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CAPA
Uma leva de jovens escritores brasileiros se inspira no best seller "Alta Fidelidade" e usa Internet e livros caseiros para divulgar seus trabalhos
Net ajuda escritores pop
Marcelo Min/Folha Imagem
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Marcelço Silva Costa lançou um livro independente e colabora com vários sites |
ALEXANDRE PETILLO
DO NOTÍCIAS POPULARES
A explosão do rock transformou o mundo moderno.
Tornou-se a ferramenta de comunicação entre jovens. E elevou ao status de arte uma estrutura musical
simples. Mas não modificou a literatura que, por ser
menos instantânea que a música pop, resistiu ao rock
por mais de 40 anos. Quase resistiu.
Às portas do século 21, um novo segmento se forma
no mercado. Liderado pelo inglês Nick Hornby e seu
best seller "Alta Fidelidade" (Editora Rocco), um grupo
de escritores conquista a juventude mundial, com seus
livros sobre pessoas de 20 anos e seus corações partidos.
"Alta Fidelidade" é a obra mais comentada no mundo
pop. Eleito como a biografia daqueles que se criaram
com rock, seriados americanos e desenhos animados, o
livro inspirou jovens escritores do mundo inteiro.
Assim como Hornby, vários novos autores chamaram a atenção da mídia, impulsionando o mercado da
literatura pop. Nomes como Irvine Welsh ("Trainspotting"), Alain de Botton ("Ensaios de Amor") e Roddy
Doyle ("The Commitments") conquistaram público e
crítica contando histórias de jovens.
No Brasil, uma nova geração, disposta a escrever como e para jovens, começa a despontar via Internet para
driblar a falta de oportunidades no mercado impresso.
Um dos grandes nomes dessa safra é o gaúcho André
"Tax" Takeda, 27. Autor de "O Clube dos Corações Solitários", Takeda bancou sozinho as despesas para confecção e lançamento do livro. Fez uma tiragem de 200
cópias, que esgotou rápido. Mesmo assim, André teve
seu livro recusado por diversas editoras. "O mundo editorial e a crítica não reconhecem como literatura uma
história de um adolescente. O best seller "O Apanhador no Campo de Centeio" , de J. D. Salinger, levou dez anos
para ser publicado. Foi recusado por diversas editoras
sob desculpas inadmissíveis", disse Takeda.
Na tentativa de mudar o panorama da literatura jovem
no país, André criou a revista eletrônica "TXTmagazine.com" e reúne novos autores que estejam produzindo
literatura, segundo ele, "fora do esquemão".
Uma das colaboradoras fixas da TXTmagazine é Cecília Gianetti, vocalista da banda carioca 4 Track Valsa.
Cecília cria curiosas histórias adolescentes, abusando de
seu espírito crítico. Ela está preparando uma revista dedicada a novos autores e seus textos podem ser encontrados no http://entreparenteses.blogspot.com.
O escritor Marcelo Silva Costa, 29, assim como Takeda, atacou no esquema independente e lançou "Domingo". Inspirado numa música de Morrissey, o livro mistura contos com letras de música e situações do cotidiano. "Dá para vender tranquilamente 3.000 cópias", disse
Marcelo Costa, que também colabora com vários sites.
Outro grande nome é Fábio Bianchinni, 25, que escreve deliciosas histórias de um mundo paralelo ao nosso.
Ele viaja em coisas como Slash tocando no Oasis e os Engenheiros do Hawaii gravando uma música chamada
"Era Um Garoto Que Como Eu Amava os Smiths e o
Morrissey". Essas histórias estão no site "1999" (http://www.geocities.com/CollegePark/Hall/3340/).
Marcelo Rubens Paiva, autor de "Feliz Ano Velho",
talvez o livro mais lido pelos jovens brasileiros nos anos
80, acredita na mudança de linguagem utilizada pelos
novos escritores. "Não existe literatura para jovem. Existe livro bom ou ruim. O autor deve transmitir o sentimento de sua época. Agora, não é interessante falar como se estivesse no século passado. Tem que transmitir a
emoção do momento. Tanto faz se ele fala de Mozart ou
de The Clash", disse Paiva.
"Guerra. Asfalto.
Tortura. Uma xícara
de café bem quente
em um gole só. Frio.
40 graus centígrados. Sede. Atropelamento. Dor de dente.
Gripe. Ouvir um disco inteiro do Yes. Pepinos. Morder a língua. Trabalhar fim-de-semana. Vestibular. Ressaca. Estudar. Chuck Norris
em um sábado à tarde. Estar perdido no
meio da madrugada
naquele bairro que
você jamais pensou
que iria entrar, quem
dera se perder. Pessoas chatas. Vegetarianos terroristas.
Cerimônia do Oscar
em versão dublada.
Faltar luz sem que
você tivesse salvado
seu trabalho no micro. Rodar de ano. O
aumento dos preços
dos CDs. Hoje eu fiquei boa parte do
tempo listando coisas horríveis que podem acontecer com
um ser humano. E
cheguei à triste conclusão de que nada é
pior do que ouvir da
sua namorada,
aquela que você tem
certeza que é a mulher da sua vida, um
"eu não te amo
mais"."
(Trecho de "O Clube dos Corações Solitários", de André Takeda)
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