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RESUMINDO
"Poeta dos escravos" cantou o amor
FRANCISCO ACHCAR
especial para a Folha
Castro Alves (1847-1871) apareceu numa época particularmente agitada da vida política e
ideológica do Brasil. A ebulição
daquele momento envolveu a literatura e fez da poesia declamada em espaços públicos (inclusive nas praças) uma forma privilegiada de comunicação.
Era um tempo em que faziam-se frequentemente comícios e se
discutia a Guerra do Paraguai, a
questão militar, os problemas
centrais do Segundo Império, a
viabilidade da República etc.
Com seu discurso de tom elevado e sua figura bela e empolgante, o poeta chegava na hora certa.
Foi consagrado principalmente
porque sua eloqüência agradava
muitíssimo ao público da época
em que viveu.
A escravidão foi o tema mais
candente de seus poemas de sentido social, mas ele não foi apenas o "poeta dos escravos", como
é chamado, e "Navio Negreiro",
"Vozes d'África" e outros poemas de temática abolicionista
não foram incluídos em "Espumas Flutuantes" (coletânea que
publicou em 1870), reservados
que foram para outro livro, afinal
publicado postumamente, chamado "Os Escravos".
Castro Alves foi também um
grande poeta do amor e da morte, e esses temas existenciais
avultam em "Espumas Flutuantes", deixando em segundo plano
a poesia de fundo cívico e social
que também se encontra no livro. Como poeta do amor, Castro
Alves é um caso singular entre os
nossos românticos.
Sua expressão amorosa é carregada de sensualidade, e a representação da mulher, nos melhores momentos de seus poemas
eróticos, é marcada por uma realidade, uma "carnalidade" inteiramente ausente da poesia de
seus contemporâneos e predecessores imediatos, que tendiam
à pura idealização feminina, seja
na figura da mulher-anjo, seja na
da mulher-demônio.
Castro Alves, diversamente, fala de mulheres "de carne e osso",
por assim dizer, mulheres que
são objeto de desejos concretos.
A escola condoreira, de que ele é
a maior figura, caracteriza-se pelo gosto das imagens grandiosas,
realçadas por antíteses, por hipérboles (exageros) e pelo tom
elevado, de oratória enfática e
messiânica, a serviço de causas
sociais.
No poeta das "Espumas Flutuantes", essas características
não se encontram apenas em
poemas de temática que se pode
chamar épica, porque abordam
grandes questões coletivas, mas
aparece também em poemas
propriamente líricos, seja os de
tema amoroso, seja os que nos
revelam o poeta como um admirável pintor de paisagens.
Suas imagens, quase sempre
arrojadas e intensas, costumam
alternar o pequeno e o grandioso
e têm o que se pode chamar
"pendor cósmico" - uma preferência pelos magnos elementos
da natureza, como oceanos, céus,
noite, estrelas, montanhas e tufões.
A atualidade da obra de Castro
Alves pode ser comprovada também no cinema. Um dos próximos projetos do cineasta Nelson
Pereira dos Santos, diretor do
clássico "Vidas Secas", é o longa-metragem "Guerra e Liberdade
-Castro Alves em São Paulo", co-produzido com Portugal, que será ambientado na cidade de São
Paulo no ano de 1868.
Francisco Achcar é professor de língua e literatura latina na Unicamp e autor de "Lírica e
Lugar-comum" (Edusp)
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