São Paulo, Sexta-feira, 15 de Outubro de 1999
 
 

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TEM DE SABER - HISTÓRIA
Café é "pai" da imigração

ELIANE YAMBANIS OBERSTEINER
especial para a Folha

A exclusão do negro do mundo do trabalho assalariado, que se inaugura oficialmente no Brasil ao final do século 19, motivada predominantemente por uma visão racista, abre a possibilidade de imigrantes ocuparem as funções até então realizadas por escravos na lavoura cafeeira.
O imigrante que vem para cá nesse período, pressionado pelo empobrecimento provocado pelo desenvolvimento do sistema capitalista europeu, vê aqui a chance de reverter esse quadro, com a possibilidade de se tornar, com o tempo, um pequeno proprietário rural.
No entanto, a precariedade de sua situação e o endividamento contraído com o latifundiário, que financia a passagem de vinda, torna o imigrante subalterno.
Despreparado para lidar com a realidade do trabalho assalariado, o latifundiário, habituado com os mecanismos escravocratas de coerção, criará formas de prender o imigrante através do endividamento, obrigando-o inclusive a comprar víveres na mercearia de sua propriedade.
Esse tipo de mecanismo denota a coexistência de formas capitalistas e de semi-servidão no Brasil, nas portas de entrada do século 20.
Cabe lembrar que, apesar da visão eurocêntrica, que exclui o negro e opta pelo imigrante europeu, prevalece um grande preconceito referente ao trabalho braçal, desde os primórdios da colonização, levando o latifundiário, muitas vezes, a desconsiderar a condição de homem livre que caracteriza o imigrante, inclusive colocando-o sob vigilância.
Mesmo aqueles imigrantes que se dirigem diretamente para a zona urbana e, portanto, não se defrontam com os mecanismos da sociedade agrária e patriarcal, não irão encontrar condições de vida favoráveis.
O processo de urbanização e industrialização nesse período é gradual, e a formação de um operariado urbano, uma novidade econômica e social.
Não há no Brasil legislação específica que permeie as relações capital-trabalho até os anos 30, o que determinará a sujeição do trabalhador aos donos do capital, seja este agrário ou urbano, definindo assim a precariedade das condições em que viverá a maior parte dos imigrantes nesse período.


Eliane Yambanis Obersteiner é professora de história do Colégio Equipe.


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