|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VALE A PENA SABER
MATEMÁTICA
A partilha prevista em um testamento muito curioso
JOSÉ LUIZ PASTORE MELLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em certa ocasião, um abastado
advogado deixou de herança
para os seus três filhos uma frota
de 11 automóveis, todos de mesmo valor. Além dos carros, o advogado deixou um testamento dizendo que o filho mais velho deveria receber metade da frota, o
do meio receberia um quarto e o
caçula, um sexto dos carros.
Na hora de fazer a partilha, a
confusão se estabeleceu entre os
irmãos, já que 11 carros não podem ser divididos de forma exata
por dois, quatro e seis, como previa o testamento. Um matemático
encontrou a solução.
Emprestando o seu próprio carro aos três irmãos, o matemático
disse: "Agora que vocês possuem
12 carros para a partilha, o irmão
mais velho receberá seis carros,
que é a metade do total; o do
meio, três carros, que é a quarta
parte do total, e o caçula, dois, que
é um sexto do total". Ele ainda
afirmou: "Somando os carros que
cada um receberá, temos um total
de 11, sobrando um veículo dos
12, que, por acaso, é o meu. Devolvam o carro que me pertence e a
partilha estará feita corretamente,
segundo o desejo de seu pai".
Os irmãos seguiram a recomendação do matemático e pediram
que ele esclarecesse o paradoxo.
Disse o matemático: "Muito
simples, meus jovens. Seu estimado pai cometeu um deslize ao estabelecer a partilha da herança em
1/2, 1/4 e 1/6, já que a soma dessas
frações não totaliza 1. Se, hipoteticamente, pudéssemos cortar os
carros para fazer a repartição, cada irmão receberia 11/2, 11/4 e 11/
6, sobrando ainda 11/12 de um
carro. O que eu propus, por meio
da estratégia de emprestar o meu
carro para a partilha, foi a distribuição de 11/12 entre vocês, cabendo 6/12 ao mais velho, 3/12 ao
do meio e 2/12 ao caçula. A soma
dessas frações é 11/12 e, como cada herdeiro passará, com elas, a
receber um número inteiro de
carros, não se torna necessário
"cortar" os automóveis, e eu ainda
recebo o meu de volta".
Variantes do problema do testamento podem ser criadas da seguinte forma: se houver n carros e
as três frações da partilha forem
1/a, 1/b e 1/c, sempre teremos um
paradoxo semelhante ao analisado se a equação [n/(n+1)]=(1/
a)+(1/b)+(1/c) tiver uma solução
constituída por números inteiros
positivos a, b e c. Por exemplo, para n=17, a=2, b=3 e c=9, temos 17
carros e uma partilha em metade,
terço e nono, o que produz um
novo paradoxo do testamento.
José Luiz Pastore Mello é licenciado
em matemática e mestrando em educação pela USP.
E-mail: jlpmello@uol.com.br
Texto Anterior: Públicas paulistas não aceitam pedidos para revisar exames Próximo Texto: Química: Cheirinho de peixe? O limão resolve Índice
|