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MATEMÁTICA
A mídia e o sorteio da Mega Sena
JOSÉ LUIZ PASTORE MELLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
No início do mês, um felizardo
apostador do Rio de Janeiro
acertou sozinho o prêmio principal da Mega Sena, ganhando
R$ 46,6 milhões, o terceiro maior
prêmio já pago desde a criação da
loteria, em 1996. Na ocasião, um
jornal sensacionalista de São Paulo publicou a seguinte manchete:
"Não bastasse a Mega Sena, sortudo carioca também acerta 12 quinas e 15 quadras".
Uma vez que o acertador apostou um único volante com oito
números (informação contida no
corpo da notícia), será que é correto interpretar, como sugere a
manchete, que, além da sorte no
acerto da Sena, o apostador também teve sorte de acertar 12 quinas e 15 quadras? Infelizmente temos que informar aos redatores
da chamativa manchete que a resposta é "não"! Podemos, sim, dizer que o apostador é um grande
sortudo por ter acertado a Sena,
mas, uma vez tendo acertado o
prêmio principal, o fato de
ter acertado 12 quinas e 15
quadras deixa de ser questão de
sorte e passa a ser uma certeza
matemática.
Para analisar o problema sem o
uso de fórmulas combinatórias,
imaginemos que o apostador tenha marcado os números 1, 2, 3, 4,
5, 6, 7 e 8 no volante e que os seis
números sorteados no concurso
tenham sido 1, 2, 3, 4, 5 e 6. Das 28
possibilidades de combinação de
seis dos oito números apostados,
apenas uma delas possui os seis
números sorteados, que corresponde ao volante com o prêmio
principal da Mega Sena.
Note que, das 28 combinações
apostadas, várias possuem a quina, como 1, 2, 3, 4, 5 e 7 ou 1, 2, 3, 4,
6 e 8. Outras possuem a quadra,
como as combinações 1, 2, 3, 4, 7 e
8 e, ainda, 1, 2, 3, 6, 7, 8. Para calcular o total de apostas com quinas,
temos que multiplicar o total de
combinações cinco a cinco dos
números 1, 2, 3, 4, 5 e 6 (seis possibilidades) pelo total de combinações um a um dos números 7 e 8
(duas possibilidades). Concluímos, portanto, que 12 das 28 combinações apostadas contêm uma
quina.
Para o cálculo das quadras, multiplicamos o total de combinações
quatro a quatro dos números 1, 2,
3, 4, 5 e 6 (15 possibilidades) pelo
número de combinações dois a
dois dos números 7 e 8 (apenas
uma possibilidade). Conclui-se
que, por ter apostado oito números em um volante e ter acertado a
Sena, necessariamente o ganhador precisa ter acertado 15 quadras e 12 quinas, fato esse que não
depende mais da sorte.
José Luiz Pastore Mello é mestre em
ensino de matemática pela USP e professor do Colégio Santa Cruz.
E-mail: jlpmello@uol.com.br
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