não.
As frases são do jornalista/escritor
americano Hunter S. Thompson, que
morreu na semana retrasada, aos 67
anos. Ele trabalhou no Rio, como
correspondente de uma revista americana, de setembro de 1962 a maio de
1963. Mesmo que você não faça idéia
de quem seja HST, pode acreditar: é
um dos jornalistas mais influentes do
século 20, embora "jornalista" seja
uma palavra pobre e estreita para definir os talentos delirantes de Hunter
Thompson. Escritor fica melhor.
Ele inventou um estilo, do qual você talvez tenha ouvido falar: o jornalismo gonzo. E que diabo é isso?
No começo dos anos 60, um grupo
de jovens repórteres, como Gay Talese e Tom Wolfe, começou a praticar o
chamado "novo jornalismo", que expandia os limites da reportagem
(quem, como, onde, quando, por quê) para injetar criatividade literária nos textos.
O estilo gonzo é o novo jornalismo levado ao limite máximo. Mal dá para chamar os trabalhos mais famosos de Hunter Thompson de reportagens. Porque
praticamente ele só escrevia sobre si próprio -e sempre sob o efeito de doses
suicidas de álcool e drogas. Não eram textos sobre os fatos, mas sobre as impressões de HST sobre os fatos.
Se eu tivesse que indicar um só livro do homem, seria "Fear and Loathing in
Las Vegas", que saiu no Brasil, nos anos 80, como "Las Vegas na Cabeça" e é impossível de achar. A primeira frase entrega o estilo: "Estávamos em algum lugar
perto de Barstow, nos limites do deserto, quando as drogas começaram a fazer
efeito". Esse livro gerou um filme, que saiu em DVD por aqui: "Medo e Delírio
em Las Vegas", com Johnny Depp como Hunter.
Outra opção é uma coletânea de textos "jornalísticos", "A Grande Caçada aos
Tubarões", lançada no Brasil pela Editora Conrad.
Hunter Thompson sucumbiu a uma rotina demencial. Matou-se com um tiro
na cabeça. Inspire-se no talento dele. Não copie seus atos.
@ - cby2k@uol.com.br
PLAY - "The Proud Highway", Douglas Brinkley
Coletânea de cartas de Hunter
Thompson, de onde extraí as frases
de abertura da coluna. É caro, é em
inglês. Mas que livro sensacional!
PAUSE - "Medo e Delírio em Las Vegas", trilha
Tem umas loucuras, como Dead
Kennedys, mas também várias coisas de classic rock, tipo Jefferson
Airplane, Yardbirds... É sobre os
anos 60/70, fazer o quê?
EJECT - Brasileiros contra Hunter Thompson
Li textos de brasileiros detonando
Hunter Thompson por ele ser
"americano demais". Bom, aí é que
está a graça, certo? Chucro, caipira,
americano e... genial!
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