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PORTUGUÊS
Língua incorpora neologismo com aval de falantes
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
É interessante observar a chegada de novas palavras à língua.
Inventá-las com intenção artística
não é incomum entre escritores
-e, a esta altura, você já pensou
em Guimarães Rosa, um dos nossos mais imaginativos criadores
de palavras e expressões.
Mas a invenção de palavras não
está a cargo apenas de escritores.
O neologismo (palavra nova) pode surgir de diversas maneiras,
mas, para que se fixe, é preciso
que naturalmente receba uma espécie de aval dos falantes, que o
incorporam ao seu vocabulário.
Geralmente, acompanha novas
situações, ações ou invenções.
Derivado de "terceiro", o verbo
"terceirizar" é um exemplo disso.
Nomeia a prática, relativamente
recente, de empresas que transferem parte de suas atividades a outra(s) para reduzir custos.
Já o verbo "deletar" ("apagar"),
apesar de ter raiz latina, chega ao
português por intermédio do inglês ("to delete"). Embora já contasse com o verbo "delir", o português incorporou o "deletar",
que, no contexto da informática,
foi a forma que se fixou, importada com a tecnologia.
Parece inútil tentar lutar contra
as palavras que, por um caminho
ou por outro, chegam ao idioma
-mas essa é uma atitude bastante comum. Num primeiro momento, o neologismo pode causar
certa estranheza e até polêmica,
mas a sua admissão no idioma está condicionada a outros fatores,
inclusive o prestígio de quem faz
uso dele.
Talvez por esse motivo as palavras oriundas do inglês tenham
tão boa acolhida em nossa língua
-elas são associadas a prestígio
social e econômico, assim como
os produtos importados em geral,
quase sempre vistos como superiores aos nacionais.
Hoje se ouvem palavras como
"tensionar" ou "sediar", que,
aliás, já constam em dicionários.
"Pedagiar", termo que recentemente passou a ser empregado
para nomear a instalação de praças de pedágio em rodovias (prática que se tornou freqüente após
a privatização das estradas), deve
garantir seu lugar no inventário
de termos do português, pois integra o repertório das pessoas.
Se corresponde a uma necessidade, o neologismo incorpora-se
espontaneamente ao léxico da língua. A dicionarização ocorre após
a fixação natural da palavra entre
os falantes.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da
Folha.
E-mail: tnicoleti@folhasp.com.br
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