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HIP HOP
Stereo Maracanã lança CD com shows gratuitos no morro
Só não vai quem já morreu
DA REPORTAGEM LOCAL
O sonho de todo artista iniciante é
conseguir emplacar um sucesso
no rádio, aparecer na televisão e fazer shows para quem pode pagar
ingresso, certo? Não para os cariocas do Stereo Maracanã, que acabam de lançar o álbum "Combatente" pelo selo independente
Maianga Discos.
Na contramão dos lançamentos
pré-fabricados da grande indústria, o Stereo Maracanã montou
uma estratégia totalmente diferente para divulgar o seu trabalho. A
banda transformou um ônibus,
batizado de radiola móvel, em uma
espécie de trio elétrico e agendou
uma série de apresentações de graça, a maior parte delas em favelas
do Rio. Com isso, tem feito shows
quase diários desde o dia 12/7 e tem
datas marcadas até 11/8.
Parece uma saída confortável,
mas não é. Para montar uma operação dessas, é preciso a bênção
dos dois poderes, o institucional,
no caso a prefeitura, e o paralelo, os
traficantes que mandam nos morros. "Na maioria das vezes, a gente
fala com o pessoal de associação de
moradores e com as pessoas que
fazem a parte cultural do morro e
eles falam com o poder paralelo.
Desse jeito a gente fez shows no
morro do Cantagalo, no Santa
Marta e devemos fazer na Rocinha", explica Maurício Pacheco,
29, multiinstrumentista e produtor
que fundou o Stereo Maracanã
junto com o letrista e vocalista Pedro D-Lita.
"Como é uma proposta nova, de
mostrar um show autoral com músicas desconhecidas, nosso maior
"tour de force" é chamar as pessoas
para o show. O que a gente tem feito é convidar um artista local para
tocar antes, para o pessoal se identificar", completa Pacheco.
Não é difícil imaginar o público
criando identidade com o som do
Stereo Maracanã, que é definitivamente carioca sem ser bairrista.
O encanto com a banda começa
pelas letras, que, bem aos moldes
do festivo hip hop carioca, falam
tanto de exclusão social e da questão do negro quanto de diversão.
Pacheco diz que a proposta do
disco partia da questão social, mas
não deveria ficar só nela. Assim,
convivem lado a lado faixas mais
contundentes, como "Sequela da
Senzala" e "Combatente", com outras mais leves, como o funk safado
de "Freestyle Love".
Se as letras apresentam uma variedade saudável, musicalmente o
Stereo Maracanã consegue um resultado coeso a partir de muita
mistura. A base de tudo é o funk e o
hip hop, mas nessa salada entram
ingredientes de raiz, como samba e
capoeira, de pop e até uma guitarra
de blues.
Segundo Pacheco essa mistura
de ritmos e influências foi marcada
pelo processo de produção do CD.
"O disco foi feito em estúdio ao
longo de dois anos. Como a gente
não tinha banda, nem projeto de
shows, a idéia era fazer umas bases
para casar com as letras do D-Lita", explica. Nesse processo, uma
série de participações especiais deram corpo ao álbum. Entre elas,
vale destacar a do tecladista do
Rappa, Marcelo Lobato, e a do cantor angolano Big Nelo.
Para transpor o som do disco, em
que Pacheco toca a maior parte dos
instrumentos, para os shows da radiola móvel, ele dispara bases pré-gravadas de guitarras, teclados e
beats. Sobre essas bases, Pacheco
toca baixo e Pedro D-Lita e Tom
fazem os vocais e o resto da banda
fica na percussão.
Depois de 11/8, a banda virá para
a periferia São Paulo com a sua radiola móvel.
(GUILHERME WERNECK)
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