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HISTÓRIA
A transição republicana e suas transformações
ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
A transição do império para a república foi marcada por uma
série de transformações importantes nos planos econômico, social e político.
No plano econômico, aprofundou-se a integração e a subordinação da economia cafeeira ao
sistema financeiro, sobretudo inglês. No político, a centralização
política-administrativa do império cedeu lugar ao federalismo republicano e, no plano social, o fim
da escravidão e a intensificação da
imigração generalizaram o trabalho livre, criando as condições internas para a propagação do capitalismo. Mas a transição republicana não fugiu à regra que marca
os processos de transição no Brasil: ela também pagou um enorme
tributo ao passado. Apesar das
transformações, inúmeras persistências teimavam em manter o
país solidamente atado à violência
e à barbárie de extração colonial.
O fim da escravidão sem a realização da reforma agrária condenou os negros à marginalidade,
perpetuando a exclusão social e
política em novas condições.
A permanência dos latifúndios
e da miséria no campo foram responsáveis pela explosão de conflitos mortíferos como o de Contestado (1912/15) e o de Canudos
(1896/97), guerra na qual, como
bem constatou Euclides da Cunha
em "Os Sertões", as maiores barbaridades foram cometidas pelos
"civilizados".
A implantação da república
também não significou a universalização da cidadania, pois os direitos civis das camadas pobres e
humildes permaneceram solenemente desrespeitados. Esse problema manifestou-se de forma
explícita na Revolta da Vacina
(1904), quando a população pobre e humilde do Rio de Janeiro,
indignada por ser tratada como
gado numa campanha truculenta
de vacinação, se rebelou e destruiu a cidade.
A discriminação e a violência
continuavam a marcar presença,
por exemplo, na Marinha brasileira, pois, até 1910, os marujos,
quase todos negros, eram amarrados nos mastros centrais dos
navios e espancados com chibatas, às vezes até a morte, sempre
que cometiam uma infração disciplinar. Só a Revolta da Chibata,
motim liderado pelo marinheiro
João Cândido, pôs fim a essa manifestação de barbárie que apresentava a Marinha brasileira como uma metáfora do engenho.
Muitas dessas persistências ainda não foram superadas e se mantêm como desafios para a construção de uma verdadeira república entre nós.
Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As
Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e
professor no Colégio Rio Branco e na
Universidade Grande ABC.
Email: roberson.co@uol.com.br
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