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"Original Pirate Material", álbum de estréia do The Streets, projeto solo do jovem rapper britânico Mike Skinner, foi apontado pela redação do Folhateen como um dos melhores discos do ano passado não lançados no Brasil. Com a presença de Skinner entre as principais atrações do TIM Festival (que acontece no Rio de 30/10 a 1º/11), a Warner promete lançar "Original Pirate Material" em outubro. Leia abaixo um perfil de Skinner publicado no jornal londrino "The Independent"
Piratas e original
Divulgação
![](../images/042909200301.jpg) |
O rapper britÂnico Mike Skinner, que faz show no Brasil em 1° /11 , no TIM Festival, no Rio |
ANDY GILL
DO "THE INDEPENDENT"
Seu álbum de estréia, "Original Pirate
Material", já vendeu mais de 200 mil
cópias desde que foi lançado, em março
de 2002, e ele recebeu indicações para as
principais categorias do Brit Awards e do
Mercury Prize, uns dos prêmios mais cobiçados da música pop britânica.
Compreensivelmente, seu pai, John,
está orgulhoso, embora se mostre um
pouco surpreso com tudo o que vem
acontecendo. "A família inteira está espantada com o sucesso de Mike. Afinal,
ele nem sabe cantar." Obrigado, pai!
Mesmo assim, não é nada mau para
um jovem que gravou seu álbum em seu
quarto-e-sala e que, poucos anos atrás,
ainda trabalhava fritando hambúrgueres
no Burger King. Nem é por acaso que fast
food apareça com tanta frequência nas
letras de seus raps, que pintam retratos
contundentes da vida dos adolescentes
no Reino Unido de Tony Blair -uma
cultura enfadonha, sem esperança, beco
sem saída, feita de drogas, álcool, dívidas, videogames e violência, tudo isso
temperado por comida árabe, do MacDonalds ou do KFC. É o retrato mais intransigente pintado até agora pelo cenário urbano/ hip-hop britânico sobre como a Nova Depressão está sendo encarada pela geração chapada em sua passagem para o estado adulto.
Embora seja apresentado (e promovido) como parte do cenário UK garage, o
som e o estilo do The Streets guarda pouca relação com os baixos retumbantes e o
materialismo "plim plim" de bandas como So Solid Crew. As batidas de Skinner
são um composto criativo e inesperado
de UK garage, de hip hop e de ragga, magras e irritantes como um teen viciado
em heroína. E sua visão de mundo parece opor-se diametralmente às afirmações pomposas e ao estilo de vida de vidros escuros preferido pela maioria das
bandas de UK garage. Skinner gostaria
de ser aceito pela comunidade UK garage, mas entende que é pouco provável
que isso aconteça.
Seja como for, Skinner reconhece que
não faz muito sentido ele se mostrar intransigente e pronto para confrontos,
porque ele não é bom nesse tipo de coisa:
"Sempre fui irreverente, mas nunca tive
com que defender meu ponto de vista",
explica. Na escola, ele costumava ser vítima dos grandões e dos valentões e tinha
seus objetos roubados. Uma vez, numa
aula de arte, assinou um desenho como
"MC Lethal". Virou alvo de zombaria.
Apesar disso, fica claro que ele ainda
conserva uma certa admiração reprimida por esse tipo de atitude: Skinner chega
a ponto de dedicar seu álbum em parte a
"todos os sujeitos que me espancaram e
me roubaram". Ou será que está apenas
sendo irônico, esfregando seu sucesso na
cara deles?
É possível que seja isso: suas letras possuem um humor autocrítico e propositadamente inexpressivo que acrescenta
um toque ambíguo às histórias de depressão e de libertinagem, de modo que
você nunca sabe ao certo se ele quer que
você se solidarize com ele ou se está se
expondo intencionalmente ao ridículo.
Embora não haja dúvidas de que Skinner trabalhe duro em seus versos, tomando cuidado para evitar os clichês hip
hop, ele zomba da idéia de fazer poesia.
"Poetas são babacas. Eu não sou", afirmou em suas primeiras entrevistas. Ao
falar de seu trabalho, explicou: "É um
trabalho, uma habilidade que se desenvolve. Não sou artista, acho. Um artista é
alguém que tem prazer no que faz. A música é minha vida e minha paixão, mas o
único prazer que eu tenho com ela é saber que as pessoas estão curtindo".
Nem todos concordam com ele. David
Bowie, que sempre gosta de se manter a
par das novidades no cenário pop, discorda da avaliação que o rapper fez de si
mesmo. "Acho Mike Skinner muito
bom", disse na época do Mercury Prize
do ano passado. "Ele é um ótimo poeta."
Outros defensores de Skinner incluem
praticantes eternos do britpop, como
Damon Albarn,
Noel Gallagher e
Chris Martin, do
Coldplay.
Skinner nasceu
em Londres, em
1979, mas foi criado em West
Heath, Birmingham. Ele vê sua
criação com ambivalência. "Não
quero ser considerado de classe média.
Não tive uma vida fácil",
ele admite, "mas, se andasse
por aí dizendo que sou da classe
operária, acho que o pessoal de
Sheffield me daria uma surra.
Estou mais ou menos no
meio. Meu pai não trabalhava numa fábrica
-era vendedor e
acabou sendo bem-sucedido. Eu não
era pobre, mas
também não havia
muito dinheiro na
família. Uma coisa
bem sem graça".
A mesma coisa se
aplica a seu sotaque: embora tenha
sido criado em Birmingham, o sotaque de Skinner em
"Original Pirate Material" é "cockney"
puro (pronúncia da classe trabalhadora
londrina). "Os "brummies" (naturais de
Birmingham) dizem que eu falo como
londrino, e os londrinos dizem que eu
sôo como "brummie'", diz Skinner. "Não
vou esquentar a cabeça. O sotaque é
quem você quer ser."
Durante algum tempo, em sua adolescência, Skinner quis ser americano.
Atraído pelo glamour fora-da-lei do hip
hop, ele e um grupo de amigos formaram uma banda de rap e tentaram gravar
faixas no quarto dele, usando um guarda-roupa e um colchão improvisados
como uma cabine de
som. Ninguém se interessou, muito menos as gravadoras para as quais ele mandou as fitas demo. Aos 19 anos,
ele largou tudo e acompanhou a
namorada até a Austrália, carregando
seus samplers. Uma semana depois de
chegarem lá, ela o abandonou e, durante
o ano seguinte, ele mergulhou no submundo decadente do bairro de King's
Cross, em Sydney, infestado de heroína e
de prostitutas, enquanto produzia mais
versos e batidas. Orientado pelos conselhos recebidos das gravadoras que tinham rejeitado seus primeiros esforços -basicamente: "Não tente copiar outra
pessoa, seja fiel a você mesmo"-, Skinner
começou a criar uma forma inglesa de hip
hop. "Percebi que ser você mesmo é o melhor caminho a seguir, de modo que o hip
hop foi ficando mais britânico", explica.
"Meu estilo atual é fruto de um movimento pensado, algo que calculei que funcionaria. Se você quer ser os próximos Beatles,
precisa fazer algo inteiramente novo, como eles fizeram, e não apenas copiá-los,
como o Oasis fez."
Assim, depois de ter a idéia de fazer um
álbum hip hop conceitual sobre um dia na
vida de um sujeito qualquer -uma espécie de "Ulisses" rap [romance de autoria
do escritor irlandês James Joyce (1882-1941) construído com uma técnica literária
revolucionária], por assim dizer-, Skinner voltou à Inglaterra, onde foi morar em
Brixton e passou a criar mais faixas como
The Streets.
"É um nome muito bom", defende,
"porque é exatamente o que você vê onde
quer que ande -é a Inglaterra da classe
operária. Não é sobre tentar ser "do gueto",
é simplesmente o que é normal para mim.
Nunca morei num conjunto habitacional
do governo, mas também não nasci em
berço de ouro, não."
Tradução de Clara Allain
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