São Paulo, segunda-feira, 28 de agosto de 2000


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ESTANTE
Livro explica a bela confusão que é a música brasileira

Ligue na MTV e está passando um clipe do Mestre Ambrósio. Depois vem o Chico Science com seu mangue beat, o Karnak ou a dupla de Tangos e Tragédias. Ou samba meloso. Ou sertanejo disfarçado de cantor romântico. Uma confusão, que é a cara do Brasil.
De um modo ou de outro, todos esses caras estão criando música da mistura com algum material vindo do universo da canção folclórica, popular ou "autêntica": uns catam caranguejo na lama, outros estilizam canções antigas, outros inventam tradições.
Tem-se a impressão de que é um nó sem solução, que está tudo embaralhado. A gente não consegue distinguir entre o que é legítimo e o que é mero oportunismo de mercado. Mas existem algumas pistas, como as que estão em "Modernismo e Música Brasileira", livrinho sensacional para pôr em ordem o problema.
Tratando de historiar de leve a cultura musical brasileira entre 1890 e 1950, especialmente do lado erudito, o livro retrata os principais dilemas de gente genial como Villa-Lobos, Pixinguinha, Mário de Andrade e Donga, gente desigual, mas dedicada a fazer e a pensar o que aconteceu naquele período que definiu a cara da música brasileira. Faz a conta: nesse período nasceu o samba, com o rádio e a indústria fonográfica.
O quadro intelectual, especialmente nos anos 20, estava fervendo com os modernistas, gente interessada em trazer a cultura popular para dentro da literatura, da música e das artes plásticas. Foi um dos momentos em que o Brasil, país periférico, tentou lidar com o problema de ser ou não ser autônomo, de ter ou não uma cultura singular. A velha dinâmica importação-assimilação-exportação, inclusive de formas artísticas.
O livro dá bem a medida da dificuldade de produzir cultura em um país colonizado, mas também assinala a beleza do repertório musical brasileiro, que foi capaz de produzir coisas estrangeiradas como o romântico Carlos Gomes e coisas sensacionais como as composições de Villa-Lobos ou de Ernesto Nazareth, sem falar em criações que marcaram para sempre nossa vida cultural, como o choro e o samba. O livro interpreta esse processo, em linguagem fluida e com ótimas informações.

E-mail: fischerl@uol.com.br



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