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REFORMA
Jovem aprende mais rápido, diz docente
Para autora de livros de gramática, quem está na escola se adaptará com mais facilidade
DA REPORTAGEM LOCAL
Professora da Unesp de Araraquara e autora de nove livros
de gramática e de seis dicionários, Maria Helena Moura Neves acredita que o tempo de
adaptação às novas regras para
os jovens será curto. Ela diz
também que "as mudanças não
vão poder ser desculpa para
mau desempenho ortográfico
nos vestibulares". Leia trechos
da entrevista.
(LAS)
FOLHA - Qual é o tempo necessário
para um jovem que ainda está na escola se adaptar?
MARIA HELENA - Vai ser muito
rápido, naquilo que está regrado sem margem de dúvidas: sai
um acento aqui e outro ali, retira-se o trema.
FOLHA - Para um jovem que está
indo para o último ano do ensino
médio, será fácil se adaptar até os
vestibulares do meio do ano?
MARIA HELENA - Em primeiro lugar, os vestibulares serão irracionais se se fixarem nos pontos obscuros do texto do Acordo. Quanto às regras inequívocas, foi muito pouco o que mudou. E, na verdade, a maior parte dos problemas que os vestibulandos têm com a ortografia
diz respeito a outras questões
que não as que foram objeto de
mudança: por exemplo, o uso
de s ou ss ou ç; o uso de x ou ch.
As mudanças não vão poder ser
desculpa para mau desempenho ortográfico nos vestibulares. Além disso, há um prazo escalonado legalmente (até 2012)
para a vigência absoluta das regras no Brasil.
FOLHA - Os jovens devem se adaptar mais facilmente às mudanças
que pessoas mais velhas? Por que isso acontece?
MARIA HELENA - Obviamente,
vão se adaptar primeiro as pessoas mais inseridas em situação
de contato com a escrita e com
atividades ligadas à produção
linguística. Como essa é, pelo
menos em tese, a situação escolar, é de se esperar que haja proporção maior de jovens do que
de pessoas mais velhas com a
adaptação facilitada.
FOLHA - O que as pessoas podem
fazer para se acostumar às mudanças?
MARIA HELENA - Não houve nenhuma revolução no trato comum das pessoas com a língua
portuguesa, nem mesmo com o
modo de escrever. Lembro que
uma das acusações que se tem
feito ao Acordo é que ele é "tímido". Ora, esse adjetivo nada
mais quer dizer do que o seguinte: nada mudou na essência, as mudanças são poucas e
pouco profundas. Assim, acostumar-se a elas vai ser muito fácil para as pessoas inseridas em
situações de letramento, e, nos
dias de hoje, estamos expostos
a textos escritos em todas as
horas do dia. O difícil vai ser decidir os casos mal resolvidos no
texto do Acordo, mas aí já entraríamos no mérito do documento.
FOLHA - A senhora é a favor da reforma? Por quê?
MARIA HELENA - Sou a favor daquilo que você está chamando
de reforma, não por se tratar de
uma reforma da nossa ortografia, mas por constituir um acordo ortográfico entre os países
de língua portuguesa oficial. É
óbvio que, para fazer o Acordo,
foi necessário que fizessem
mudanças, ou seja, reforma.
Em outras palavras, não são as
mudanças em si que eu defendo, mas o fato de ter sido empreendida uma unificação da
ortografia na comunidade de
países que têm a língua portuguesa como língua oficial.
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