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      São Paulo, quinta-feira, 11 de setembro de 2003
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PORTUGUÊS

Língua incorpora neologismo com aval de falantes

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

É interessante observar a chegada de novas palavras à língua. Inventá-las com intenção artística não é incomum entre escritores -e, a esta altura, você já pensou em Guimarães Rosa, um dos nossos mais imaginativos criadores de palavras e expressões.
Mas a invenção de palavras não está a cargo apenas de escritores. O neologismo (palavra nova) pode surgir de diversas maneiras, mas, para que se fixe, é preciso que naturalmente receba uma espécie de aval dos falantes, que o incorporam ao seu vocabulário. Geralmente, acompanha novas situações, ações ou invenções.
Derivado de "terceiro", o verbo "terceirizar" é um exemplo disso. Nomeia a prática, relativamente recente, de empresas que transferem parte de suas atividades a outra(s) para reduzir custos.
Já o verbo "deletar" ("apagar"), apesar de ter raiz latina, chega ao português por intermédio do inglês ("to delete"). Embora já contasse com o verbo "delir", o português incorporou o "deletar", que, no contexto da informática, foi a forma que se fixou, importada com a tecnologia.
Parece inútil tentar lutar contra as palavras que, por um caminho ou por outro, chegam ao idioma -mas essa é uma atitude bastante comum. Num primeiro momento, o neologismo pode causar certa estranheza e até polêmica, mas a sua admissão no idioma está condicionada a outros fatores, inclusive o prestígio de quem faz uso dele.
Talvez por esse motivo as palavras oriundas do inglês tenham tão boa acolhida em nossa língua -elas são associadas a prestígio social e econômico, assim como os produtos importados em geral, quase sempre vistos como superiores aos nacionais.
Hoje se ouvem palavras como "tensionar" ou "sediar", que, aliás, já constam em dicionários. "Pedagiar", termo que recentemente passou a ser empregado para nomear a instalação de praças de pedágio em rodovias (prática que se tornou freqüente após a privatização das estradas), deve garantir seu lugar no inventário de termos do português, pois integra o repertório das pessoas.
Se corresponde a uma necessidade, o neologismo incorpora-se espontaneamente ao léxico da língua. A dicionarização ocorre após a fixação natural da palavra entre os falantes.


Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha.
E-mail: tnicoleti@folhasp.com.br


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