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MÚSICA
Viúva de Kurt Cobain já não tem nada a acrescentar ao pop
Qeum precisa de
LOVE
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
"America's Sweetheart",
embaçado primeiro
CD solo de Courtney Love,
mostra que o pop não precisa mais da sra. Kurt Cobain. Não que o disco seja
muito ruim, mas é, no máximo, mais do mesmo.
São músicas que, com raras exceções, não entrariam em "Celebrity Skin"
(98), do Hole, banda que
Love deixou para trás
quando começou a freqüentar mais as páginas
policiais (drogas, perda da
guarda da filha, escândalos) do que as de entretenimento. Se o primeiro disco
do Hole, "Live Through
This" (1994), foi feito quase
todo por Kurt e se "Celebrity Skin" teve (dizem)
ajuda de Billy Corgan
(Smashing Pumpkins),
"America's Sweetheart" é
quase todo de Love.
Courtney Love repisa a
fórmula que a fez famosa lá
nos 90, do rock gritado até
a garganta estourar, contraposto a momentos fofos. Uma versão feminina
do pop que o marido praticava.
E, como o pop come a si
mesmo, Love já está ultrapassada no estilo que criou.
Se o papo hoje é rock feminino rouco-gritado, fique
com a punk Brody Dalle,
do Distillers.
De todo modo, "America's Sweetheart" não começa mal. "Mono" é cru e
tem letra ótima. Tem a raivosa linha "They say that
rock is dead/ and it's probably true" (Eles dizem
que o rock está morto/ e isso deve ser verdade). Ela
tem sua razão particular.
A segunda faixa é "But
Julian, I'm Little Bit Older
than You". É uma porno-homenagem de Love a Julian Casablancas, amiguinho dela e vocalista dos
Strokes. A letra é um choque de classes do rock, um
confronto do que ela viveu
nos 90 com o que ele está
fazendo agora nos 00.
O tributo a Kurt é pago
em "I'll Do Anything". A
guitarra do começo remete
à pegada inicial de "Smells
Like Teen Spirit", embora
o pastiche seja tanto que a
música fique com a cara de
"Song 2", hino "nirvânico"
do Blur. Love está confusa.
Ela pertence agora aos tablóides. Há duas semanas,
foi mostrar seu disco ao
apresentador americano
David Letterman e fez um
strip. Não conseguiu responder a uma só pergunta.
Foi tocada para fora pelo
próprio. E, na hora da
apresentação ao vivo, não
conseguia cantar nem parar de pé.
Love mostrou que já era.
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