São Paulo, segunda-feira, 28 de agosto de 2006

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Música

A inspiração está na estante

"Cabeça Dinossauro", "Selvagem?" e "Dois" servem de referência a duas gerações de artistas, de Skank a CPM 22

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os frutos dos três álbuns de 1986 do Legião Urbana, Titãs e Paralamas do Sucesso são colhidos até hoje, vinte anos depois. "Se considerarmos a diversidade do rock brasileiro, a gente consegue ver reflexo em bandas como o Skank, que tem o DNA do que se praticou nos anos 80. Eu vejo uma linha evolutiva que vai até Los Hermanos", afirma o jornalista Ricardo Alexandre.
John Ulhoa, guitarrista do Pato Fu, destaca "Selvagem?". "Ele teve um impacto singular na época. Vários amigos acharam o disco "brasileiro" demais. Na verdade, esse foi o detalhe que o tornou tão especial."
Opinião parecida tem Henrique Portugal, tecladista do Skank. Segundo ele, as misturas musicais desse disco dos Paralamas "seriam a tônica da geração dos anos 90". "Ele acabou com a "negação da música brasileira", que era muito forte nas bandas dos anos 80. Para mim, mostrou que era possível fazer sucesso sem ter que necessariamente parecer um inglês encapotado num país tropical", afirma.
Bandas como Charlie Brown Jr. e Raimundos ressaltam o trabalho dos Titãs, que batia de frente em instituições como a família, a igreja, a polícia e o Estado. "É um clássico, em que ficou claro que a irreverência, a displicência, a seriedade, a anarquia e a musicalidade podiam caminhar juntas no rock nacional", diz o vocalista do Charlie Brown Jr., Chorão.
Para Digão, vocalista e guitarrista dos Raimundos, o álbum "foi o divisor de águas do rock brasileiro".
O trabalho do Legião Urbana foi o disco de rock que mais influenciou Toni Garrido, vocalista do Cidade Negra. "Eu viajava em cada palavra do Renato Russo". Canções como "Tempo Perdido" representavam um tipo diferente de composição no rock da época, na opinião de Vanessa da Mata. "Acho que nascia aí uma construção original de um tipo de rock brasileiro", conclui.
O baterista Japinha, do CPM 22, acha que vai ser muito difícil alguém escrever letras tão boas quanto as desses discos no rock nacional. "Até hoje quando vamos compor, nos lembramos de trechos delas e adoramos quando percebemos que nos remetemos inconscientemente a essas bandas."
Esses discos fizeram com que o músico Otto não precisasse se curvar à música estrangeira. "Vou fazer sempre música brasileira, mesmo que rock, mesmo que pesada, mesmo que contemporânea e urbana."
(LUIZ FELIPE CARNEIRO)


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