São Paulo, sábado, 5 de maio de 2012

CAFUNÉ

O meu olho vê

CLARICE REICHSTUL
COLUNISTA DA FOLHA

Como é que as crianças vão à escola? Não quero dizer o modo de transporte, mas o caminho mesmo. Eu tenho um filho de quatro anos, o Benjamim, e vamos à escola a pé, pois ela fica a apenas três quarteirões de casa.
O Benjamim não acha muita graça em ficar andando a pé por aí. Por isso inventamos um jogo que aplicamos a quase todas as situações de deslocamento. É bem simples e se resume a observar o entorno a partir da frase "o meu olho vê...". O meu olho vê uma flor laranja. O meu olho vê um jabuti comendo banana. O meu olho vê um prédio de azulejos.
O jogo também funciona para viagens de carro, ônibus ou metrô. Em qualquer lugar sempre tem algo curioso para ver. E o nosso caminho para a escola é pontuado por essas coisas interessantes: a quaresmeira que floresceu, o gato que toma sol, a flor que parece uma cabeça de pássaro exótico, a pitangueira carregada, os cachorros dos vizinhos e tudo o mais. Quando percebemos, já estamos atravessando a rua para chegar ao portão da escola.
Geralmente, quando adultos, perdemos o interesse por esse caminho -não no sentido filosófico, mas em termos concretos. Nós nos esquecemos de árvores, placas, bichos e pessoas que vemos por aí. Reclamamos da mesmice da vida. O melhor da brincadeira do olho é que o caminho fica divertido. Sempre tem novidade em uma coisa tão ordinária como ir para a escola. O meu olho vê uma cidade mais interessante.

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