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VALE A PENA SABER
MATEMÁTICA
Um problema de solução desconhecida
JOSÉ LUIZ PASTORE MELLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Certa vez, um imunologista disse em entrevista: "Feliz a matemática, que, com um punhado de
teoremas, consegue responder a
qualquer problema; triste a medicina, que, diante de doenças como
a Aids, se vê incapaz de encontrar
uma solução no curto prazo". O
que você pensa disso?
Ao contrário do que muitos
imaginam, a matemática é uma
ciência repleta de problemas cuja
solução ainda não foi encontrada.
Isso será ilustrado com o chamado problema de Collatz.
Pense em um número natural
diferente de zero. Se ele for par,
divida por 2, se for ímpar, multiplique por 3 e some 1. Pegue o número que obteve e repita o processo até ter como resultado o número 1. Por exemplo, partindo do
número 5, a trajetória percorrida
será 5-16-8-4-2-1. Partindo do número 6, a trajetória será 6-3-10-5-16-8-4-2-1. Uma trajetória mais
interessante é a do número 27.
Depois de uma oscilação hesitante em torno da centena, atinge o
número 484 na 15ª operação, volta a baixar até 91, sobe violentamente para 1.780, volta a descer e
atinge um pico em 9.232. A partir
daí, a trajetória cai rapidamente,
morrendo em 1 na 111ª repetição.
A pergunta natural que decorre
dessa brincadeira é: seja qual for o
número de partida, será verdade
que a trajetória sempre atingirá o
número 1? Até hoje não conhecemos uma resposta para esse problema, proposto nos anos 30 pelo
matemático Lothar Collatz. Vejamos um aspecto que torna o problema complicado.
Quando um elemento n da trajetória é par, o elemento seguinte
será n/2, ou seja, haverá uma contração por um fator 2, que aproxima à trajetória de 1. Por outro lado, quando um elemento n é ímpar, o elemento seguinte será
3n+1, correspondendo a uma
sensível expansão da trajetória
por um fator maior que 3.
Poderíamos pensar que, como a
taxa de expansão é maior que a de
contração, grande parte das trajetórias cresce indefinidamente. Isso não é verdadeiro, pois uma trajetória se contrai, em média, com
freqüência maior que aquela com
que se expande. Se um elemento n
da trajetória for ímpar, o seguinte
(3n+1) será par, ou seja, uma expansão é necessariamente seguida de uma contração. Mas, se um
elemento n da trajetória for par, o
elemento seguinte (n/2) poderá
ser par ou ímpar.
No delicado jogo de forças entre
taxa de expansão maior que a de
contração e freqüência de expansão menor que a de contração,
não sabemos se as trajetórias terminam sempre em 1 ou não.
José Luiz Pastore Mello é professor da
Faculdade de Educação da USP. E-mail:
jlpmello@uol.com.br
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