São Paulo, quinta-feira, 01 de agosto de 2002
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HISTÓRIA

Sociedade e identidade no Brasil colônia

ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Aação de conquista e de exploração do território brasileiro na fase colonial engendrou uma sociedade polarizada, rigidamente hierarquizada e discriminatória. Ela se organizou primeiramente em torno da cultura da cana-de-açúcar, baseada em dois grupos principais: os proprietários (de terras e de seres humanos) e os escravos.
Entre esses dois pólos, surgiram várias camadas sociais constituídas por funcionários da administração colonial, comerciantes, lavradores e artesãos, os quais, apesar de serem livres, viviam sob variados graus de dependência e de subordinação em relação aos grandes proprietários. Como o investimento para montar um engenho era muito elevado, dificilmente os homens livres da colônia conseguiam acumular dinheiro e, assim, enriquecer e ascender socialmente.
No período da mineração (século 18), esse quadro se modificou um pouco. Técnicas simples de prospecção (faiscação) ofereciam a homens livres persistentes e ousados a possibilidade de encontrar ouro e pedras preciosas e de prosperar rapidamente. Alguns poucos escravos compravam sua liberdade ou eram alforriados como recompensa. No período de crise da mineração, milhares foram libertados, pois os senhores não tinham como mantê-los.
Tudo isso contribuiu para que, durante o século 18, a sociedade se apresentasse mais diversificada e com maior mobilidade. Mas o enriquecimento, apesar de importante, não era tudo. No Brasil colônia, o reconhecimento social, o prestígio e o poder coincidiam com a posição social dos proprietários brancos, e as condições de inferioridade e submissão eram associadas à posição dos escravos negros. Além do econômico, cristalizou-se um outro critério de diferenciação social: a cor. Como se define pelo nascimento, a cor é um critério típico das sociedades estamentais e aristocráticas.
Numa sociedade colonial escravista como a brasileira, a ascensão social cobrava um preço: implicava também um processo de "embranquecimento", que podia ser efetivo ou ideológico. Era efetivo quando resultado de sucessivas mestiçagens com o branco. Era ideológico quando o negro mantinha sua cor, mas abria mão de suas origens, de sua cultura e de sua indignação, isto é, integrava-se à sociedade dominante, assumindo os valores e as regras de comportamento típicas dos brancos em relação à violência, à discriminação e à opressão que vitimavam os africanos no Brasil.


Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e professor no Colégio Rio Branco e na Universidade Grande ABC. Email: roberson.co@uol.com.br


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