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Adaptação cinematográfica do livro de Nick Hornby troca Londres por Chicago
Mais romance, menos cultura pop
MARCELO VALLETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A adaptação cinematográfica do livro "Alta Fidelidade" ("High Fidelity"), do britânico Nick Hornby, dirigida por Stephen Frears ("Ligações Perigosas", "Minha Adorável Lavanderia"), que acaba de chegar ao
Brasil, muda a ambientação da história de Rob Fleming
(interpretado por John Cusack, de "Quero Ser John
Malkovich", que também ajudou a escrever o roteiro e a
produzir a obra), dono de uma loja de discos raros em
vinil, de Londres para Chicago, nos EUA.
A mudança de país transforma um pouco o clima original da história, que enfoca o romance de Rob com a
advogada Laura, que conheceu o protagonista quando
ele era DJ de uma casa noturna. A narrativa começa
quando Laura decide abandonar Rob, e ele, inconformado, repassa seus fracassos amorosos fazendo uma
lista dos cinco maiores foras que levou na vida.
Listas são comuns no universo dos fanáticos por música pop, como Rob e seus dois empregados na loja de
disco, os dilacerantemente engraçados Barry e Dick,
ambos bastante caricatos. Volta e meia as revistas do
"métier" publicam listas dos melhores discos, das melhores canções, dos melhores videoclipes, das melhores
capas, das melhores bandas... E os "nerds do pop" de
"Alta Fidelidade" adoram perder tempo neste exercício
classificatório. Rob faz listas até dos melhores empregos
-o número um desta lista é "ser repórter da revista
"New Musical Express" entre 1976 e 1979, só para entrevistar The Clash, Sex Pistols e Pretenders".
Na versão de Frears, que dura pouco mais de duas horas, o fanatismo por Elvis Costello -"High Fidelity" é
título de um dos maiores hits do músico britânico-
praticamente desaparece. Apenas a balada "Shipbuilding" toca ao fundo, em uma cena.
E não só as paixões musicais são retratadas mais palidamente: os relacionamentos amorosos antigos de Rob
-as outras moças da tal lista- são revistos muito rapidamente, concentrando a trama no dilema atual do
protagonista, mordido pelo ciúme causado pelo novo
namorado de Laura, o hippie tardio Ian Raymond, vivido por Tim Robbins ("Bob Roberts").
Mas o filme ainda aproveita uma série de piadas que
serão entendidas apenas por aficionados em música
pop, porém em quantidade bem menor que o livro -e
também comparado à ótima adaptação para os palcos
feita pela Sutil Companhia de Teatro, de Curitiba, intitulada "A Vida É Cheia de Som e Fúria", encenada neste
ano em São Paulo.
Pelo menos o filme preserva questões centrais no retrato não só da geração "30 e poucos anos", mas também no dos cultores vorazes do universo pop. "Escuto
música pop porque sou infeliz ou sou infeliz porque escuto música pop?", questiona-se Rob no início de "Alta
Fidelidade". Uma pergunta muito difícil de responder.
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