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50 anos de TV e solidão compartilhada no Brasil
Luís Gustavo Fischer
COLUNISTA DA FOLHA
Quanto tempo é uma geração? Historiadores usam o
período de 25 anos. Isso sugere que a cada quarto de
século as coisas mudam tanto que faz sentido distinguir
duas gerações. Pode ser que essa conta mude, porque
hoje tudo parece mudar de modo mais intenso. Neste
século é costume marcar as mudanças por décadas, como se cada uma já fosse bastante distinta de outra.
De todo modo, 50 anos é um tempão. São duas gerações, segundo a primeira conta, cinco pela segunda. E
50 anos é o tempo de vida da televisão no Brasil. Quase
nem dá para imaginar o que seria do país sem ela. Como saberíamos das notícias? Onde nos abasteceríamos
de fantasia e diversão? E o futebol, e as Olimpíadas?
Bom, é certo que havia tudo isso antes da TV. Assim
como as pessoas viviam antes da geladeira e do rádio,
do automóvel e da imprensa diária. Mas o poder de fogo do veículo que a gente hoje chama de "telinha" parece mais intenso (dá pra imaginar dois dias sem nenhuma transmissão de imagens e sons em todo o mundo?).
Primeiro, parecia um experimento científico alucinado. Quando começou a fazer sucesso, arrepiou os cabelos das mais sensíveis inteligências. O imenso poeta de
língua inglesa T. S. Eliot disse, em 1963: "A televisão é
um meio de entretenimento que permite a milhões ouvirem a mesma piada ao mesmo tempo e ainda assim
continuarem sozinhos". Era a solidão compartilhada.
Talvez ele tivesse razão e fosse melhor a vida sem a
TV. Mas o fato é que ela triunfou na cultura de nosso
tempo, em 50 anos de Brasil e 64 de mundo. Ela nos entretém e informa, mas também nos paralisa e bestifica.
Bota artistas na tela, e assim os conhecemos e podemos
apreciá-los, e também bota dementes que tripudiam a
pobreza financeira e mental de gente igual a nós.
Saiu um livro muito interessante, que conta de modo
breve e fragmentado, mas muito agradável, o capítulo
brasileiro dessa história. É o "Almanaque da TV - 50
Anos de Memória e Informação", escrito pelo Rixa, que
na certidão se chama Ricardo Xavier, roteirista de televisão. Bom para você ler e emprestar pro pai e pra mãe.
E quem sabe para ler com eles.
Almanaque da TV
Autor: Rixa
Editora: Objetiva, 288 págs.
Quanto: R$ 28,50, em média
E-mail: fischerl@uol.com.br
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