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VALE A PENA PESQUISAR
MATEMÁTICA
Paranormalidade na mira da probabilidade
JOSÉ LUIZ PASTORE MELLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Imaginemos a seguinte situação: o leitor está tranqüilamente deitado na cama quando se
lembra de um primo distante
que não vê há muito tempo. Vinte minutos depois, toca o telefone
e você recebe a triste notícia do
falecimento desse primo. Numa
situação dessas, qualquer pessoa
relacionaria os dois fatos e -como todos nós provavelmente já
ouvimos alguma história desse
tipo- concluiria que a paranormalidade existe, correto? Examinando o problema com olhar
matemático, pode-se mostrar
que as coisas não são bem assim.
O problema em questão pode
ser investigado por meio do cálculo da probabilidade de que,
tendo pensado numa pessoa, venhamos a saber nos 20 minutos
seguintes, por puro acaso, sem
que nisso haja qualquer influência paranormal, que essa pessoa
tenha morrido. Para tanto, necessitamos, para começar, dos
seguintes dados: 1) o número de
pessoas de cuja morte somos informados, por exemplo, em um
ano; 2) o número de vezes que
pensamos nessas pessoas durante o período convencionado.
Adotaremos estimativas baixas
para 1 e 2, com o intuito de dar
ainda mais credibilidade ao nosso cálculo. Para 1 estimaremos
dez pessoas, lembrando que,
mesmo não tendo conhecido
pessoalmente algumas personalidades importantes, sua morte
também seria computada, já que
uma personalidade pode ocupar
nossos pensamentos em alguns
momentos. Para 2, estimaremos
que pensamos apenas uma vez
em cada uma das dez pessoas ao
longo de um ano.
Como um ano tem 26.280 intervalos de 20 minutos, a chance
de pensarmos em alguma das
dez pessoas, 20 minutos antes de
termos recebido o comunicado
da sua morte, é 1/2.628.
Como no Estado de São Paulo
nós temos cerca de 30 milhões de
pessoas -já descontadas as
crianças muito pequenas-, e cada uma delas também está sujeita à probabilidade que acabamos
de calcular, multiplicando
1/2.628 por 30 milhões concluiremos que o puro acaso é responsável por mais de 11 mil casos de
pessoas por ano que recebem a
notícia da morte de um conhecido poucos minutos após terem
pensado nele.
Uma vez que essas pessoas certamente formarão uma rede de
divulgação de uma suposta paranormalidade, é quase impossível
que -entre as pessoas que
conhecemos- nenhuma tenha
ouvido falar de alguma ocorrência como a apresentada.
Conclui-se daí que o tipo de
acontecimento supostamente
premonitório que acabamos de
analisar é estatisticamente bastante freqüente, nada tendo a ver
com a paranormalidade.
José Luiz Pastore Mello é mestre em
ensino de matemática pela USP e professor do Colégio Santa Cruz.
E-mail: jlpmello@uol.com.br
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