São Paulo, segunda-feira, 30 de agosto de 2010

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Com habilitação, sem coragem

POR INSEGURANÇA OU ANSIEDADE, JOVENS DEIXAM CARTEIRA NA GAVETA E PEGAM CARONA

VIVIAN RAGAZZI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Será que o carro vai morrer? Vou conseguir controlar a embreagem?", preocupa-se a webdesigner Talita Pagani, 22, habilitada há quatro anos, em Bauru (SP).
Foi logo numa das primeiras vezes em que pegou o carro, em 2006, que Talita percebeu se medo de dirigir.
"Para treinar, fui dirigindo até a empresa onde fazia estágio. Aí, aconteceu o que eu mais temia: o carro morreu. Uma fila se formou atrás de mim enquanto eu tentava dar a partida novamente, mas não conseguia", lembra.
"Mesmo com meu pai me tranquilizando, fiquei nervosa e pedi para ele assumir a direção." Depois disso, ela não encarou mais o volante.
Já a estudante Anna Vilela, 19, começou a ter medo de dirigir por influência familiar. "Passei de primeira no exame", conta. "Mas, sempre que saía de carro com a mãe, ela ficava apavorada: achava que eu provocaria um acidente, criava obstáculos para eu sair de carro", diz.
Aos poucos, a ansiedade da mãe migrou para a filha, que, de segura e confiante, começou a ficar tensa.
Foi quando resolveu procurar ajuda em uma escola especializada em pessoas com medo de dirigir. Depois de 20 aulas e atendimento psicológico, Anna se livrou da ansiedade e agora vai para qualquer lugar de carro.
Apesar de ser mais comum entre pessoas mais velhas, o medo de dirigir vem afetando jovens entre 19 e 28 anos.
Na clínica-escola Cecília Bellina, esse público representa 40% dos pacientes, na maioria mulheres com perfil perfeccionista, que não gostam de ser criticadas.
Os jovens que desenvolvem a fobia são, em geral, filhos de pais superprotetores, que não incentivam o enfrentamento do medo.
Segundo a psicóloga Maira Marinho de Moura, que trabalha com pessoas com medo de dirigir, é normal sentir um pouco de ansiedade na hora de enfrentar as ruas de trânsito intenso.
Como toda experiência nova, dirigir envolve passar por situações que podem ser difíceis no começo, mas que depois se tornam cotidianas.
"Algumas pessoas ficam com taquicardia, tremedeira ou suam demais no carro. Outras não conseguem dormir na noite anterior se sabem que vão dirigir", exemplifica a psicóloga.
Nesses casos, pedir para dar uma voltinha com pais ou amigos não costuma ser uma boa. "Eles não têm didática, pois já fazem tudo de maneira automática", ressalta Maira. O ideal é procurar ajuda especializada.


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