São Paulo, quinta, 12 de novembro de 1998
 
 


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PROFISSÃO
Quatro jornalistas de destaque esclarecem dúvidas dos candidatos à carreira
"O diploma é dispensável"

Lili Martins/Folha Imagem
Ana Carolina Margini, 18, quer saber se a Internet é um novo campo de trabalho para o jornalismo


O curso de jornalismo matutino da USP é o terceiro mais concorrido da Fuvest. Cada vaga vai ser disputadapor 61,72 candidatos. O apresentador do "Jornal da Band", Paulo Henrique Amorim, o jornalista Gilberto Dimenstein, do Conselho Editorial da Folha, o diretor-geral do Universo Online, Caio Túlio Costa, e o colunista da Folha e editor do "Observatório da Imprensa", Alberto Dines, respondem a dúvidas de vestibulandos, comentando as novas possibilidades do mercado de trabalho na Internet, o jornalismo televisivo e a atual situação da mídia impressa no país. (LRG)
Paloma Automari, 18 - Para ser jornalista é preciso ter diploma?
Paulo Henrique Amorim -
O diploma é absolutamente dispensável. Não há nada de que você necessite para trabalhar com jornalismo que não aprenda em três meses.
Ana Carolina Margini, 18 - A faculdade dá base para ser um bom jornalista ou você pode fazer outro curso e escrever sobre sua área?
Gilberto Dimenstein -
Eu sou daqueles que acreditam que alguém pode ser um grande jornalista independentemente da faculdade. Mas uma boa faculdade pode dar uma boa base para sua formação. E a boa faculdade é aquela que simula a reportagem, a edição, a fotografia. O treino da prática jornalística e bons laboratórios são essenciais. A boa faculdade também deve ajudá-lo a ter uma visão crítica sobre os meios de comunicação. Mas as pessoas formadas em outros cursos também podem se adaptar bem à profissão.
Ana Carolina - Em que momento do curso você tem informação suficiente para optar entre o impresso e o eletrônico?
Caio Túlio Costa -
Depende do curso. A rigor, para fazer jornalismo, nada muda. O que muda é apenas a maneira da veiculação da notícia, da análise, da opinião, do comentário. Saber ler, saber escrever, conseguir contar bem uma história e entender o que é notícia estão no cerne da profissão. Se a coisa vai sair impressa ou não, é detalhe menor.
Paloma - A faculdade dá embasamento para trabalhar na área?
Dimenstein -
A faculdade no Brasil, com algumas exceções, ainda está longe de formar um profissional bem preparado. Isso ainda é feito pelas redações. As redações são as grandes escolas. Eu sou contra o diploma, mas a favor das faculdades de jornalismo, que são importantes, se treinarem o aluno para a prática.
Rachel Valli Bonino, 18 - Quando você sai da faculdade consegue trabalhar em qualquer meio de comunicação ou tem de se especializar antes?
Amorim -
Depois de formado, o jornalista deve estar preparado para trabalhar em qualquer meio de comunicação.
Luciana Aparecida Batista Sales, 19 - O curso vai me preparar para ser uma boa jornalista?
Dimenstein -
Depende da faculdade e dos professores. A questão fundamental é o curso ter jornal-laboratório, pelo menos com uma frequência a cada 15 dias. Além disso, você deve poder trabalhar com rádio, TV e Internet. É importante que o aluno domine as quatro linguagens. O jornalista do futuro vai ser o jornalista multimídia.
Aline Heyn, 18 - Que oportunidades os grandes jornais e revistas dão para o formando? Como é a receptividade nas redações?
Alberto Dines
- Os jornais e revistas têm um ambiente favorável. Eu criei nos anos 80, na Editora Abril, em convênio com o sindicato e com as escolas de jornalismo, um curso com trabalhos práticos. Depois do curso os estagiários eram disputados pelas editorias. A receptividade era muito boa. A Folha também tem um programa de treinamento.
Cibele Viçoso dos Santos, 18 - Quais são as oportunidades que o jornalismo televisivo dá para quem está se formando?
Amorim -
O pacote do FMI estreitou o mercado, as empresas reduziram consideravelmente o número de vagas. A melhor maneira de começar a carreira é ter uma experiência anterior em jornalismo escrito.
Daniel Mendes Torres, 20 - O que vale mais a pena fazer: especializar-se em uma área ou saber um pouco de tudo?
Dines
- O jornalista deve ser bem-informado, tem de ter uma visão multidisciplinar. Não vai poder falar sobre economia se não conhecer a realidade nacional e internacional. O conhecimento não é segmentado, a imprensa é que o segmenta.
Cibele - Com a expansão das TVs a cabo, aumentou o campo de trabalho do jornalista?
Amorim -
Teoricamente sim, mas na prática não. Com exceção da Globo News, não há investimento em jornalismo por parte das outras TVs a cabo.
Ana Carolina - A Internet representa um novo campo de trabalho para o jornalista?
Costa -
Sim. E mais: talvez seja a única atividade que, neste tempo de crise, esteja empregando jornalistas em vez de dispensá-los.
Cibele - Como as TVs selecionam os profissionais? O que devo fazer para ser correspondente internacional de uma emissora?
Amorim
- Deve ser uma boa repórter local. Antes de entender da Bósnia, tem de entender da zona leste. Só assim vai poder ser uma boa correspondente. As emissoras selecionam os profissionais pelo seu desempenho e também pelo currículo.
Ana Carolina - Há a possibilidade de os meios de comunicação copiarem as matérias publicadas na Internet? Até que ponto isso tira a importância do repórter ir checar as informações?
Costa
- Pirataria existe sempre, seja na Internet, na imprensa, no rádio ou na televisão. Os meios de comunicação sérios não costumam copiar informações e, quando fazem, citam a fonte. Em nenhum momento ficará desimportante a necessidade de o jornalista ir buscar informações nas fontes, instituições, nos livros ou então na própria Internet.
Ana Carolina - Se você optar por trabalhar com o jornalismo televisivo ou com Internet, vai ficar defasado com relação ao impresso?
Costa -
Absolutamente não. Repito o que disse antes. Jornalismo é o mesmo, não importa o meio. A única diferença, em relação ao jornal, por exemplo, é que na Internet você pode corrigir os erros de imediato. No jornal, só no outro dia.
Daniel - Como é o ambiente de trabalho? Existe muita competição? Um passa a perna no outro?
Costa
- O ambiente de trabalho na redação do UOL é muito parecido com o de qualquer outra redação. Existem os jornalistas mais competitivos, os mais dedicados, os mais preguiçosos... Tudo normal.



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