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ATUALIDADES
Yunus, o banqueiro dos pobres
ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA
O criador do microcrédito
e do Banco Grameen (Banco
da Aldeia), Muhammad Yunus, de Bangladesh, foi o ganhador do Prêmio Nobel da
Paz. O Comitê do Nobel norueguês, ao entregar o prêmio ao vencedor de 2006, declarou que "uma paz duradoura não pode ser alcançada ao menos que grandes
parcelas da população possam sair da pobreza".
O economista muçulmano
destinará o US$ 1,4 milhão
do prêmio à construção de
um hospital de olhos.
Formado em economia
nos Estados Unidos, Yunus
disse que a idéia dos empréstimos surgiu em 1972, ao
conversar com uma fabricante de bancos de bambu. A
artesã bengali contou que
havia feito um empréstimo
para comprar matéria-prima
e todo o seu lucro ficava com
o agiota. Soube-se posteriormente que outros 43 moradores da aldeia estavam na
mesma condição, deviam o
equivalente a US$ 27.
"Dei-lhes os US$ 27 e disse
que podiam me pagar quando pudessem. A idéia era que
comprassem seu material
sem usar o agiota", disse Yunus. Todos honraram o empréstimo, esclarece o economista, conhecido como o
"banqueiro dos pobres".
Quatro anos depois, Yunus
fundou o Banco da Aldeia,
que hoje empresta mais de
US$ 800 milhões por ano,
em média US$ 130 por empréstimo, atendendo a cerca
de 6,7 milhões de clientes.
O mais surpreendente é
que os empréstimos são feitos sem análise de risco ou
exigência de garantias. "Não
projetamos nosso banco para excluir ninguém. Não desconfiamos de ninguém."
Ainda assim a taxa de inadimplência é mínima, cerca
de 99% pagam em dia. Mais
de 90% dos tomadores de
empréstimo são mulheres:
"comecei emprestando tanto
para homens quanto para
mulheres (...) Mais tarde,
vendo que as famílias se beneficiavam mais se os empréstimos fossem dados às
mulheres, começamos a
manter o foco nelas".
Hoje, 57 países contam
com o microcrédito, cujos
valores quase irrisórios permitem que milhões de miseráveis garantam uma forma
de produção. O objetivo é
fornecer um meio, que pode
ser a aquisição de uma máquina ou um pequeno capital
de giro, para dinamizar seu
negócio. Trata-se do conceito de "economia solidária",
que coloca o homem como
sujeito e fim da atividade
econômica em detrimento
da simples acumulação.
O Nobel de 2006 recusa o
assistencialismo ao deixar
claro que a forma mais eficiente de lutar contra a pobreza não são as doações,
mas a incorporação dos excluídos à economia e a criação de postos de trabalho.
Além disso, Yunus está convencido de que o combate à
pobreza é fundamental para
garantir a paz no mundo.
ROBERTO CANDELORI é professor do Colégio Móbile. E-mail: rcandelori@uol.com.br
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