São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2005

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Aventuras de um gonzo no Rio

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

"Comparadas ao Rio, as outras cidades [da América do Sul] por que passei parecem depósitos de lixo." "O Brasil é [um país] ótimo e é um alívio estar aqui." "Acabo de fazer uma viagem por Uruguai, Argentina e Paraguai e estou convencido de que o Brasil é a única esperança [para a América do Sul]." Quem terá dito essas palavras? Um nacionalista fanático? Um carioca que acha o Rio perfeito, lindo, insuperável? Não.
As frases são do jornalista/escritor americano Hunter S. Thompson, que morreu na semana retrasada, aos 67 anos. Ele trabalhou no Rio, como correspondente de uma revista americana, de setembro de 1962 a maio de 1963. Mesmo que você não faça idéia de quem seja HST, pode acreditar: é um dos jornalistas mais influentes do século 20, embora "jornalista" seja uma palavra pobre e estreita para definir os talentos delirantes de Hunter Thompson. Escritor fica melhor.
Ele inventou um estilo, do qual você talvez tenha ouvido falar: o jornalismo gonzo. E que diabo é isso?
No começo dos anos 60, um grupo de jovens repórteres, como Gay Talese e Tom Wolfe, começou a praticar o chamado "novo jornalismo", que expandia os limites da reportagem (quem, como, onde, quando, por quê) para injetar criatividade literária nos textos.
O estilo gonzo é o novo jornalismo levado ao limite máximo. Mal dá para chamar os trabalhos mais famosos de Hunter Thompson de reportagens. Porque praticamente ele só escrevia sobre si próprio -e sempre sob o efeito de doses suicidas de álcool e drogas. Não eram textos sobre os fatos, mas sobre as impressões de HST sobre os fatos.
Se eu tivesse que indicar um só livro do homem, seria "Fear and Loathing in Las Vegas", que saiu no Brasil, nos anos 80, como "Las Vegas na Cabeça" e é impossível de achar. A primeira frase entrega o estilo: "Estávamos em algum lugar perto de Barstow, nos limites do deserto, quando as drogas começaram a fazer efeito". Esse livro gerou um filme, que saiu em DVD por aqui: "Medo e Delírio em Las Vegas", com Johnny Depp como Hunter.
Outra opção é uma coletânea de textos "jornalísticos", "A Grande Caçada aos Tubarões", lançada no Brasil pela Editora Conrad.
Hunter Thompson sucumbiu a uma rotina demencial. Matou-se com um tiro na cabeça. Inspire-se no talento dele. Não copie seus atos.


@ - cby2k@uol.com.br

PLAY - "The Proud Highway", Douglas Brinkley
Coletânea de cartas de Hunter Thompson, de onde extraí as frases de abertura da coluna. É caro, é em inglês. Mas que livro sensacional!

PAUSE - "Medo e Delírio em Las Vegas", trilha
Tem umas loucuras, como Dead Kennedys, mas também várias coisas de classic rock, tipo Jefferson Airplane, Yardbirds... É sobre os anos 60/70, fazer o quê?


EJECT - Brasileiros contra Hunter Thompson
Li textos de brasileiros detonando Hunter Thompson por ele ser "americano demais". Bom, aí é que está a graça, certo? Chucro, caipira, americano e... genial!


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