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TEM DE SABER - HISTÓRIA
Café é "pai" da imigração
ELIANE YAMBANIS OBERSTEINER
especial para a Folha
A exclusão do negro do mundo do trabalho assalariado, que
se inaugura oficialmente no
Brasil ao final do século 19, motivada predominantemente
por uma visão racista, abre a
possibilidade de imigrantes
ocuparem as funções até então
realizadas por escravos na lavoura cafeeira.
O imigrante que vem para cá
nesse período, pressionado pelo empobrecimento provocado
pelo desenvolvimento do sistema capitalista europeu, vê aqui
a chance de reverter esse quadro, com a possibilidade de se
tornar, com o tempo, um pequeno proprietário rural.
No entanto, a precariedade
de sua situação e o endividamento contraído com o latifundiário, que financia a passagem de vinda, torna o imigrante subalterno.
Despreparado para lidar com
a realidade do trabalho assalariado, o latifundiário, habituado com os mecanismos escravocratas de coerção, criará formas de prender o imigrante
através do endividamento,
obrigando-o inclusive a comprar víveres na mercearia de
sua propriedade.
Esse tipo de mecanismo denota a coexistência de formas
capitalistas e de semi-servidão
no Brasil, nas portas de entrada
do século 20.
Cabe lembrar que, apesar da
visão eurocêntrica, que exclui o
negro e opta pelo imigrante europeu, prevalece um grande
preconceito referente ao trabalho braçal, desde os primórdios
da colonização, levando o latifundiário, muitas vezes, a desconsiderar a condição de homem livre que caracteriza o
imigrante, inclusive colocando-o sob vigilância.
Mesmo aqueles imigrantes
que se dirigem diretamente para a zona urbana e, portanto,
não se defrontam com os mecanismos da sociedade agrária
e patriarcal, não irão encontrar
condições de vida favoráveis.
O processo de urbanização e
industrialização nesse período
é gradual, e a formação de um
operariado urbano, uma novidade econômica e social.
Não há no Brasil legislação
específica que permeie as relações capital-trabalho até os
anos 30, o que determinará a
sujeição do trabalhador aos donos do capital, seja este agrário
ou urbano, definindo assim a
precariedade das condições em
que viverá a maior parte dos
imigrantes nesse período.
Eliane Yambanis Obersteiner é professora de história do Colégio Equipe.
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