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ARTES CÊNICAS
Aos 21, Sheylli Caleffi é revelação em um dos mais importantes eventos teatrais do país
Jovem diretora enfrenta Beckett em Curitiba
Lenise Pinheiro/Folha Imagem
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A diretora Sheylli Caleffi, que teve malária enquanto sua peça foi mostrada |
VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
Ela gastou 150 "pilas", como se diz por
aqui, em ingressos para a maratona de
peças no 13º Festival de Teatro de Curitiba, um dos mais importantes do Brasil,
mas passou 11 dias de molho, tombada
pela malária, doença que contraiu em
uma viagem ao Amazonas.
Uma das revelações locais em direção
teatral, Sheylli Caleffi, 21, foi submetida a
uma quarentena forçada, à base de remédios, justamente quando a cena teatral da cidade borbulhava com a presença de grupos vindos de vários Estados. O
término do festival estava marcado para
ontem e reuniu cerca de 150 espetáculos.
Foi uma situação digna do teatro do
absurdo (gênero surgido na Europa na
metade dos anos 50, com personagens
geralmente indefinidos, em cenas desconexas e histórias sem necessariamente
início, meio ou fim).
Sheylli Caleffi, 21, tira de letra. No final
de 2003, ela criou uma versão infantil de
"Esperando Godot" para a prova pública
de conclusão do curso de direção na Faculdade de Artes do Paraná.
A peça do irlandês Samuel Beckett
(1908-89) é considerada um dos ícones
do teatro do absurdo. Encenadores renomados de todo o planeta consideram
sempre um desafio montá-la.
Dois amigos, Vladimir e Estragon,
aguardam um terceiro, Godot, que nunca chega. É uma farsa trágica plena de silêncios e frases curtas para diálogos existenciais, metafísicos, entre Didi e Gogo,
como foram rebatizados os personagens
em "Faltou Luz, mas Era Dia".
O espetáculo é destinado a crianças
maiores de sete anos e participou do segmento infantil do Fringe, a mostra alternativa do Festival de Teatro de Curitiba.
"Enfatizamos a amizade de Vladimir e
Estragon. Eles se mantêm de pé mesmo
em momentos desoladores", diz a diretora. Sheylli juntou-se ao grupo Cercênico, no qual as atrizes Anne Sibele Celli,
21, Karina Pereira, 24, Natasha Gandelman, 22, Patrícia Saravy, 24, e Rafaella
Marques, 21, já abraçavam o texto de
Beckett para a prova pública.
A diretora afirma que o espetáculo não
ficou difícil e conseguiu levar às crianças
temas que os próprios adultos têm dificuldade em enfrentar, como a morte e a
angústia da existência.
"Durante a invasão dos EUA ao Iraque,
no ano passado, o filho de quatro anos de
um amigo viu pela TV a imagem de uma
criança no hospital, vítima dos bombardeios, sem os bracinhos, e perguntou se
eles nasceriam de novo. Beckett ajuda a
responder a isso de forma sutil", diz.
"Faltou Luz, mas Era Dia" teve espaço
para curta temporada em janeiro, foi
apresentado em escolas da periferia e
agora voltou ao Fringe. Na mostra, Sheylli dirigiu ainda "Obscuro Desejo dos
Objetos", monólogo com a atriz Janja,
inspirado em Clarice Lispector.
Irmã do meio de Sharon, 24, e Shana,
20 ("os nomes são pura invencionice de
grávida que fica olhando os créditos finais dos filmes"), Sheylli nasceu em Pato
Branco, cidade paranaense a 440 km de
Curitiba, de pais com ascendência italiana e polonesa.
"Quando era pequena, os mais velhos
me chamavam de metida, distraída. Demorei muito tempo para descobrir o lado positivo disso. Prestava atenção a
muitas coisas ao mesmo tempo", diz.
O jornalista Valmir Santos viajou a convite da
organização do 13º FTC
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