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VALE A PENA SABER
PORTUGUÊS
Aposto explicativo não deve ser confundido com predicativo
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Aposto é o nome que a gramática tradicional atribui ao termo
de natureza nominal que se prende a um substantivo, a um pronome ou a um equivalente destes
com o intuito de propor uma explicação ou apreciação.
Em um trecho como: "Andrade,
um amigo meu, deu-me a notícia", o segmento "um amigo
meu" explica quem é Andrade. É,
pois, um aposto explicativo. Note
que essa expressão tem como núcleo um substantivo ("amigo") e
se separa do termo anterior (chamado de fundamental) por meio
de vírgula.
O aposto pode associar-se a
substantivos que exerçam quaisquer funções sintáticas e poderá
substituir qualquer um deles. Assim, em: "Fernando Henrique
Cardoso, o presidente do Brasil,
abriu a sessão", o trecho "o presidente do Brasil" é aposto de Fernando Henrique Cardoso, sujeito
da oração. Na ausência deste, o
aposto o substitui e passa a ocupar a sua função. Assim: "O presidente do Brasil (sujeito) abriu a
sessão".
É preciso, entretanto, estar atento ao fato de que nem toda explicação será necessariamente um
aposto. Por exemplo: "A moça,
meiga e gentil, encantou a todos".
A expressão "meiga e gentil" exerce função de predicativo do sujeito. São dois adjetivos que, como
resultado da opinião do emissor,
qualificam a tal moça. Pode-se dizer que há uma oração elíptica na
qual eles atuam como predicativo
("A moça, [por ser" meiga e gentil, encantou a todos").
Para não fazer confusão, basta
lembrar que o núcleo do aposto
deve ser de natureza substantiva.
Assim, em: "A moça, criatura
meiga e gentil, encantou a todos",
o trecho em destaque tem base
substantiva (o núcleo é o substantivo "criatura"). Daí ser aposto,
não mais predicativo. O predicativo é o atributo circunstancial ou
momentâneo de um ser, função
geralmente exercida por adjetivos; o aposto é, no mais das vezes,
uma outra forma de dizer o que já
fora dito, um meio de explicitar o
termo fundamental.
As construções que incorporam
o aposto são muito freqüentes.
Um aposto pode até prender-se a
outro, como se observa no soneto
de Camões: "Sete anos de pastor
Jacó servia/ Labão, pai de Raquel,
serrana bela". "Pai de Raquel" é
aposto de "Labão", e "serrana bela", aposto de "Raquel". Nos versos de Vinicius de Morais: "Quem
sabe a morte, angústia de quem
vive/ Quem sabe a solidão, fim de
quem ama", há belos exemplos
de uso do aposto explicativo.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha
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