DA REPORTAGEM LOCAL

A vida não foi nada fácil para o Raimundos nos últimos tempos. Brigas internas, que resultaram na saída de Rodolfo e Canisso, e relações tumultuadas com a ex-gravadora, Warner, quase acabaram com uma das bandas mais badaladas do país nos anos 90. Quase.
Depois de um longo período de ostracismo, o Raimundos enfim lança novo trabalho. Bem distante do glamour de antigamente, diga-se. Sem gravadora, sem gigantescas campanhas de divulgação, sem apresentações em programas de TV, eles buscam sobrevida na internet. Novas músicas da banda podem ser baixadas gratuitamente no site da MTV (www.mtv.com.br/raimundos) desde o início deste mês e, a partir de 15 de março, no endereço www.raimundos.info.
"Não queremos dar um chute na cara das gravadoras, longe disso. Afinal, não vamos cuspir no prato em que comemos durante anos", conta o baterista Fred. "Pelo contrário. Estamos disponibilizando músicas de graça para divulgar nosso trabalho. Se alguma gravadora quiser que a gente faça um CD, ótimo. Enquanto isso, jogamos tudo na rede."
A estratégia de marketing em tempos de vacas magras vai longe. Quando o site do Raimundos estiver no ar, eles divulgarão por e-mail o número de sua conta bancária. Assim, os fãs podem depositar o que desejarem para ajudar financeiramente a banda. "Baixe nossas músicas, grave um CD, venda para um amigo, lucre em cima e nos dê uma porcentagem", brinca Fred. "Se isso acontecer, vamos dar pulos de alegria. É uma forma de viver do nosso trabalho sem nos submetermos a contratos e cláusulas."
Fred refere-se à longa batalha com a Warner. O último CD dos Raimundos, "Kavookavala", saiu em 2002 sem qualquer apoio da gravadora, que, durante anos, impediu o grupo de lançar discos. "Não havia mais clima para trabalhar lá, mas eles não liberavam a gente. Quando quebraram duas cláusulas do nosso contrato, conseguimos a liberdade. Nesse dia, festejamos para caramba", lembra o baterista.
Os fãs saudosos não irão se decepcionar ao baixar as novas músicas do Raimundos -que, mesmo sem o formato CD, ganharam o nome de ".Qq cOizAh" (lê-se "ponto qualquer coisa"). Muita guitarra, letras sacanas e o velho estilo moleque continuam a permear as canções, como "Pemba Talk", "Macaxeira" e "Sol e Lua". "Estou com 32 anos e sinto-me bem novo. Dizem que o rock tem poder de formol, de conservar nossa alma jovem. E o Raimundos sempre será assim, bem adolescente. Agora, de graça na internet, para quem quiser ouvir", diz Fred. (ERIKA SALLUM)


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