São Paulo, terça-feira, 05 de fevereiro de 2008
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EXPECTATIVA

Trote é ritual, mas não aceite abusos

Pesquisar como foram as recepções anteriores é importante para saber se veteranos respeitam calouros

DA REDAÇÃO

Trote: "zombaria a que veteranos das escolas sujeitam os calouros". Assim o dicionário "Aurélio" define o ritual de entrada na vida universitária.
Mas, por timidez ou medo, muitos calouros, que passaram o ano passado inteiro pensando só em pisar na faculdade, têm dúvidas sobre ir ou não nos primeiros dias. Alguns ficam tímidos -por ter de falar com muita gente nova- e outros, receosos -devido a brincadeiras sem graça que alguns veteranos ainda insistem em fazer.
"O trote é um festejo", diz o psiquiatra Içami Tiba, especialista em adolescência e autor do livro "Quem Ama Educa". "Se não passar do limite, o calouro deve ir, sim. É um momento de integração", diz ele. "Quem não vai ao trote fica até frustrado, porque chega cabeludo na faculdade depois [que as aulas já começaram] e diz: "Poxa, entrei e ninguém me viu?'"
Para Tiba, não há problema em deixar que veteranos cortem os cabelos dos calouros. "Ficar careca faz parte do ritual. Não tem mal nenhum."
Já a psicóloga Celi Piernikarz, que trabalha com adolescentes, questiona o trote. Diferentemente de Içami Tiba, ela não concorda com o corte de cabelo. "A entrada na faculdade tem que ser prazerosa, qualquer brincadeira, mesmo que seja raspar a cabeça, pode cortar a alegria", pondera. "Às vezes, sem perceber, o veterano coloca o calouro numa situação desconhecida, que o intimida."
No entanto, se for para ajudar uma instituição, como com a doação de sangue, a psicóloga tem outra opinião: "Aí é diferente. Vale a pena ajudar".

Solidário
É o que acontece no Instituto Presbiteriano Mackenzie. Desde 2001, foi implantado o "trote solidário" -os calouros são convocados para fazer ações sociais, como doar sangue, medula óssea, livros e agasalhos.
"Nós não aprovamos o trote comum porque há muitos abusos", diz o vice-reitor da instituição, Pedro Ronzelli. "Se fosse apenas um momento de integração, seria ótimo. Mas os alunos bebem muito e cometem exageros, com os quais nós não concordamos."
No Mackenzie, a pintura no rosto dos calouros, o corte de cabelo e "brincadeiras" como pedir dinheiro no semáforo só acontecem para fora da instituição. "Acho errado se colocar exclusivamente contra o trote, por isso, transformamos o que ele era em um dia saudável", afirma Ronzelli.
O calouro não deve aceitar abusos durante o trote e, se houver algum exagero na "brincadeira", procurar a direção da instituição.
Para Celi Piernikarz, é importante que o calouro pesquise sobre os trotes que já ocorreram na faculdade em que foi admitido. "Assim, a chance de ele não ter surpresas desagradáveis será menor." (LAS)


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