São Paulo, terça-feira, 19 de dezembro de 2006
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ATUALIDADES

Yunus, o banqueiro dos pobres

ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA

O criador do microcrédito e do Banco Grameen (Banco da Aldeia), Muhammad Yunus, de Bangladesh, foi o ganhador do Prêmio Nobel da Paz. O Comitê do Nobel norueguês, ao entregar o prêmio ao vencedor de 2006, declarou que "uma paz duradoura não pode ser alcançada ao menos que grandes parcelas da população possam sair da pobreza". O economista muçulmano destinará o US$ 1,4 milhão do prêmio à construção de um hospital de olhos.
Formado em economia nos Estados Unidos, Yunus disse que a idéia dos empréstimos surgiu em 1972, ao conversar com uma fabricante de bancos de bambu. A artesã bengali contou que havia feito um empréstimo para comprar matéria-prima e todo o seu lucro ficava com o agiota. Soube-se posteriormente que outros 43 moradores da aldeia estavam na mesma condição, deviam o equivalente a US$ 27.
"Dei-lhes os US$ 27 e disse que podiam me pagar quando pudessem. A idéia era que comprassem seu material sem usar o agiota", disse Yunus. Todos honraram o empréstimo, esclarece o economista, conhecido como o "banqueiro dos pobres". Quatro anos depois, Yunus fundou o Banco da Aldeia, que hoje empresta mais de US$ 800 milhões por ano, em média US$ 130 por empréstimo, atendendo a cerca de 6,7 milhões de clientes.
O mais surpreendente é que os empréstimos são feitos sem análise de risco ou exigência de garantias. "Não projetamos nosso banco para excluir ninguém. Não desconfiamos de ninguém." Ainda assim a taxa de inadimplência é mínima, cerca de 99% pagam em dia. Mais de 90% dos tomadores de empréstimo são mulheres: "comecei emprestando tanto para homens quanto para mulheres (...) Mais tarde, vendo que as famílias se beneficiavam mais se os empréstimos fossem dados às mulheres, começamos a manter o foco nelas".
Hoje, 57 países contam com o microcrédito, cujos valores quase irrisórios permitem que milhões de miseráveis garantam uma forma de produção. O objetivo é fornecer um meio, que pode ser a aquisição de uma máquina ou um pequeno capital de giro, para dinamizar seu negócio. Trata-se do conceito de "economia solidária", que coloca o homem como sujeito e fim da atividade econômica em detrimento da simples acumulação.
O Nobel de 2006 recusa o assistencialismo ao deixar claro que a forma mais eficiente de lutar contra a pobreza não são as doações, mas a incorporação dos excluídos à economia e a criação de postos de trabalho. Além disso, Yunus está convencido de que o combate à pobreza é fundamental para garantir a paz no mundo.


ROBERTO CANDELORI é professor do Colégio Móbile. E-mail: rcandelori@uol.com.br


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