São Paulo, segunda-feira, 29 de março de 2004

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MÚSICA

Viúva de Kurt Cobain já não tem nada a acrescentar ao pop

Qeum precisa de
LOVE

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

"America's Sweetheart", embaçado primeiro CD solo de Courtney Love, mostra que o pop não precisa mais da sra. Kurt Cobain. Não que o disco seja muito ruim, mas é, no máximo, mais do mesmo.
São músicas que, com raras exceções, não entrariam em "Celebrity Skin" (98), do Hole, banda que Love deixou para trás quando começou a freqüentar mais as páginas policiais (drogas, perda da guarda da filha, escândalos) do que as de entretenimento. Se o primeiro disco do Hole, "Live Through This" (1994), foi feito quase todo por Kurt e se "Celebrity Skin" teve (dizem) ajuda de Billy Corgan (Smashing Pumpkins), "America's Sweetheart" é quase todo de Love.
Courtney Love repisa a fórmula que a fez famosa lá nos 90, do rock gritado até a garganta estourar, contraposto a momentos fofos. Uma versão feminina do pop que o marido praticava.
E, como o pop come a si mesmo, Love já está ultrapassada no estilo que criou. Se o papo hoje é rock feminino rouco-gritado, fique com a punk Brody Dalle, do Distillers.
De todo modo, "America's Sweetheart" não começa mal. "Mono" é cru e tem letra ótima. Tem a raivosa linha "They say that rock is dead/ and it's probably true" (Eles dizem que o rock está morto/ e isso deve ser verdade). Ela tem sua razão particular.
A segunda faixa é "But Julian, I'm Little Bit Older than You". É uma porno-homenagem de Love a Julian Casablancas, amiguinho dela e vocalista dos Strokes. A letra é um choque de classes do rock, um confronto do que ela viveu nos 90 com o que ele está fazendo agora nos 00.
O tributo a Kurt é pago em "I'll Do Anything". A guitarra do começo remete à pegada inicial de "Smells Like Teen Spirit", embora o pastiche seja tanto que a música fique com a cara de "Song 2", hino "nirvânico" do Blur. Love está confusa.
Ela pertence agora aos tablóides. Há duas semanas, foi mostrar seu disco ao apresentador americano David Letterman e fez um strip. Não conseguiu responder a uma só pergunta. Foi tocada para fora pelo próprio. E, na hora da apresentação ao vivo, não conseguia cantar nem parar de pé.
Love mostrou que já era.


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