São Paulo, segunda-feira, 29 de julho de 2002

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HIP HOP

Stereo Maracanã lança CD com shows gratuitos no morro

Só não vai quem já morreu

DA REPORTAGEM LOCAL

O sonho de todo artista iniciante é conseguir emplacar um sucesso no rádio, aparecer na televisão e fazer shows para quem pode pagar ingresso, certo? Não para os cariocas do Stereo Maracanã, que acabam de lançar o álbum "Combatente" pelo selo independente Maianga Discos.
Na contramão dos lançamentos pré-fabricados da grande indústria, o Stereo Maracanã montou uma estratégia totalmente diferente para divulgar o seu trabalho. A banda transformou um ônibus, batizado de radiola móvel, em uma espécie de trio elétrico e agendou uma série de apresentações de graça, a maior parte delas em favelas do Rio. Com isso, tem feito shows quase diários desde o dia 12/7 e tem datas marcadas até 11/8.
Parece uma saída confortável, mas não é. Para montar uma operação dessas, é preciso a bênção dos dois poderes, o institucional, no caso a prefeitura, e o paralelo, os traficantes que mandam nos morros. "Na maioria das vezes, a gente fala com o pessoal de associação de moradores e com as pessoas que fazem a parte cultural do morro e eles falam com o poder paralelo. Desse jeito a gente fez shows no morro do Cantagalo, no Santa Marta e devemos fazer na Rocinha", explica Maurício Pacheco, 29, multiinstrumentista e produtor que fundou o Stereo Maracanã junto com o letrista e vocalista Pedro D-Lita.
"Como é uma proposta nova, de mostrar um show autoral com músicas desconhecidas, nosso maior "tour de force" é chamar as pessoas para o show. O que a gente tem feito é convidar um artista local para tocar antes, para o pessoal se identificar", completa Pacheco.
Não é difícil imaginar o público criando identidade com o som do Stereo Maracanã, que é definitivamente carioca sem ser bairrista.
O encanto com a banda começa pelas letras, que, bem aos moldes do festivo hip hop carioca, falam tanto de exclusão social e da questão do negro quanto de diversão.
Pacheco diz que a proposta do disco partia da questão social, mas não deveria ficar só nela. Assim, convivem lado a lado faixas mais contundentes, como "Sequela da Senzala" e "Combatente", com outras mais leves, como o funk safado de "Freestyle Love".
Se as letras apresentam uma variedade saudável, musicalmente o Stereo Maracanã consegue um resultado coeso a partir de muita mistura. A base de tudo é o funk e o hip hop, mas nessa salada entram ingredientes de raiz, como samba e capoeira, de pop e até uma guitarra de blues.
Segundo Pacheco essa mistura de ritmos e influências foi marcada pelo processo de produção do CD. "O disco foi feito em estúdio ao longo de dois anos. Como a gente não tinha banda, nem projeto de shows, a idéia era fazer umas bases para casar com as letras do D-Lita", explica. Nesse processo, uma série de participações especiais deram corpo ao álbum. Entre elas, vale destacar a do tecladista do Rappa, Marcelo Lobato, e a do cantor angolano Big Nelo.
Para transpor o som do disco, em que Pacheco toca a maior parte dos instrumentos, para os shows da radiola móvel, ele dispara bases pré-gravadas de guitarras, teclados e beats. Sobre essas bases, Pacheco toca baixo e Pedro D-Lita e Tom fazem os vocais e o resto da banda fica na percussão.
Depois de 11/8, a banda virá para a periferia São Paulo com a sua radiola móvel. (GUILHERME WERNECK)


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