São Paulo, segunda-feira, 29 de abril de 2002

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FOLHATEEN EXPLICA

O candidato Le Pen supera a esquerda com propostas fascistas

O avanço da extrema-direita nas eleições na França

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

No último dia 21, um domingo de sol, a França foi às urnas com preguiça e desinteresse para eleger, entre 16 candidatos, os dois nomes que se enfrentariam no segundo turno das eleições presidenciais.
Todas as pesquisas apontavam que o atual presidente Jacques Chirac (direita), que tentava a reeleição, e o primeiro-ministro Lionel Jospin (esquerda) seriam os vencedores e se enfrentariam na segunda rodada.
Na noite do mesmo domingo, o país levou um choque: os franceses haviam escolhido Chirac, sim, mas também, pela primeira vez para o segundo turno, um candidato de extrema-direita -Jean-Marie Le Pen, 74, líder do partido Frente Nacional (FN).
Os resultados provocaram um dos maiores traumas políticos e sociais no país nos últimos 50 anos. A França é o berço dos direitos do homem e da democracia moderna. Os franceses se consideram os guardiães da liberdade e da tolerância no mundo.
O programa político de Le Pen é racista, xenófobo e neofascista. Ele prega a volta dos imigrantes para seus locais de origem. Detesta a União Européia e o euro. Defende uma França voltada para si mesma, contra a globalização. É a favor da pena de morte, do recrudescimento da ordem, da autoridade e da vigilância. Diz que o assassinato de 6 milhões de judeus é um detalhe da Segunda Guerra.
Não foi só isso que aconteceu nessas eleições. Elas tiveram também a maior taxa de abstenção até hoje na França (27,6% dos 40 milhões de eleitores), onde votar não é obrigatório. Além disso, tanto a esquerda quanto a direita que estavam no governo foram severamente julgadas e ficaram com um número baixíssimo de votos. Chirac entrou para o segundo turno, mas com desonrosos 19,8% (Le Pen ficou com 17%). Derrotado, Jospin (16%) anunciou sua aposentadoria política.
Os franceses ainda tentam entender o que ocorreu. É certo que a quantidade de candidatos dispersou os votos. É também fato que os eleitores resolveram protestar contra os seus governantes, votando em partidos menores (a extrema-esquerda também avançou eleitoralmente). É ainda correto dizer que muita gente se absteve porque achou que a política era uma repetição chata.
Agora, diante do confronto com Le Pen, a maioria dos franceses está pregando o "voto útil" em Chirac, a única maneira de conter a extrema-direita e a ameaça que ela representa. As eleições foram ruins para a imagem da França, mas deverão ser benéficas no futuro para a reconstrução da política e da responsabilidade civil no país.


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