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GEOGRAFIA
A energia e o risco de racionamento
EDER MELGAR
ESPECIAL PARA A FOLHA
Notícias recentes mostraram
que os níveis dos reservatórios
de hidrelétricas que abastecem o
Nordeste estão mais baixos que
no período "pré-apagão". Apesar
disso, dificilmente ocorrerá, por
enquanto, racionamento, pois as
medidas emergenciais adotadas,
como a instalação de termelétricas e a ampliação das linhas de
transmissão que permitem transferir energia entre as regiões, disponibilizará a energia necessária.
O setor elétrico brasileiro cresceu baseado em grandes investimentos estatais, que fizeram, por
exemplo, da bacia do rio Paraná a
mais explorada para a geração de
energia, com usinas muito conhecidas, como a binacional Itaipu
(estatal brasileira e paraguaia).
Os problemas recentes de abastecimento decorrem de uma série
de fatores. A crise do petróleo fez
com que o governo, a partir de
subsídios nas tarifas elétricas, estimulasse a substituição do combustível por eletricidade nos processos industriais e também a instalação de indústrias eletrointensivas, que consomem muita eletricidade, como as de alumínio,
que em alguns casos pagavam pela energia um preço abaixo do
custo de geração.
Para atender o aumento do consumo, ampliou-se a construção
de usinas à custa de financiamentos internacionais, cujos juros dispararam posteriormente. Somem-se a isso os sobrecustos das
empreiteiras, que eram cada vez
maiores, e têm-se os cofres públicos esvaziados. Com pouco dinheiro para investir e com a necessidade de diminuir o déficit
público, vieram os cortes dos investimentos no setor.
A política de privatizações, que
deveria, segundo o governo, aumentar a competitividade e a produção e forçar os preços para baixo, até agora não obteve o resultado esperado. A solução emergencial encontrada para enfrentar
uma nova necessidade de racionamento, ou seja, a instalação de
termelétricas, parece que também
não resolverá o problema a longo
prazo, pois, apesar de inicialmente mais barata, apresenta um custo final mais elevado e, além disso,
a capacidade das reservas de gás
boliviano de suprirem as necessidades das usinas térmicas do Brasil vem sendo muito questionada.
Eder Melgar é coordenador de geografia do curso Intergraus
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