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Música
A inspiração está na estante
"Cabeça Dinossauro", "Selvagem?" e "Dois" servem de referência a duas gerações de artistas, de Skank a CPM 22
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os frutos dos três álbuns de 1986 do Legião Urbana, Titãs e
Paralamas do Sucesso são colhidos
até hoje, vinte anos depois. "Se
considerarmos a diversidade
do rock brasileiro, a gente consegue ver reflexo em bandas como o Skank, que tem o DNA do
que se praticou nos anos 80. Eu
vejo uma linha evolutiva que
vai até Los Hermanos", afirma
o jornalista Ricardo Alexandre.
John Ulhoa, guitarrista do
Pato Fu, destaca "Selvagem?".
"Ele teve um impacto singular
na época. Vários amigos acharam o disco "brasileiro" demais.
Na verdade, esse foi o detalhe
que o tornou tão especial."
Opinião parecida tem Henrique Portugal, tecladista do
Skank. Segundo ele, as misturas musicais desse disco dos
Paralamas "seriam a tônica da
geração dos anos 90". "Ele acabou com a "negação da música
brasileira", que era muito forte
nas bandas dos anos 80. Para
mim, mostrou que era possível
fazer sucesso sem ter que necessariamente parecer um inglês encapotado num país tropical", afirma.
Bandas como Charlie Brown
Jr. e Raimundos ressaltam o
trabalho dos Titãs, que batia de
frente em instituições como a
família, a igreja, a polícia e o Estado. "É um clássico, em que ficou claro que a irreverência, a
displicência, a seriedade, a
anarquia e a musicalidade podiam caminhar juntas no rock
nacional", diz o vocalista do
Charlie Brown Jr., Chorão.
Para Digão, vocalista e guitarrista dos Raimundos, o álbum "foi o divisor de águas do
rock brasileiro".
O trabalho do Legião Urbana foi o disco de rock que mais influenciou Toni Garrido, vocalista do Cidade Negra. "Eu viajava em cada palavra do Renato
Russo". Canções como "Tempo
Perdido" representavam um tipo diferente de composição no
rock da época, na opinião de
Vanessa da Mata. "Acho que
nascia aí uma construção original de um tipo de rock brasileiro", conclui.
O baterista Japinha, do CPM
22, acha que vai ser muito difícil alguém escrever letras tão
boas quanto as desses discos no
rock nacional. "Até hoje quando vamos compor, nos lembramos de trechos delas e adoramos quando percebemos que
nos remetemos inconscientemente a essas bandas."
Esses discos fizeram com
que o músico Otto não precisasse se curvar à música estrangeira. "Vou fazer sempre música brasileira, mesmo que rock,
mesmo que pesada, mesmo que
contemporânea e urbana."
(LUIZ FELIPE CARNEIRO)
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