São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 2002
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PORTUGUÊS

Aposto explicativo não deve ser confundido com predicativo

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Aposto é o nome que a gramática tradicional atribui ao termo de natureza nominal que se prende a um substantivo, a um pronome ou a um equivalente destes com o intuito de propor uma explicação ou apreciação.
Em um trecho como: "Andrade, um amigo meu, deu-me a notícia", o segmento "um amigo meu" explica quem é Andrade. É, pois, um aposto explicativo. Note que essa expressão tem como núcleo um substantivo ("amigo") e se separa do termo anterior (chamado de fundamental) por meio de vírgula.
O aposto pode associar-se a substantivos que exerçam quaisquer funções sintáticas e poderá substituir qualquer um deles. Assim, em: "Fernando Henrique Cardoso, o presidente do Brasil, abriu a sessão", o trecho "o presidente do Brasil" é aposto de Fernando Henrique Cardoso, sujeito da oração. Na ausência deste, o aposto o substitui e passa a ocupar a sua função. Assim: "O presidente do Brasil (sujeito) abriu a sessão".
É preciso, entretanto, estar atento ao fato de que nem toda explicação será necessariamente um aposto. Por exemplo: "A moça, meiga e gentil, encantou a todos". A expressão "meiga e gentil" exerce função de predicativo do sujeito. São dois adjetivos que, como resultado da opinião do emissor, qualificam a tal moça. Pode-se dizer que há uma oração elíptica na qual eles atuam como predicativo ("A moça, [por ser" meiga e gentil, encantou a todos").
Para não fazer confusão, basta lembrar que o núcleo do aposto deve ser de natureza substantiva. Assim, em: "A moça, criatura meiga e gentil, encantou a todos", o trecho em destaque tem base substantiva (o núcleo é o substantivo "criatura"). Daí ser aposto, não mais predicativo. O predicativo é o atributo circunstancial ou momentâneo de um ser, função geralmente exercida por adjetivos; o aposto é, no mais das vezes, uma outra forma de dizer o que já fora dito, um meio de explicitar o termo fundamental.
As construções que incorporam o aposto são muito freqüentes. Um aposto pode até prender-se a outro, como se observa no soneto de Camões: "Sete anos de pastor Jacó servia/ Labão, pai de Raquel, serrana bela". "Pai de Raquel" é aposto de "Labão", e "serrana bela", aposto de "Raquel". Nos versos de Vinicius de Morais: "Quem sabe a morte, angústia de quem vive/ Quem sabe a solidão, fim de quem ama", há belos exemplos de uso do aposto explicativo.


Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha


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