São Paulo, terça-feira, 13 de janeiro de 2009
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REFORMA

Jovem aprende mais rápido, diz docente

Para autora de livros de gramática, quem está na escola se adaptará com mais facilidade

DA REPORTAGEM LOCAL

Professora da Unesp de Araraquara e autora de nove livros de gramática e de seis dicionários, Maria Helena Moura Neves acredita que o tempo de adaptação às novas regras para os jovens será curto. Ela diz também que "as mudanças não vão poder ser desculpa para mau desempenho ortográfico nos vestibulares". Leia trechos da entrevista. (LAS)

 

FOLHA - Qual é o tempo necessário para um jovem que ainda está na escola se adaptar?
MARIA HELENA
- Vai ser muito rápido, naquilo que está regrado sem margem de dúvidas: sai um acento aqui e outro ali, retira-se o trema.

FOLHA - Para um jovem que está indo para o último ano do ensino médio, será fácil se adaptar até os vestibulares do meio do ano?
MARIA HELENA
- Em primeiro lugar, os vestibulares serão irracionais se se fixarem nos pontos obscuros do texto do Acordo. Quanto às regras inequívocas, foi muito pouco o que mudou. E, na verdade, a maior parte dos problemas que os vestibulandos têm com a ortografia diz respeito a outras questões que não as que foram objeto de mudança: por exemplo, o uso de s ou ss ou ç; o uso de x ou ch. As mudanças não vão poder ser desculpa para mau desempenho ortográfico nos vestibulares. Além disso, há um prazo escalonado legalmente (até 2012) para a vigência absoluta das regras no Brasil.

FOLHA - Os jovens devem se adaptar mais facilmente às mudanças que pessoas mais velhas? Por que isso acontece?
MARIA HELENA
- Obviamente, vão se adaptar primeiro as pessoas mais inseridas em situação de contato com a escrita e com atividades ligadas à produção linguística. Como essa é, pelo menos em tese, a situação escolar, é de se esperar que haja proporção maior de jovens do que de pessoas mais velhas com a adaptação facilitada.

FOLHA - O que as pessoas podem fazer para se acostumar às mudanças?
MARIA HELENA
- Não houve nenhuma revolução no trato comum das pessoas com a língua portuguesa, nem mesmo com o modo de escrever. Lembro que uma das acusações que se tem feito ao Acordo é que ele é "tímido". Ora, esse adjetivo nada mais quer dizer do que o seguinte: nada mudou na essência, as mudanças são poucas e pouco profundas. Assim, acostumar-se a elas vai ser muito fácil para as pessoas inseridas em situações de letramento, e, nos dias de hoje, estamos expostos a textos escritos em todas as horas do dia. O difícil vai ser decidir os casos mal resolvidos no texto do Acordo, mas aí já entraríamos no mérito do documento.

FOLHA - A senhora é a favor da reforma? Por quê?
MARIA HELENA
- Sou a favor daquilo que você está chamando de reforma, não por se tratar de uma reforma da nossa ortografia, mas por constituir um acordo ortográfico entre os países de língua portuguesa oficial. É óbvio que, para fazer o Acordo, foi necessário que fizessem mudanças, ou seja, reforma. Em outras palavras, não são as mudanças em si que eu defendo, mas o fato de ter sido empreendida uma unificação da ortografia na comunidade de países que têm a língua portuguesa como língua oficial.


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