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INTERNETS
Ronaldo Lemos - ronaldolemos09@gmail.com
Camelô digital
Já ouviu falar na banda Desejo de Menina? Parangolé? Black Style? Forró do Muído? Em comum,
todas têm pelo menos 1 milhão de views em seus
vídeos no YouTube. São tantos views quanto os de uma
cantora famosa como a Maria Rita.
A diferença é que a Maria Rita está sempre na mídia
tradicional (TV, jornais e rádios). Já essa outra galera
tem uma presença de mídia infinitamente menor ou
mesmo inexistente. Apesar disso, fazem parte do conjunto de artistas mais populares do país, mesmo que
grande parte das pessoas da classe A e B nunca tenham
ouvido falar deles.
Isso acontece por causa do uso intensivo e esperto por
parte dos artistas da periferia de sites como o YouTube e
o Orkut para divulgar sua música e estabelecer relações
diretas com os fãs. Vale notar que quase nenhuma banda da periferia usa o MySpace, conhecido justamente
por ser uma plataforma de divulgação de música. O uso
do Facebook também é discreto. E o Twitter apenas começa a aparecer.
Mas o mais interessante é como esses artistas superpopulares sabem usar também outras redes. Os camelôs, por exemplo, são uma forma importante de divulgação. E não estou falando de pirataria. Grande parte dos
artistas entrega a música para ser distribuída livremente pelos camelôs, que funcionam como marqueteiros.
Se essa apropriação da tecnologia por parte da periferia já foi suficiente para inventar modelos de negócio, a
tendência é ainda mais impressionante. Acabei de participar de uma pesquisa sobre a cumbia villera, estilo musical das periferias de Buenos Aires, primo do funk carioca. Lá, até os camelôs estão ficando obsoletos. A distribuição da música está sendo feita principalmente por
celulares com a tecnologia "bluetooth". E no Brasil já
começam a aparecer relatos de que o mesmo acontece
no tecnobrega do Pará e no pagode elétrico de Salvador.
Há um professor do MIT que costuma dizer que muitas das inovações mais importantes acontecem nas pontas, por meio da experiência concreta dos usuários de
qualquer tecnologia. Substitua "pontas" por "periferias" e está aí uma receita nova para enxergar o Brasil.
MONITOR
JÁ ERA
Procurar o nome do pretendente na lista telefônica
JÁ É
Pesquisar no Google informações sobre um paquera
JÁ VEM
Tirar fotos com o celular para identificar quem é aquela pessoa na balada (http://bit.ly/ZbZYO)
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