São Paulo, segunda, 30 de março de 1998

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LSD

Douglas Okasaki/Universo Online
Parece "viagem", mas nos anos 90 cresce o consumo da droga que levava os hippies dos anos 60 ao delírio. Vendedores dizem que a cada dia mais jovens estão atrás de LSD.


LEANDRO FORTINO
da Reportagem Local

Saem os hippies, entram os desencanados, e o LSD permanece. Mas não na mesma. Agora é sinônimo de diversão, enquanto nos anos 60 tinha um status mais nobre: revelador espiritual.
"Droga de asfalto". É como é chamado hoje o LSD (Dietilamida do Ácido Lisérgico) -ou ácido. Para comprá-lo, não é preciso se arriscar nas "bocas" de tráfico de favelas, como ocorre com o crack, a cocaína ou a maconha. A exigência é ser amigo de quem vende.
A droga vem na forma de um selo de meio centímetro, colorido, que, depois de ingerido, pode alterar o mundo real por até 12 horas. Custa caro, de R$ 20 a R$ 35, e costuma vir dos EUA e da Europa.
O traficante B.M., 25, compra cerca de 200 ácidos por mês a R$ 7 cada. Costuma vender por R$ 20 cada. "Quando chega, já está tudo encomendado e ainda fica faltando para muita gente. Antes de feriados, os pedidos sobem para 200 por semana. Vejo a cada dia mais jovens atrás de LSD", afirma.
Segundo estimativa de 97, do Programa da Organização das Nações Unidas para o Controle Internacional de Drogas (UNDCP), 26 milhões de pessoas no mundo consomem alucinógenos. A grande maioria é usuária de LSD.
Em geral, são a curiosidade e a recomendação de amigos que levam o cara à droga. O estudante G.A., 15, que já tomou ácido duas vezes, conta: "A primeira foi em janeiro, em uma praia na Bahia. Está na moda por lá, dá para achar em qualquer lugar. Troquei um relógio por três ácidos de um amigo", diz ele, que fuma maconha, mas pretende parar de consumir LSD. "Para tomar tem de estar com a cabeça legal, e agora preciso me preocupar com o colégio."
Sobre sua experiência, G.A. considera ter sido boa. "Não tive alucinações, mas fiquei acordado a noite inteira bebendo cerveja em um bar. Conheço alunos do colégio que tomaram muitos e hoje não conseguem se concentrar direito, perderam o rendimento escolar e até pararam de ir à escola."
Nas clínicas, o problema não é novidade. "100% dos jovens entre 15 e 19 anos que passam por aqui têm história de uso de LSD", diz Marcelo Carvalho, chefe da psicoterapia e coordenador do tratamento de internação e ambulatório da clínica Jorge Jaber, no Rio.
Apesar de hoje os ácidos serem mais fracos do que nos anos 60, seus efeitos permanecem no cérebro por muitos anos e podem voltar em forma de "flashbacks".
"O LSD bloqueia os receptores de serotonina (substância química que faz o contato entre as células nervosas do cérebro) na zona cortical e provoca alterações da percepção, como ilusões, alucinações, alterações da linha de pensamento e delírios", diz o psiquiatra Pablo Roig, diretor da clínica Greenwood. Ou seja, "o efeito do LSD é muito perigoso porque afeta um esquema sofisticado e refinado do corpo humano, o cérebro".
Os efeitos ainda podem desencadear estados de ansiedade e de pânico durante o consumo, conhecidos como "bad trip", que, em alguns casos, pode levar ao suicídio. Leia quadros nesta página.



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