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Com habilitação, sem coragem
POR INSEGURANÇA OU ANSIEDADE, JOVENS DEIXAM CARTEIRA NA GAVETA E PEGAM CARONA
VIVIAN RAGAZZI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Será que o carro vai morrer? Vou conseguir controlar
a embreagem?", preocupa-se a webdesigner Talita Pagani, 22, habilitada há quatro
anos, em Bauru (SP).
Foi logo numa das primeiras vezes em que pegou o carro, em 2006, que Talita percebeu se medo de dirigir.
"Para treinar, fui dirigindo
até a empresa onde fazia estágio. Aí, aconteceu o que eu
mais temia: o carro morreu.
Uma fila se formou atrás de
mim enquanto eu tentava
dar a partida novamente,
mas não conseguia", lembra.
"Mesmo com meu pai me
tranquilizando, fiquei nervosa e pedi para ele assumir a
direção." Depois disso, ela
não encarou mais o volante.
Já a estudante Anna Vilela, 19, começou a ter medo de
dirigir por influência familiar. "Passei de primeira no
exame", conta. "Mas, sempre que saía de carro com a
mãe, ela ficava apavorada:
achava que eu provocaria
um acidente, criava obstáculos para eu sair de carro", diz.
Aos poucos, a ansiedade
da mãe migrou para a filha,
que, de segura e confiante,
começou a ficar tensa.
Foi quando resolveu procurar ajuda em uma escola
especializada em pessoas
com medo de dirigir. Depois
de 20 aulas e atendimento
psicológico, Anna se livrou
da ansiedade e agora vai para qualquer lugar de carro.
Apesar de ser mais comum
entre pessoas mais velhas, o
medo de dirigir vem afetando
jovens entre 19 e 28 anos.
Na clínica-escola Cecília
Bellina, esse público representa 40% dos pacientes, na
maioria mulheres com perfil
perfeccionista, que não gostam de ser criticadas.
Os jovens que desenvolvem a fobia são, em geral, filhos de pais superprotetores,
que não incentivam o enfrentamento do medo.
Segundo a psicóloga Maira Marinho de Moura, que
trabalha com pessoas com
medo de dirigir, é normal
sentir um pouco de ansiedade na hora de enfrentar as
ruas de trânsito intenso.
Como toda experiência nova, dirigir envolve passar por
situações que podem ser difíceis no começo, mas que depois se tornam cotidianas.
"Algumas pessoas ficam
com taquicardia, tremedeira
ou suam demais no carro.
Outras não conseguem dormir na noite anterior se sabem que vão dirigir", exemplifica a psicóloga.
Nesses casos, pedir para
dar uma voltinha com pais
ou amigos não costuma ser
uma boa. "Eles não têm didática, pois já fazem tudo de
maneira automática", ressalta Maira. O ideal é procurar
ajuda especializada.
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