São Paulo, quinta-feira, 05 de dezembro de 2002
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MATEMÁTICA

Mapas e a Lei de Murphy

JOSÉ LUIZ PASTORE MELLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Você já deve ter ouvido falar na famosa Lei de Murphy, segundo a qual, "se alguma coisa pode dar errado, então ela dará". Evocamos freqüentemente tal lei nos feriados chuvosos, ou quando chegamos atrasados a uma importante reunião, ou ainda quando a torrada do café da manhã cai sobre o chão com a manteiga voltada para o tapete. O nome dessa "lei" se deve ao capitão da Força Aérea americana Edward A. Murphy, quando, após uma exaustiva série de testes sobre os efeitos da desaceleração abrupta sobre pilotos, percebeu que os dados não tinham sido registrados em seu equipamento de gravação.
Anos depois, a bizarra lei do capitão Murphy virou tema de estudo científico. O problema da queda da torrada besuntada de manteiga foi estudado em detalhes pelo físico inglês Robert J. Matthews em 1995. Segundo leis da dinâmica e parâmetros médios preestabelecidos, Matthews concluiu que a torrada cai com a manteiga para baixo na grande maioria das vezes. Tal estudo rendeu-lhe o Prêmio IG-Nobel de Física, uma versão jocosa do Prêmio Nobel concedida às chamadas "pesquisas inúteis" da ciência.
Vou analisar agora um outro curioso estudo matemático da Lei de Murphy associado ao meu mapa rodoviário. Na maioria das vezes em que consulto uma estrada nesse mapa, tenho notado que ela está próxima a uma dobra ou à borda, o que dificulta sua leitura. Abrindo o mapa, reparei que ele possui três dobras horizontais e sete verticais, conforme a figura. Resolvi estabelecer uma borda de dois centímetros em cada retângulo para representar a "região de Murphy", ou seja, a região de difícil leitura do mapa. Dividindo a área da região de Murphy (3.488 cm2) pela área total do mapa (6.300 cm2), constatei que a probabilidade de uma consulta aleatória estar na região de Murphy é de 55%, ou seja, maior do que a de resultar em uma região distante das bordas e das dobras do mapa.


José Luiz Pastore Mello é professor da Faculdade de Educação da USP. E-mail: jlpmello@uol.com.br


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