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CIÊNCIAS
Vestibulares devem mudar ensino
Universidades aderem às perguntas que contextualizam a química, a física e a biologia
Rogério Cassimiro/Folha Imagem
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Paulo Roberto de Souza, monitor da Estação Ciência, que alia o conhecimento teórico à observação |
SIMONE HARNIK
VINÍCIUS CAETANO SEGALLA
DA REPORTAGEM LOCAL
Além das questões interdisciplinares, que exigem conhecimentos de mais de uma disciplina para chegar à resposta,
outra tendência adotada ultimamente pelos grandes processos seletivos é relacionar as
perguntas de biologia, de química e de física aos fenômenos
presentes no cotidiano dos estudantes. E ambas as práticas
deverão ter impacto na forma
de ensinar das escolas.
É a aplicação do que se
aprende no ensino médio à realidade dos alunos, prática que,
em conjunto com a interdisciplinaridade, vai ao encontro do
que pregam as modernas correntes pedagógicas. Pela teoria,
o estudante, ao perceber que o
que ele aprende na escola não é
"cultura inútil" para passar na
prova, interessa-se mais pelas
matérias e absorve com maior
facilidade o conteúdo passado.
"Nos vestibulares, os elaboradores chamam as perguntas
mais ligadas ao dia-a-dia de
questões contextualizadas",
explica o coordenador do Anglo
Sezar Sasson. Segundo ele, essa
é uma tendência positiva nos
exames, mas isso não significa
que os conceitos básicos deixarão de ser cobrados.
A relação da ciência com a vivência dos estudantes ganhou
corpo nas avaliações com a instituição do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), em
1998. "Agora, com os vestibulares, o efeito vai ser ainda
maior", analisa Maurício Pietrocola, professor da Faculdade
de Educação da USP.
As discussões sobre aproximar o conhecimento do cotidiano começaram nos anos
1980. "Era uma fase de questionar o ensino das ciências muito
centrado no mundo do cientista", diz Pietrocola.
É isso o que tenta fazer a professora Soraya Saadeh, do colégio Magno, da capital paulista.
"Quando fui explicar termoquímica, por exemplo, pedi aos
alunos que pegassem seus lanches. A partir daí, comecei a
analisar o conteúdo calórico de
cada um e sugeri aos alunos que
fizessem um relatório sobre a
ingestão de calorias ao longo de
um dia", conta.
"Quando estudei, essa abordagem não fazia parte da faculdade. Aprendi a trabalhar com
os vínculos com a vida quando
já estava na prática", diz Osvaldo Canato Jr., professor há 20
anos, que hoje leciona física no
Pueri Domus.
Segundo ele, o bom aluno
que aprende com os experimentos e consegue relacioná-los à própria vida consegue ir
melhor até mesmo nos vestibulares tradicionais. "O estudante
fica mais independente e consegue conectar as informações
mais rápido", afirma.
Até entre os estudantes o
efeito desse tipo de ensino é
aclamado. "São as coisas do dia-a-dia que me encantam na física, na química, na biologia. A
coisa mais real, palpável", afirma Juliana Rodrigues Nascimento, 16. Apesar de apaixonada por matérias de humanas, a
estudante encara com tranqüilidade as exatas quando elas
mostram ligação com a vida.
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