São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 2006
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CIÊNCIAS

Vestibulares devem mudar ensino

Universidades aderem às perguntas que contextualizam a química, a física e a biologia

Rogério Cassimiro/Folha Imagem
Paulo Roberto de Souza, monitor da Estação Ciência, que alia o conhecimento teórico à observação


SIMONE HARNIK
VINÍCIUS CAETANO SEGALLA
DA REPORTAGEM LOCAL

Além das questões interdisciplinares, que exigem conhecimentos de mais de uma disciplina para chegar à resposta, outra tendência adotada ultimamente pelos grandes processos seletivos é relacionar as perguntas de biologia, de química e de física aos fenômenos presentes no cotidiano dos estudantes. E ambas as práticas deverão ter impacto na forma de ensinar das escolas.
É a aplicação do que se aprende no ensino médio à realidade dos alunos, prática que, em conjunto com a interdisciplinaridade, vai ao encontro do que pregam as modernas correntes pedagógicas. Pela teoria, o estudante, ao perceber que o que ele aprende na escola não é "cultura inútil" para passar na prova, interessa-se mais pelas matérias e absorve com maior facilidade o conteúdo passado.
"Nos vestibulares, os elaboradores chamam as perguntas mais ligadas ao dia-a-dia de questões contextualizadas", explica o coordenador do Anglo Sezar Sasson. Segundo ele, essa é uma tendência positiva nos exames, mas isso não significa que os conceitos básicos deixarão de ser cobrados.
A relação da ciência com a vivência dos estudantes ganhou corpo nas avaliações com a instituição do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), em 1998. "Agora, com os vestibulares, o efeito vai ser ainda maior", analisa Maurício Pietrocola, professor da Faculdade de Educação da USP.
As discussões sobre aproximar o conhecimento do cotidiano começaram nos anos 1980. "Era uma fase de questionar o ensino das ciências muito centrado no mundo do cientista", diz Pietrocola.
É isso o que tenta fazer a professora Soraya Saadeh, do colégio Magno, da capital paulista. "Quando fui explicar termoquímica, por exemplo, pedi aos alunos que pegassem seus lanches. A partir daí, comecei a analisar o conteúdo calórico de cada um e sugeri aos alunos que fizessem um relatório sobre a ingestão de calorias ao longo de um dia", conta.
"Quando estudei, essa abordagem não fazia parte da faculdade. Aprendi a trabalhar com os vínculos com a vida quando já estava na prática", diz Osvaldo Canato Jr., professor há 20 anos, que hoje leciona física no Pueri Domus.
Segundo ele, o bom aluno que aprende com os experimentos e consegue relacioná-los à própria vida consegue ir melhor até mesmo nos vestibulares tradicionais. "O estudante fica mais independente e consegue conectar as informações mais rápido", afirma.
Até entre os estudantes o efeito desse tipo de ensino é aclamado. "São as coisas do dia-a-dia que me encantam na física, na química, na biologia. A coisa mais real, palpável", afirma Juliana Rodrigues Nascimento, 16. Apesar de apaixonada por matérias de humanas, a estudante encara com tranqüilidade as exatas quando elas mostram ligação com a vida.


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