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HISTÓRIA
Sociedade e identidade no Brasil colônia
ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Aação de conquista e de exploração do território brasileiro
na fase colonial engendrou uma
sociedade polarizada, rigidamente hierarquizada e discriminatória. Ela se organizou primeiramente em torno da cultura da cana-de-açúcar, baseada em dois
grupos principais: os proprietários (de terras e de seres humanos) e os escravos.
Entre esses dois pólos, surgiram
várias camadas sociais constituídas por funcionários da administração colonial, comerciantes, lavradores e artesãos, os quais, apesar de serem livres, viviam sob variados graus de dependência e de
subordinação em relação aos
grandes proprietários. Como o
investimento para montar um engenho era muito elevado, dificilmente os homens livres da colônia conseguiam acumular dinheiro e, assim, enriquecer e ascender
socialmente.
No período da mineração (século 18), esse quadro se modificou
um pouco. Técnicas simples de
prospecção (faiscação) ofereciam
a homens livres persistentes e ousados a possibilidade de encontrar ouro e pedras preciosas e de
prosperar rapidamente. Alguns
poucos escravos compravam sua
liberdade ou eram alforriados como recompensa. No período de
crise da mineração, milhares foram libertados, pois os senhores
não tinham como mantê-los.
Tudo isso contribuiu para que,
durante o século 18, a sociedade se
apresentasse mais diversificada e
com maior mobilidade. Mas o
enriquecimento, apesar de importante, não era tudo. No Brasil
colônia, o reconhecimento social,
o prestígio e o poder coincidiam
com a posição social dos proprietários brancos, e as condições de
inferioridade e submissão eram
associadas à posição dos escravos
negros. Além do econômico, cristalizou-se um outro critério de diferenciação social: a cor. Como se
define pelo nascimento, a cor é
um critério típico das sociedades
estamentais e aristocráticas.
Numa sociedade colonial escravista como a brasileira, a ascensão
social cobrava um preço: implicava também um processo de "embranquecimento", que podia ser
efetivo ou ideológico. Era efetivo
quando resultado de sucessivas
mestiçagens com o branco. Era
ideológico quando o negro mantinha sua cor, mas abria mão de
suas origens, de sua cultura e de
sua indignação, isto é, integrava-se à sociedade dominante, assumindo os valores e as regras de
comportamento típicas dos brancos em relação à violência, à discriminação e à opressão que vitimavam os africanos no Brasil.
Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e professor no Colégio
Rio Branco e na Universidade Grande ABC.
Email: roberson.co@uol.com.br
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